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Fora da lei brasileiro conhecido como "Rei do Cangaço" Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o Rei do Cangaço[1] (Vila Bela, 4 de junho de 1898[nota 1] – Poço Redondo, 28 de julho de 1938), foi um cangaceiro[2][3] brasileiro que atuou na região do sertão nordestino do Brasil. Segundo o biógrafo Cicinato Ferreira Neto, o apelido "Lampião" foi lhe dado devido ter facilidade em manejar o rifle, "que, de tanto atirar, mais parecia um candeeiro aceso nas escuras noites da caatinga”.[4]
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Lampião | |
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Nome completo | Virgulino Ferreira da Silva |
Nascimento | 4 de junho de 1898[nota 1] Vila Bela, Pernambuco |
Morte | 28 de julho de 1938 (40 anos) Poço Redondo, Sergipe |
Nacionalidade | brasileiro |
Cônjuge | Maria Bonita (c. 1929–38) |
Filho(a)(s) | Expedita Ferreira |
Ocupação | cangaceiro |
Lampião foi provavelmente o líder banditista de maior sucesso do século XX.[2] Por parte das autoridades este simbolizava a brutalidade, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população sertaneja, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra. Por conta disso, suas façanhas o transformaram em um herói popular no Brasil, principalmente na região Nordeste do país, rendendo-lhe uma reputação equivalente ao contraventor norte-americano Jesse James e ao revolucionário mexicano Pancho Villa.[3]
Há controvérsia sobre a data de nascimento de Lampião. As mais citadas são:
A questão de sua data de nascimento torna-se ainda mais relevante no contexto em que se instituem datas comemorativas em seu nome (18 de julho),[7]:p.350 e 7 de julho, que corresponde ao dia do seu registro civil, como o "Dia do Xaxado", pelo projeto da Câmara Municipal de Serra Talhada.[6][9]
Nascido na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, no semiárido do estado de Pernambuco, mais precisamente no sítio Passagem das Pedras, foi o terceiro filho de José Ferreira dos Santos e Maria Sucena da Purificação.
Até os 21 anos de idade trabalhou como artesão. Virgulino era alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns para a região sertaneja e pobre onde ele morava. Uma das versões a respeito de seu apelido é que sua capacidade de atirar seguidamente, iluminando a noite com seus tiros, fez com que recebesse o apelido de lampião.[10]
Sua família travava uma disputa com outras famílias locais, geralmente por limites de terras, até que seu pai foi morto em confronto com a polícia em 1919. Virgulino jurou vingança, e junto de mais dois irmãos, passou a integrar o grupo do cangaceiro Sinhô Pereira.[10]
Em 1922, Sinhô Pereira abandonou o cangaço e passou a liderança de seu bando para Lampião.[11] A primeira ação do bando comandado por Lampião foi invadir a cidade de Belmonte em Pernambuco, e assassinar o coronel e comerciante Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz.[12] Após o ataque em Belmonte, o bando de Lampião foi visto entrando no estado de Alagoas.[13] As ações do bando de Lampião passaram a ocorrer além das divisas de Pernambuco, chegando aos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de forma que em janeiro de 1923, os chefes de polícia destes estados se reuniram pela primeira vez para discutir a criação de uma força-tarefa conjunta de combate ao cangaço.[14]
Lampião e seu bando cruzaram a divisa de Alagoas com Pernambuco em junho de 1923 e atacaram o povoado de Belém do São Francisco, próximo a Salgueiro, roubando mercadorias no valor de um conto de réis. Além disso, sitiaram Salgueiro provocando a paralisação do comércio e o desabastecimento da cidade.[15] Posteriormente, atravessaram a divisa estadual e ingressaram no estado do Ceará, onde o bando possuía apoio político.[16] Em julho, Lampião atravessa Pernambuco e invade o estado de Alagoas saqueando várias fazendas.[17] Inicialmente as autoridades reagiram tentando perseguir o bando de Lampião a cada relato de sua presença, porém às custas de deixar cidades menores do interior nordestino desguarnecidas. Isso facilitava ataques, quando Lampião despistava a polícia através de mensagens de telégrafo noticiando sua presença em certas cidades que mobilizam grandes contingentes enquanto ele atacava cidades menos guarnecidas.[18]
Com isso, os governos da Paraíba e Pernambuco (posteriormente os demais estados aderiram) criaram forças policiais móveis. Chamadas popularmente de "Volantes", essas forças passaram a ter permissão para entrar em estados vizinhos em busca de Lampião e seu bando. Em uma dessas missões no mês de julho de 1925, uma força volante da Paraíba composta de dezenove homens comandados pelo sargento José Guedes combateu parte do bando de Lampião, formado por quinze cangaceiros, na fazenda Serrote Preto (localizada entre Pernambuco e Alagoas). No combate foi morto, Levino, irmão de Lampião.[19]
Além do grupo principal, Lampião tinha o comando de diversos subgrupos paralelos, designando outros cangaceiros à frente, a exemplo de Corisco e Antonio de Engracia.
Em 1930 se junta afetivamente a Maria Bonita na Bahia. No mesmo ano, Lampião aparece no jornal The New York Times. Em 1936, seu cotidiano na caatinga é fotografado e filmado por Benjamin Abrahão Botto.
