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Dicionário da língua portuguesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, popularmente denominado Dicionário Aurélio ou simplesmente Aurélio, é um dicionário do idioma português, editado no Brasil e lançado originalmente em fins de 1975, tendo vendido na primeira edição (versão completa) mais de um milhão de exemplares até 1987, data da segunda edição. A versão original resultou do trabalho de mais de três décadas do lexicógrafo e Imortal Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.[1]
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa | |
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Autor(es) | Aurélio Buarque de Holanda Ferreira |
Idioma | língua portuguesa |
País | Brasil |
Gênero | Dicionário |
Editora | Editora Positivo |
Formato | Livro/digital |
Lançamento | 2010 |
Páginas | 2 272 páginas |
ISBN | 978-85-385-419-81 |
A versão finalizada em 1986 e publicada em 1987 continha cerca de 115 243 vocábulos,[2][3] sendo "inframédia", na definição do próprio autor, já que o português falado no Brasil possui cerca de 400 mil palavras. Era publicado pela editora Nova Fronteira.[1]
Apesar das críticas que se lhe são feitas, o Aurélio tornou-se o dicionário padrão na sociedade brasileira, estabelecendo a norma linguística e lexicológica - mesmo que esta não tenha sido a intenção do autor;[4] a palavra "aurélio" chegou mesmo a se tornar um sinônimo para dicionário.[5]
Em fins de 2003 os direitos de edição foram vendidos para o Grupo Positivo.[6] A obra encontra-se em sua quinta edição, pela Editora Positivo.[7]
A confecção do léxico teve início ainda nos anos 1950, quando o poeta Manuel Bandeira convidou o então professor da Fundação Getúlio Vargas Aurélio Buarque para auxiliar na redação do "Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa", da Civilização Brasileira.[8]
Da equipe formada então faziam parte Joaquim Campelo Marques e Marina Baird Ferreira (esposa de Aurélio) a que se juntaram mais tarde Margarida dos Anjos, Stella Rodrigo Otávio Moutinho e Elza Tavares Ferreira que, junto ao próprio Aurélio, foram os autores da primeira edição.[8]
A intenção inicial era sua publicação em suplementos da revista O Cruzeiro, o que não ocorreu, e em 1966 a equipe foi contratada, sob a condição de concluir o trabalho em dois anos, pelo editor Abraham Koogan. A nova iniciativa também fracassa, fazendo com que os próprios colaboradores fundassem uma editora - a JEMM - com o fim específico de publicar o dicionário. Após sucessivos atrasos, disputas entre os dicionaristas, a iniciativa também não vingou, sendo então procurados outros parceiros capazes de custear a iniciativa. Instituições públicas e privadas negaram-se a participar da edição, como a editora José Olympio ou o Banco Itaú, além de instituições estatais.[8]
Com a cassação do político Carlos Lacerda, este se voltara para sua editora, a Nova Fronteira. Através da mediação do cronista Rubem Braga, Lacerda se interessa em publicar o dicionário. Com os lucros da venda do romance O Exorcista, de William Peter Blatty, finalmente teve o capital necessário para custear a primeira tiragem da obra, que veio a se revelar um sucesso editorial.[8]
Sua edição coincide com o período em que no país se dá preferência aos dicionários editados no Brasil, sobre aqueles publicados originalmente em Portugal. Nos primeiros dicionários brasileiros nota-se uma busca pela unificação nacional através do idioma, como nos léxicos da editora Globo da década de 1940: Dicionário Prático da Língua Nacional, de Vicente de Carvalho (1945) e o Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado, de Álvaro Magalhães, este último contando com a colaboração do Érico Verissimo; já no Aurélio essa não é a preocupação maior, embora estejam presentes exemplos da literatura recente, canções e uma busca pela representação de uma "língua viva", sofrendo influência dos meios de comunicação.[9]
O Aurélio passa, no fim do século XX, a incorporar vocábulos africanos, acompanhando o movimento de globalização, e de internacionalização da língua, que sucede ao período nacionalista.[9]
