Talibã
movimento fundamentalista e nacionalista islâmico / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Talibã (também transliterado Taleban, Taliban ou Talebã, do pachto: طالبان, transl. ṭālibān, "estudantes") é um movimento fundamentalista e nacionalista islâmico que se difundiu no Paquistão e, sobretudo, no Afeganistão, a partir de 1994 e que, efetivamente, governou cerca de três quartos do Afeganistão entre 1996 e 2001, apesar de seu governo ter sido reconhecido por apenas três países: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Paquistão.[43][44] Seus membros mais influentes eram ulemás (isto é, teólogos) em suas vilas natais. O movimento desenvolveu-se entre membros da etnia pachtun, porém também incluía muitos voluntários não afegãos do mundo árabe, assim como de países da Eurásia e do Sul e Sudeste da Ásia.
Talibã | |
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Participante na Guerra Civil do Afeganistão | |
Bandeira do Talibã, com a chahada | |
Datas | 1994–1996 (milícia) 1996–2001 (governo) 2004–2021 (insurgência) 2021–presente (governo) |
Ideologia | |
Organização | |
Líder | Hibatullah Akhundzada (atual líder) Mullah Muhammad Rasul (facção dissidente) |
Orientação religiosa |
Deobandi islam |
Grupos | Pachtuns[9][10] |
Sede | |
Área de operações |
Sob o controle do Talibã
Sob o controle da resitência Panjshir |
Efetivos | 45 000 (2001 est.)[15] 11 000 (2008 est.)[16] 36 000 (2010 est.)[17] 60 000 (2014 est.)[18] |
Relação com outros grupos | |
Aliados | Aliados Estatais
Grupos não-estatais
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Inimigos | Oponentes Estatais
Outros grupos oponentes |
Conflitos | |
Guerra Civil Afegã (1992–1996) Guerra Civil Afegã (1996–2001) Guerra do Afeganistão (2001–2021) Conflito Talibã–Estado Islâmico | |
Sitio web: alemarahenglish.af |
É, oficialmente, considerado como organização terrorista pela Rússia,[45] União Europeia, Estados Unidos, Canadá,[46] Emirados Árabes Unidos[47] e Cazaquistão.[48]
Por quase duas décadas, seu líder foi Mohammed Omar, considerado um dos mais influentes jihadistas do mundo. Ele liderou a luta para estabelecer os Talibã como a principal força política e militar no Afeganistão na década de 1990, e depois liderou a insurgência contra tropas ocidentais no território afegão. Quando morto, em 2013, foi sucedido por Akhtar Mohammad Mansour.[49] Este, contudo, também foi morto em um ataque aéreo por forças lideradas pelos Estados Unidos em maio de 2016.[50] Foi sucedido por Mawlawi Hibatullah Akhundzada, que assumiu, em 25 de maio, o controle operacional completo do grupo.[51]
Em 17 de agosto de 2021, após duas décadas afastado do poder, o Talibã retomou o controle do Afeganistão ao conquistar Cabul e derrubar o governo central afegão. Em seguida um novo Emirado Islâmico foi proclamado.[52]
Durante a Invasão Soviética do Afeganistão (1979-1989), o governo dos Estados Unidos, através da chamada Operação Ciclone, nome em código do programa da CIA, armou os mujahidins do Afeganistão.[53] Foi uma das mais longas e dispendiosas operações da CIA já realizadas.[54] Entre 1987 e 1989, os serviços secretos do Paquistão (o ISI) e a CIA operavam juntas, armando as milícias que combatiam as tropas soviéticas.[55]
Cerca de 90 000 afegãos, incluindo Mohammed Omar, foram treinados pelo ISI do Paquistão durante a década de 1980.[56]
De 15 de maio de 1988 até 15 de fevereiro de 1989, o exército soviético retirou as suas tropas do Afeganistão, tendo previamente negociado cessar-fogo com os comandantes dos mujahidins, para garantir uma passagem segura.[57]
Após a retirada russa, os vários grupos armados combateram-se entre si e também contra o governo comunista instalado de Mohammad Najibullah, que continuou durante algum tempo a ser apoiado pela Rússia. Quanto aos mujahidins, o Paquistão continuava a fornecer-lhes armamento.[58]
Depois que os vários grupos de resistência contra a ocupação soviética tomaram Cabul, em 1992, houve um agravamento das lutas internas e guerra civil.
