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O Canto da Sibila é um auto litúrgico baseado numa composição de canto gregoriano de origem medieval, pertencente ao tempo do Natal, outrora muito conhecido no sul da Europa mas que atualmente só sobrevive na tradição dos Países Catalães. O canto representa uma profecia da "Sibila" que descreve o Fim dos Tempos, a segunda vinda de Cristo e o Juízo Final. Em 2010, o "Cant de la Sibil·la" de Maiorca foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
A versão mais antiga, datada dos séculos IX—X, é o chamado "Canto da Sibila Latina" ou "Judicii Signum". A sua letra incorpora fragmentos retirados de um texto em latim no livro De Civitate Dei, que Santo Agostinho traduziu, imperfeitamente, de um poema acróstico em grego com o incipit Ἱδρώσει γὰρ χθών, κρίσεως σημεῖον ὅτ' ἔσται (Hidrṓsei gàr khthṓn, kríseōs sēmeîon hót' éstai)[1][2] Esta versão serviu de inspiração para variantes distintas que surgiram num processo de transmissão e reinterpretação:
Em Portugal, embora nunca se tenham encontrado versões traduzidas em português, subsiste uma versão do canto latino proveniente da Sé de Braga.[2][5]
Desconhece-se a origem deste tipo de cantos. A versão original, um canto gregoriano em latim, é uma adaptação musical de uma profecia atribuída à Sibila Eritreia, originalmente escrita em grego mas traduzida para latim por Santo Agostinho. A melodia foi, aparentemente, fortemente influenciada pelo canto moçárabe (também chamado hispânico), tradicional na Península Ibérica.[6]
Foi bastante popular durante a Idade Média no sul da Europa e subsistem alguns manuscritos que comprovam essa sua dispersão pelos atuais Portugal, Espanha, França e Itália. Cópias musicadas surgem a partir do século IX mas o canto só deve ter sido comum nos templos depois do século XII. Não existem evidências de que tenha sido dramatizado por essa altura. Esta versão deu origem a diversas traduções e adaptações em vernáculo nos séculos seguintes. A sua interpretação foi proibida pelas autoridades eclesiásticas no século XVI de acordo com o Concílio de Trento, mas o declínio foi, na maioria dos países bastante lento visto que o "Canto da Sibila" era ainda interpretado, por exemplo, em Toledo por volta do século XVIII e na Sé de Braga até ao século XX. Só nos Países Catalães o canto sobreviveu até à atualidade, com destaque para a ilha espanhola de Maiorca.[2][3]
As primeiras adaptações para a língua catalã estão documentadas desde o século XIII. No mesmo século, deve ter chegado a Maiorca aquando da reconquista da ilha. No século XVI a proibição do Concílio de Trento foi inicialmente cumprida, contudo, o canto foi restaurado poucos anos depois, em 1575.[3] Hoje em dia as paróquias de Maiorca são os últimos locais que preservam uma tradição genuína do Canto da Sibila, recebendo por isso em 2010, da parte da UNESCO, a classificação como Património Cultural Imaterial da Humanidade.[3][7]
Segundo essa tradição sobrevivente, o auto é realizado na noite de 24 de dezembro no interior de grande parte das igrejas da ilha.[3]
A Sibila é tradicionalmente representada por um menino que canta sem acompanhamento instrumental (visto que estava vedado a mulheres o canto no interior dos templos e também não era autorizado o uso de instrumentos). Acompanhado de dois ou mais acólitos com velas, caminha até ao altar onde a “Sibila” faz reverência ao crucifixo e virando-se para a audiência começa o canto. Interlúdios musicais mais recentes, esses sim, com uso de polifonia e instrumentos, são frequentes. A “Sibila” segura na mão uma espada levantada enquanto canta e veste uma túnica, por vezes também uma capa e um chapéu.[3]
Sibila Latina | Sibila de Maiorca |
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Judicii signum: tellus sudore madescet | El jorn del judici parrà qui haurà fet servici. |
E caelo Rex adveniet per saecla futurus |
Jesucrist, Rei universal, |
Unde Deum cernent incredulus atque fidelis | |
Sic animae cum carne aderunt quas judicat ipse | |
Reicient simulacra viri cunctam quoque gazam | |
Inquirens taetri portas effringet Averni | |
Tradetur sontes aeterna flamma cremabit | |
Secreta atque Deus reserabit pectora luci | |
Eripitur solis jubar et chorus interit astris | |
Deiciet colles valles extollet ab imo | |
Jam aequantur campis montes et caerula ponti | |
Sic pariter fontes torrentur fluminaque igni | |
Orbe gemens facinus miserum variosque labores | |
Et coram hic Domino reges sistentur ad unum | |
Foram vários os grupos que realizaram gravações das diversas versões tanto na forma completa como fragmentária. Destacam-se a coleção de Jordi Savall com Montserrat Figueras e La Capella Reial de Catalunya que gravaram em 1989 e 1996 dois álbuns monumentais: "Cant de la Sibil·la" (com versões integrais da Sibila Latina, Sibila Provençal e Sibila Catalã) e "El Canto de la Sibilla II" (com versões integrais da Sibila Galaica e Sibila Castelhana).[9][10]
O "Canto da Sibila segundo a tradição bracarense" foi interpretado pelo grupo Vozes Alfonsinas.[6]
cuius vaticinii primus versus est Ἱδρώσει γὰρ χθών κρίσεως σημεῖον ὅτ' ἔσται
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