Após vinte e oito anos na editora Nova Fronteira, os direitos da obra foram vendidos no começo de dezembro de 2003 para o Grupo Positivo pela viúva de Aurélio Buarque, Marina Baird.[10]
A Positivo passou então a publicar todas as versões do Dicionário.[6] No começo de 2004, contudo, dois dos colaboradores (Joaquim Campelo Marques e Elza Tavares Ferreira) haviam judicialmente embargado a vendagem da edição feita pela nova editora, por não constarem seus nomes entre os coautores. A decisão, revogada posteriormente, manteve suspensa a distribuição de 21 mil exemplares da obra.[11]
Um dos objetivos da nova proprietária era dotar os produtos fabricados pelo ramo de computadores da holding - a Positivo Informática - do aplicativo como mais um atrativo aos seus produtos.[10]
A editora Positivo, quando obteve o direito do dicionário, suspendeu o pagamento de direitos autorais para os dois auxiliares de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, os lexicógrafos Joaquim Campelo e Elza Tavares, alegando que os auxiliares não são co-autores da obra. Desde 2004, os representantes dos auxiliares pedem uma indenização a editora, junto a justiça brasileira.[12]
O Aurélio ganhou versões digitalizadas ainda no fim do século XX, adaptando-se à popularização do computador. A primeira versão surgiu em 1999, em CD-ROM.[13]
A primeira versão para internet se deu em setembro de 2001, voltada para consultas feitas pelos assinantes do portal UOL.[14]
Em 2005, por exemplo, uma versão eletrônica foi incorporada a um escâner manual fabricado pela detentora dos direitos de edição da obra; o pequeno aparelho, pesando cerca de 100g, trazia toda a terceira edição da obra que, em livro, pesa cerca de 4 kg.[15]
Outros produtos, como o leitor de e-books Alfa, também fabricado pela holding Positivo e lançado em dezembro de 2010, trazem o Aurélio incorporado.[16] Um jogo eletrônico - o Aurélio Mania - também faz parte dos produtos com a marca do Dicionário.[17]
Também naquele ano foi lançada uma versão compatível com iPhone, o primeiro dicionário de português completo feito para celular; atualizado segundo o Acordo Ortográfico de 1990, tem 78MB de tamanho e funciona off-line.[18]
Quando foi lançada a versão eletrônica em CD-ROM, em 1999 o Aurélio passou a contar com 345 mil locuções e verbetes,[19] e dezenas de milhares de citações por mais de mil e quatrocentos autores.[13]
Esta versão possui recursos de consulta que a forma impressa não permite, tais como a interatividade e os recursos multimídia; isto faz com que a opção eletrônica ganhe mais adeptos que a primeira. Há maior liberdade do leitor, por meio dos recursos de hipertexto, ao passo em que permite maior velocidade na obtenção das informações.[13] De fato, no Prefácio da versão digital a editora diz que "a versão eletrônica traz novas funções que facilitam ainda mais a consulta e multiplicam as possibilidades de acesso à informação: pesquisa reversa total, pesquisa de categorias gramaticais, pesquisas no âmbito de locuções, etimologias, exemplos e abonações e elementos de composição, além de uma nova interface, mais simples, mais ágil, mais fácil de usar."[20]
A edição eletrônica permite os seguintes tipos de pesquisa: de palavra inteira, de semelhantes, anagramas, conjugação de verbos, entre outras, ressaltando-se a "pesquisa reversa", feita clicando-se sobre uma palavra contida na definição, abrindo então uma nova janela que traz o seu significado.[13]
Quando da venda dos direitos autorais para o Grupo Positivo, com sede em Curitiba, foi lançada uma nova versão do CD que, entretanto, não apresentou grandes mudanças em relação àquele editado pela Nova Fronteira. Intitulado Novo Dicionário Aurélio - versão 5.0 - edição revista e atualizada, trazia como novidades a apresentação e alguns recursos técnicos, como a compatibilidade com o editor de textos Microsoft Word que permite novas consultas, tais como sinônimos e os filtros, com pesquisa nas categorias gramaticais.[6]
Além das edições da versão integral do dicionário, outras tantas procuraram atingir públicos distintos.