No Outono de 1994, 40 a 50 estudantes muçulmanos, insatisfeitos com o caos do país, reuniram-se em Sansigar, a cerca de 40 quilómetros de Khandahar, com as duas principais figuras, o Mulá Abdul Salam Zaeef e Mohammed Omar, com a ideia de desarmar os bandos, acabar com os crimes e estabelecer a Xaria. Nomearam Mohammed Omar como seu comandante. Assim foi o começo modesto dos Taliban; na noite seguinte, surpreendentemente, já a BBC (em pachtun) anunciava o encontro. O ISI paquistanês estava preocupado com a instabilidade no norte, e vendo a oportunidade de acabar um a instabilidade e instalar um possível fantoche, apoiou o nascente grupo.[59]
Os Talibã surgiram como uma alternativa caracterizada pela predominância pachtun, o grupo étnico maioritário no país e pelo rigor religioso extremo, criando na população expectativas de que acabaria com o constante estado de guerra interno e com os abusos dos senhores da guerra. Ao redor de Khandahar, numerosos bandos armados tinham estabelecido checkpoints nas estradas, só permitindo a passagem após o pagamento de uma taxa e cometendo ocasionalmente outros crimes.[60]
A primeira ação armada dos Taliban foi o estabelecimento do seu próprio checkpoint na estrada perto da vila de Hawz-i-Mudat. O grupo tinha algumas armas apenas, uma velha motocicleta russa e quase nenhum dinheiro, e o movimento poderia ter morrido no berço, não fosse o grande apoio da população local. Dentro de poucos dias já eram em número de mais de 400 combatentes, e começaram a acabar com os checkpoints mais próximos.[60]
Em 12 de Outubro de 1994, um grupo de 200 Talibã assumiu, em cerca de quinze minutos, o controle de Spin Boldak, na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, um importante posto alfandegário no lucrativo comércio de camiões.[60] Após essa vitória, o Paquistão intensificou a ajuda ao movimento, principalmente por meio de Nasrullah Babar, um integrante da etnia pachtun que era Ministro do Interior. Dentre os motivos deste apoio aos Talibã, estava a crença na sua capacidade de restaurar a ordem nas estradas afegãs e de estabelecer um governo estável, que viabilizaria a construção de um possível gasoduto, podendo ser seu aliado em suas disputas contra a Índia.[61]
Antes de apoiar o Taliban, o Serviço Secreto Paquistanês apoiava Gulbuddin Hekmatyar, o "Carniceiro de Cabul",[59] um líder pachtun e partidário do fundamentalismo islâmico, mas que não conseguiu estabelecer controle do país.[62]
Conquista de Kandahar
Já em novembro de 1994, os talibãs atacavam Kandahar, a segunda cidade mais importante do Afeganistão, que conquistaram ao fim de três dias com pouquíssimas baixas. Naqib, um dos comandantes da cidade, passou para o lado do grupo com os seus 20 mil homens. Nisso, os talibãs tomaram posse dum importante arsenal, que incluía dezenas de tanques, veículos blindados, seis caças MiG-21, e seis helicópteros, deixados para trás pelos russos.[63][64]
Desde logo os primeiros decretos dos talibãs em Kandahar visaram as mulheres: proibidas de trabalhar fora de casa; forçadas a usar burcas; proibidas de frequentar as escolas, e impedidas de ser vistas por médicos masculinos, entre outras proibições.[65]
Em Fevereiro de 1995, os seus efectivos somavam cerca de 25 mil combatentes.[66]
Tomada de Herat
Em 5 de Setembro de 1995, o movimento conquista, também com pouca resistência, a cidade de Herat.