Durante quase 20 anos, Lampião viajou com seu bando de cangaceiros, todos a cavalo e em trajes de couro, chapéus, sandálias, casacos, cintos de munição e calças para protegê-los dos arbustos com espinhos típicos da vegetação caatinga. Para proteger o "capitão" (como Lampião era chamado) e realizar ataques a fazendas e municípios, todos usavam sempre um poder bélico potente. Como não existiam contrabandos de armas para se adquirir, as mesmas eram, em sua maioria, roubadas da polícia e de unidades paramilitares. A espingarda Mauser e uma grande variedade de pistolas semiautomáticas e revólveres também eram adquiridos durante confrontos. A arma mais utilizada era o rifle Winchester. O bando chamava os integrantes das volantes de "macacos" - uma alusão ao modo como os soldados fugiam quando avistavam o grupo de Lampião: "pulando".[20]
Lampião e seu bando atacaram fazendas e cidades em sete estados além de praticar roubo de gado, saques, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações e estupros. Sua passagem causava terror e indignação nos moradores, fato citado amplamente na imprensa local:
“Não é uma vergonha o que se está passando ou melhor dizendo continua a ocorrer em o nordeste brasileiro? E os poderes públicos, que garantia offerecem ao sertanejo infeliz e batido por todas as calamidades? Até os magistrados já não escapam às sortidas de Lampeão. (…) Eis porque o sertanejo tem sempre nos lábios uma expressão de descrença quando se lhe promette a applicação de providencias no sentido de desinfestar o sertão das hordas de cangaceiros horríveis que tornam a região a mais infeliz do mundo”.[21]
Apesar disso, Lampião e seu bando eram frequentemente protegidos por coiteiros, conhecidos como fazendeiros, pequenos sitiantes ou mesmo autoridades locais que ofereciam abrigo e alimentos aos bandos por um curto espaço de tempo nos limites de suas terras, facilitando o deslocamento dos cangaceiros pelo Nordeste e sua fuga das forças volantes do Estado.
Sua companheira, Maria Gomes de Oliveira', conhecida como Maria Bonita conforme apelidada pela imprensa, juntou-se ao bando em 1930, sendo a primeira das mulheres a integrá-lo.
Lampião e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira Nunes, nascida em 13 de setembro de 1932. O casal teria tido ainda dois natimortos.
Era devoto de Padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, no ano de 1926, em Juazeiro do Norte. Na ocasião, o padre sugeriu que Lampião largasse o cangaço, este, porém, recusou. [22]
No dia 27 de julho de 1938, o bando se acampou na Fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão silenciosamente que nem os cães perceberam. Por volta das cinco horas da manhã do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o ofício e se preparavam para tomar café; quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.
Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra da Silva e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.
O ataque durou cerca de vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro e as joias.
A força militar comandada pelo então Tenente João Bezerra da Silva conhecida como à época volante e posteriormente renomeada como a atual PMAL, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepou a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois também tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete (2) e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro. "Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal."[23] Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados pela creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.
Percorrendo os estados nordestinos, o Coronel João Bezerra da Silva exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumados cuidadosamente na escadaria da Prefeitura, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografados. Depois, foram levados a Maceió e ao sudeste do Brasil.
No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes. Depois de medidas, pesadas e examinadas, os criminalistas mudaram a teoria de que um homem bom não viraria um cangaceiro, e que este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificadas como pura e simplesmente, normais.
Do sudeste do País, apesar do péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Antropológico Estácio de Lima localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.
Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno a seus parentes. O economista Sílvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, em especial, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de uma vez por todas, a macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro de seu pai, a sepultura foi violada, o corpo foi exumado, e sua cabeça e braço esquerdo foram cortados e colocados em exposição no Museu Nina Rodrigues.
O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do Clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.[24]
"Mulher Rendeira" é um antigo tema popular, muito cantado nos sertões nordestinos ao tempo de Lampião, e cuja origem é controversa. Segundo a versão mais conhecida do padre Frederico Bezerra Maciel, regionalista pernambucano e biógrafo de Lampião, o mesmo teria escrito os versos da versão original da música.[35] A ele se acrescenta Câmara Cascudo, segundo o qual Lampião teria feito escrito a letra em homenagem ao aniversário de sua avó d. Maria Jocosa Vieira Lopes ("Tia Jacosa") em 15 de setembro, que era uma rendeira.[36][37] Compôs a música entre setembro de 1921 e fevereiro de 1922, quando apresentou a música em Floresta (Pernambuco).[36] A música tornou-se praticamente um hino de guerra dos cangaceiros do bando de Lampião, tendo inclusive relatos de que o seu ataque a Mossoró em 1927 teria sido feito com mais de 50 cangaceiros cantando "Mulher Rendeira".[36]
Por isso foi incluído no premiado filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto, que o celebrizou no país e no exterior. Na ocasião, sofreu uma adaptação do compositor Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento), autor de outras músicas do filme, que manteve a sua estrutura original. Há também uma gravação de um antigo cabra do bando de Lampião, o cangaceiro Volta Seca.[38]
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