Na Bienal do Livro de São Paulo de 2002 o cartunista Mauricio de Sousa anunciou o lançamento de uma edição do Aurélio contendo ilustrações da Turma da Mônica; na ocasião a viúva do autor declarou que "Dicionário é uma coisa séria e chata. Com os desenhos, a criança sentirá prazer em consultá-lo.".[21] O lançamento só veio a ocorrer no ano seguinte, durante a 11ª edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro; a obra possui duas partes, sendo a primeira com os personagens de Mauricio explicando a importância das palavras, e a segunda com um glossário de cerca de mil entradas; foi lançado ainda pela Nova Fronteira.[22]
Em 2011 a Positivo lançou uma nova edição do Aurélio voltada para o público adolescente; traz como novidades a inserção de novos termos oriundos da internet, tais como tuitar, blogar ou bullying, além de uma capa com motivos coloridos, para agradar ao público alvo.[23]
Em 1977 foi lançado o Minidicionário Aurélio que vendeu, em razão de seu menor preço e por ter sido distribuído pelo Governo Federal nas escolas públicas, 3 milhões 950 mil exemplares da primeira edição. A versão média do dicionário foi lançada em 1980 e, com vendas atingindo 100 mil exemplares, deixou de ser publicada.[1]
Somadas, as vendas das três versões na primeira edição alcançaram cinco milhões e duzentos mil exemplares até 1987, data da segunda edição, o que fez da obra a segunda mais vendida no Brasil no período, perdendo somente para a Bíblia, que vendeu cerca de 11 milhões de exemplares.[1]
Dos diversos dicionários com versões reduzidas e ditas "escolares", o Ministério da Educação brasileiro analisou vinte e três disponíveis no mercado, em 2005, recomendando (com ou sem ressalvas) dezenove; apenas o MiniAurélio Século XXI Escolar mereceu a classificação de "recomendado com distinção".[24]
Apesar de ter inovado na adoção dos brasileirismos, a fiabilidade do "Aurélio" e outros, como o Houaiss, é questionada neste particular; tais léxicos, em particular o Aurélio, adotam delimitações regionais seguindo os estados (ex: regionalismo da Bahia) ou regiões.[25]
Não há, contudo, precisão científica na aceitação desses termos; faltam estudos de campo, delimitação objetiva e controle dos parâmetros para o que seja brasileirismo, ressaltando-se que foram utilizadas fontes muitas vezes de qualidade científica questionável.[25]
De igual modo, apresentam "ausência de informações sobre a macroestrutura e a microestrutura - objetivos do dicionário, público a que se destina a obra, extensão da nomenclatura, teoria lexical adotada, estrutura do verbete (tipo de definições, fontes das abonações) e, particularmente, os critérios e as fontes utilizadas para a classificação dos regionalismos."[25]
Na versão eletrônica de 1994 havia 24.498 entradas de regionalismo ou brasileirismo no Aurélio - cerca de 18% do total - mas a própria condição do que seja o brasileirismo não é bem definida. Isto se agrava com a falta de estudos técnicos, que levem em consideração as dimensões do país e seus movimentos migratórios.[25]
O também lexicógrafo Celso Luft dizia que nem Aurélio nem Antônio Houaiss possuíam formação linguística que os habilitasse a fazer um dicionário ideal.[4]
Várias outras críticas se fazem ao Aurélio. Antônio José Sandmann, em artigo de 1990, relata que o autor comete omissões na morfologia, como no caso do verbete "-ada", em que deixa de especificar sua origem ou não lhe dá a semântica exata em entradas como "churrascada", "cervejada", etc.[4] Dentre várias observações, Sandmann também indica erros, como nas entradas "devassa" e "baixa", que são deverbais de devassar e baixar, e não formas femininas de devasso e baixo, dentre outros.[4]
Maria Teresa Camargo Biderman, dentre inúmeras críticas teóricas, observa que muitas vezes o dicionário não atenta para definições acessíveis ao público leigo, ao qual se destina; isto fica patente em termos técnicos, quando se tem a impressão de que o significado foi escrito por especialista ou copiado de dicionário técnico-científico.[4]
A mesma autora cita exemplos de imprecisão e de desconsideração com o entendimento junto ao público, praticada nalgumas entradas; fazendo um comparativo com o dicionário Salamanca de espanhol, ela compara as seguintes entradas, com base na segunda edição da obra, demonstrando como o público-alvo pode ser melhor informado:[4][nota 1]
A autora conclui, porém, ressaltando que a obra contém méritos, suficientes para justificar o sucesso que obteve.[4]
Também ressalta Claudia Zavaglia que, mesmo nos exemplos ou entradas, não faz referência aos provérbios, especialmente aqueles referentes a cores - tais como "de noite todos os gatos são pardos", peculiares ao idioma.[26] Outro estudo, feito nos estrangeirismos colecionados na versão eletrônica do léxico, concluiu que faltavam critérios confiáveis para sua inserção, sendo apreciadas cento e vinte duas entradas.[27]
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