A população de Herat, a primeira cidade de língua farsi capturada pelos talibãs, era mais sofisticada e religiosamente liberal do que os talibãs estavam acostumados. A cidade, após a queda do regime pró-soviético, tinha sido governada por Ismail Khan, desde 1992, e tinha-se mantido em relativa paz no meio do conflito. A população escolar era de cerca de 21 mil estudantes femininas para 23 mil estudantes masculinos. A maior parte dos professores eram mulheres, que também ensinavam os rapazes. Culturalmente e linguisticamente, Herat nada tinha a ver com os Taliban — eram, além do mais, maioritariamente xiitas.
Os invasores aplicaram imediatamente a Xaria, confinando as mulheres às suas casas e fechando as escolas femininas. Segundo a AFP, em outubro desse ano os Taliban asseguraram a um funcionário das Nações Unidas que "a educação feminina receberá a devida atenção, dentro da estrutura islâmica, nas áreas sob o seu controle".[67][68]
Tomada de Cabul
Subiram ao poder depois de derrotar o presidente Burhanuddin Rabbani e seu chefe militar, Ahmad Shah Massoud, tendo ocupado a capital, Cabul, em 27 de Setembro de 1996, após meses de bombardeamentos desde o inverno de 1995. Violando a imunidade diplomática do complexo da ONU, onde o ex-presidente comunista Mohammad Najibullah e seu irmão estavam refugiados, os Taliban entraram, espancaram e torturaram os dois, castraram o antigo presidente, arrastaram-no atrás dum jipe pelas ruas e finalmente mataram-no a tiro. O irmão foi estrangulado, e os dois cadáveres deixados pendurados em postes na rua.[69]
Em 2000, o governo Taliban destruiu com machados cerca de 2 750 obras de arte antigas no Museu Nacional de Cabul, porque retratavam seres vivos, o que "ofendia seu conceito de Alá". A equipe de demolição foi liderada pelo ministro da Informação e Cultura e pelo ministro das Finanças, segundo o Los Angeles Times. Um guia turístico de 1974 é tudo o que resta para documentar os objectos destruídos.[70]
Logo após tomar Cabul, os Taliban impuseram a sua versão do sistema islâmico. Todas as mulheres foram proibidas de trabalhar, o que provocou imediatamente o caos, pois um quarto dos serviços civis de Cabul, todo o ensino e grande parte dos serviços de saúde dependiam das mulheres. As escolas femininas foram fechadas, afectando cerca de 70 mil estudantes. As mulheres foram obrigadas a tapar-se da cabeça aos pés.
Viúvas de guerra foram impedidas de ganhar o seu sustento e das famílias. A Rádio Cabul foi renomeada Radio Xaria. Todos os dias traziam novas proibições. Cabul era uma cidade sob ocupação.[71]
Massacres de Mazar-E-Sharif
Em Maio de 1997, os Taliban tinham invadido pela primeira vez Mazar-e-Sharif, a única grande cidade controlada pelas forças adversárias, conquistando-a durante 4 dias, tendo sido expulsos. Nesta ocasião, foram executados sumariamente, segundo relatos, cerca de dois mil prisioneiros talibã.[72]
Em 8 de Agosto de 1998 voltaram a tentar, exercendo uma terrível vingança. Após conseguirem tomar a cidade, no que foi descrito como um "frenesim assassino", percorreram as ruas atirando contra tudo o que se movesseː homens, mulheres, crianças e até animais. Durante seis dias, não foi permitido sepultar os mortos; os cadáveres apodreciam nas ruas.[72][73]
Nos dias que se seguiram, as forças dos Talibã realizaram uma busca sistemática de membros masculinos das etnias hazara, tadjique e uzbeque na cidade. Os hazaras, eram xiitas de língua persa, e foram particularmente visados, considerados kafir. Também foram mortos oito funcionários iranianos no consulado iraniano na cidade e um jornalista iraniano. Milhares de homens de várias comunidades étnicas foram detidos primeiro na cadeia superlotada da cidade e depois transportados em camiões fechados para outras cidades, incluindo Shiberghan, Herat e Kandahar, muitas vezes chegando mortos ao destino. A Human Rights Watch acredita que o número de vítimas ultrapassou dois mil; houve relatos de que mulheres e crianças teriam sido violadas e raptadas durante a conquista.[72]
A 12 de Agosto de 1998, os Talibãs queimaram toda a colecção de 55 000 livros de uma das mais belas bibliotecas públicas do Afeganistão. Pertencente à Fundação Nasser Khosrow, manuscritos datados de mais de dez séculos, incluindo um exemplar de Alcorão com cerca de 1000 anos, estavam expostos ao lado de muitos autores ocidentais. O movimento usou RPG (lança granadas) para levar a cabo a destruição completa.[74]
Depois de implementar um rigoroso regime islâmico e surpreender o mundo com algumas ações mais extremas, procederam a destruição dos Budas de Bamiyan (Patrimônio da Humanidade), que, depois de sobreviver quase intactos durante 1 500 anos, foram destruídos com dinamite e disparos de tanques. Em março de 2001, os dois maiores Budas foram demolidos em alguns meses de bombardeio pesado. O governo islâmico do Talibã criticou a UNESCO e as ONGs do exterior pela doação de recursos para reparar essas estátuas quando haveria muitos problemas urgentes no Afeganistão e decretou que as estátuas eram ídolos e, portanto, contrárias ao Alcorão.[75]
A maioria dos Taliban eram da etnia Pashtun, e a sua ideologia era uma mistura de religião com as normas pashtunwali, que lhe eram anteriores. A sua progressão militar foi facilitada enquanto se deu entre populações da sua etnia, mas dificultada quando encontrou outros grupos étnicos, como os Tajiques (29% da população), Uzebeques (9%) e os Hazaras (9%), com diferentes culturas e versões diferentes do Islão.[76]
James Fergusson pensa que foi a vontade de submeter o norte não Pashtun que desencadeou a terrível violência que se seguiu, e que no interior do movimento alguns pensavam que os Taliban se deveriam ter restringido aos territórios dos Pashtuns.[77]
O primeiro grande revés do grupo tinha sido certamente em Mazar-e-Sharif, em 1997, onde após apenas quatro dias um levantamento popular os expulsou. A reconquista, em 1998, foi um dos piores massacres da guerra, com caça aos Hazaras, xiitas, portanto infiéis aos olhos dos Taliban. Os Hazaras continuaram a ser alvo de limpeza étnica/religiosa durante todo o conflito.[73][78]
O movimento Taliban, apesar do seu começo idealista, transformou-se em pouco tempo em apenas mais um bando de senhores da guerra, semelhante aos que tinha combatido. As ligações do grupo ao governo do Paquistão e aos seus grupos religiosos de direita religiosa eram cada vez mais óbvias. Alegadamente, tropas paquistanesas combatiam lado a lado com os Taliban, assim como um grupo de militantes árabes sob o comando de Osama Bin Laden. Milhares de estudantes das madrassas paquistanesas acorriam ao Afeganistão para se juntar ao movimento.[79]
Controlando noventa por cento do Afeganistão por cinco anos, o regime talibã, que se autointitulava o "Emirado Islâmico do Afeganistão", ganhou, em 1997, o reconhecimento diplomático de apenas três países: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.[80]
Os talibãs foram condenados internacionalmente pela aplicação severa da Xaria, que resultou no tratamento brutal de muitos afegãos, especialmente as mulheres.[81] Os talibã fecharam todas as escolas para o sexo feminino, proibiram as mulheres de trabalhar fora de casa, impuseram-lhe o uso da burca, proibiram a televisão, a maior parte dos desportos e actividades recreativas, e ordenaram que todos os homens usassem barbas.[82]
Durante o governo de 1996 a 2001, os Taliban e seus aliados cometeram massacres contra civis afegãos, negaram o fornecimento de alimentos a 160.000 civis e conduziram uma política de terra arrasada, queimando vastas áreas de terra fértil e destruindo dezenas de milhares de lares.[83][84][85] Segundo as Nações Unidas, os Taliban e seus aliados foram responsáveis por 76% das baixas civis afegãs em 2010, 80% em 2011 e 80% em 2012.[86][87] Os Taliban também destruíram inúmeros monumentos, incluindo os famosos Budas de Bamiyan, com 1500 anos de idade.[75]
A ideologia dos Taliban foi descrita como uma combinação de uma forma "inovadora" da lei islâmica — sharia — baseada no fundamentalismo Deobandi e o islamismo jihadista salafista de Osama bin Laden[88] com as normas culturais e sociais pashtun conhecidas como Pashtunwali.
A maioria dos membros do grupo Talibã cresceram em campos de refugiados no Paquistão e foram educados em madraças, onde também aprenderam táticas de guerrilha.
A mídia informou que o Talibã deram refúgio a Osama bin Laden. Após o ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova York, as forças dos Estados Unidos argumentaram que, como o Afeganistão teria decidido não entregar Bin Laden, o país seria atacado. Assim, derrubou-se o regime talibã e favoreceu-se, com o apoio de outros países, a instalação do governo liderado por Hamid Karzai.[carece de fontes?]
A facilidade da derrubada dos Talibã levou à tentação dos Estados Unidos de invadir o Iraque, um país designado como parte do chamado "Eixo do Mal", pelo presidente estadunidense George W. Bush. No entanto, após a invasão do Iraque e a posterior estagnação do sucesso internacional das forças de ocupação no Iraque, o Talibã recuperou a força, obteve um certo nível de controle político e aceitação na região de fronteira com o Paquistão e iniciou uma insurgência contra os Estados Unidos e contra o governo afegão constituído após as eleições gerais. Assim, passou a utilizar os mesmos métodos da resistência no Iraque, incluindo emboscadas e atentados suicidas contra as tropas ali estacionadas dos países europeus e dos Estados Unidos..[carece de fontes?]
Os Talibã têm-se reagrupado desde 2004 e revivido como um movimento de insurgência forte, regido pelos Pashtuns locais e empreendendo uma guerra de guerrilha contra os governos do Afeganistão, do Paquistão e as tropas da OTAN, lideradas pela Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF).[89] O movimento é composto principalmente por membros pertencentes a tribos da etnia pashtun,[90] juntamente com voluntários de países islâmicos próximos como uzbeques, tadjiques, chechenos, árabes, punjabis e outros.[91][92][93] Opera no Afeganistão e Paquistão, sobretudo em torno das regiões da Linha Durand. Os Estados Unidos afirmam que a sua sede é em Quetta (ou nas proximidades), no Paquistão e que o Paquistão e o Irã fornecem apoio ao grupo,[94][95][96][97] apesar de ambas as nações negarem isso.[98][99]
O mulá Mohammed Omar, na clandestinidade, liderou o movimento entre 1994 e 2013.[100] Os comandantes originais de Omar foram "uma mistura de ex-comandantes de pequenas unidades militares e professores de madraça",[101] enquanto que a sua linha de soldados é composta, principalmente, por refugiados afegãos que estudaram em escolas religiosas islâmicas no Paquistão. Os talibãs receberam um treinamento valioso, suprimentos e armas do governo paquistanês, em especial do Inter-Services Intelligence (ISI),[102] e muitos recrutas das madraças dos refugiados afegãos no Paquistão, principalmente aqueles estabelecidos pelo Jamiat Ulema-e-Islam (JUI).[103] Segundo o governo afegão, em uma declaração feita em julho de 2015, Omar teria morrido no Paquistão, sob circunstâncias não claras, em algum período em 2013.[104] Dois anos depois, após a confirmação de sua morte, foi oficialmente sucedido por Akhtar Mohammad Mansour, que garantiu que o Talibã continuaria a lutar contra as potências da OTAN e o governo central do Afeganistão para estabelecer um estado islâmico na região.[105] Porém, Mansour acabou falecendo também, em 21 de maio de 2016, vítima de um ataque de uma aeronave não tripulada americana. O governo paquistanês confirmou a morte dele.[50] Foi sucedido por Hibatullah Akhundzada.[51]
Representantes dos Estados Unidos da América e dos Taliban têm-se encontrado para conversações de paz desde Outubro de 2018, enquanto os atentados terroristas do grupo continuam, atingindo também organizações de ajuda internacionais, por promoverem "corrupção moral, mistura de sexos e promoção dos valores ocidentais".[106][107]
As feministas, e as diversas organizações de defesa dos direitos da Mulher, afastadas das negociações, (assim como o próprio governo afegão) receiam que dado o historial anterior dos Taliban, tudo resulte por fim no agravamento da condição feminina no Afeganistão.[109][110]
Um porta-voz dos Taliban no Catar, Sohail Shaheen, declarou ser falso que o movimento ataque civis. E acrescentouː "Somos vítimas de propaganda venenosa. Na verdade, estamos comprometidos com os direitos das mulheres e com a educação e o trabalho." "Mas" — acrescentou — "é claro que, como mulheres muçulmanas, elas devem ter todos esses direitos dentro dos valores islâmicos e afegãos".[106][111][112]
Outras declarações dos Taliban em Moscovo tentam também esbater as memórias de mulheres sendo espancadas e assassinadas sob seu regime teocrático brutal, forçadas dentro de burcas e impedidas de deixar suas casas sem a companhia de um parente do sexo masculino. Afirmam que “o Islão deu às mulheres todos os direitos fundamentais, como negócios e propriedade, herança, educação, trabalho, escolha do marido, segurança, saúde e direito a uma boa vida”. No entanto, advertem que “a imoralidade, a indecência e a circulação da cultura não islâmica” foram impostas à sociedade afegã “em nome dos direitos das mulheres”.[113]
A posição da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA) é clara: "as conversações de paz com os Talibãs são insignificantes, hipócritas e simplesmente ridículas. Temos os talibãs de um lado, que são criminosos medievais, do outro, o regime fantoche composto pelos irmãos de credo dos talibã, e o terceiro actor, os EUA, que é o criador de ambos". Para a RAWA, o resultado dum acordo será apenas a multiplicação das misérias do povo afegão.[114]
Em 29 de Fevereiro de 2020, os Estados Unidos e os Taliban assinaram um acordo "para trazer a paz" em Doha, no Qatar.[115] As disposições do acordo incluem a retirada de todas as tropas americanas e da OTAN do Afeganistão, um compromisso dos Taliban de impedir a Al-Qaeda de operar em áreas sob o seu controle e conversações entre os Taliban e o governo afegão.[116] Os Estados Unidos concordaram com uma redução inicial do seu nível de forças de 13 000 para 8 600, seguida de uma retirada total no prazo de 14 meses se o Taliban cumprir os seus compromissos.[117] Os Estados Unidos também se comprometeram a fechar cinco bases no prazo de 135 dias[118] e irão rever as suas sanções contra os Taliban com a intenção de acabar com elas até 27 de Agosto de 2020.[117]
No seu site oficial, os Taliban reivindicaram 405 ataques só nos 24 dias desde que retomaram as operações ofensivas após o chamado período de "redução da violência" concomitante com a assinatura do acordo EUA — Taliban, a uma média de cerca de dezassete ataques por dia.[119]