Myanmar
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Myanmar[lower-alpha 1] ou Birmânia, oficialmente República da União de Myanmar (em birmanês: ပြည်ထောင်စုသမ္မတ မြန်မာနိုင်ငံတော်; pronunciado: [pjìdà̀uɴzṵ θà̀ɴməda̯ mjəmà nàiɴŋàɴdɔ̀]), é um país do sul da Ásia continental, limitado ao norte e nordeste pela China; a leste pelo Laos; a sudeste pela Tailândia; ao sul e sudoeste pelo mar de Andamão e pelo golfo de Bengala; e a noroeste pelo Bangladesh e pela Índia. Em 2006, a capital do país foi transferida de Rangum para Nepiedó.
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República da União de Myanmar Pyidaunzu Thanmăda Myăma Nainngandaw | |||||
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Hino nacional: Kaba Ma Kyei ("Até o fim do mundo") | |||||
Gentílico: mianmarense; birmanês, birmã, birmane, birmano, birmaniano, birmanense[1] | |||||
Capital | Nepiedó 19° 45′N 96° 12′E | ||||
Cidade mais populosa | Rangum | ||||
Língua oficial | birmanês | ||||
Governo | Ditadura militar | ||||
• Presidente[2] | Myint Swe (interino) | ||||
• Presidente do Conselho de Administração do Estado | Min Aung Hlaing | ||||
• Vice-presidente do Conselho de Administração do Estado | Soe Win | ||||
Independência | do Reino Unido | ||||
• Data | 4 de janeiro de 1948 | ||||
Área | |||||
• Total | 676.578 km² (39.º) | ||||
• Água (%) | 3,06 | ||||
Fronteira | Bangladesh, Índia, China, Laos e Tailândia | ||||
População | |||||
• Estimativa para 2014 | 51 486 253[3] hab. | ||||
• Censo 1983 | 33 234 000 hab. | ||||
• Densidade | 76 hab./km² (119.º) | ||||
PIB (base PPC) | Estimativa de 2014 | ||||
• Total | US$ 244,331 bilhões *[4] | ||||
• Per capita | US$ 4 751[4] | ||||
PIB (nominal) | Estimativa de 2014 | ||||
• Total | US$ 65,291 bilhões *[4] | ||||
• Per capita | US$ 1 269[4] | ||||
IDH (2021) | 0,585 (149.º) – médio[5] | ||||
Moeda | quiate (mmK ) | ||||
Fuso horário | MMT (UTC+6:30) | ||||
Cód. ISO | MMR | ||||
Cód. Internet | .mm | ||||
Cód. telef. | +95 | ||||
Website governamental | myanmar |
Myanmar se tornou independente do Reino Unido em 4 de janeiro de 1948, com o nome oficial de "União da Birmânia", designação que voltou a adotar após um período como "República Socialista da União da Birmânia" (4 de janeiro de 1974 a 23 de setembro de 1988). Em 18 de junho de 1989, o regime militar birmanês anunciou que o nome oficial do país passaria a ser União de Myanmar. A nova designação foi reconhecida pelas Nações Unidas e pela União Europeia, mas não pelos governos dos Estados Unidos e Reino Unido.[6] Conforme a Constituição de 2009, o nome do país mudou para “República da União de Myanmar”, medida implementada em 21 de outubro de 2010.[7]
A diversa população birmanesa teve papel fundamental para definir a política, história e demografia do país nos tempos modernos. Seu sistema político é hoje mantido sob controle estrito do Conselho de Estado para a Paz e Desenvolvimento — o governo militar chefiado, desde 1992, pelo general Than Shwe. As forças armadas birmanesas controlam o governo desde que o general Ne Win declarou um golpe de Estado em 1962 para derrubar o governo civil de U Nu. Entretanto, um novo presidente foi eleito democraticamente para governar o país a partir de 1 de abril de 2016. Seu nome é Htin Kyaw, braço direito da deputada e uma das principais opositoras do regime militar Aung San Suu Kyi. Após as eleições gerais de Myanmar de 2020, nas quais o partido de Aung San Suu Kyi obteve uma clara maioria em ambas as casas, os militares birmaneses (Tatmadaw) tomaram o poder novamente em um golpe de estado.[8]
Myanmar é membro da Cúpula do Leste Asiático, do Movimento Não Alinhado, da ASEAN e do BIMSTEC, mas não é membro da Commonwealth. É um país rico em jade e gemas, petróleo, gás natural e outros recursos minerais. Myanmar também possui energia renovável, e o maior potencial de energia solar em comparação com outros países da sub-região do Grande Mekong. Em 2013, seu PIB nominal era de 56,7 bilhões * US$; e seu PIB em 221,5 bilhões US$, o que o caracteriza como um país pobre. A desigualdade de renda no país está entre as mais amplas do mundo, já que uma grande proporção da economia é controlada por partidários do governo militar.[9] Em 2020, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano, Myanmar classificava-se na 147.ª posição entre 189 países em desenvolvimento humano.
Os nomes "Myanmar" e "Birmânia" possuem a mesma origem etimológica.[6] O termo português "Birmânia" vem do nome local Bam-mā, por intermédio do francês Birmanie, este uma adaptação das formas antigas inglesas Birman ou Birma. Já Bam-mā, por sua vez, é uma das formas pelas quais a população local se refere ao país, juntamente com o nome vernáculo Maran-mā ou Mranmá.[10]
O termo em língua birmanesa Mijanmaːɐ (originalmente transliterado para línguas ocidentais como Maran-mā ou Mranmá) é a forma literária, escrita, para o nome do país, enquanto que Bam-mā é a forma coloquial. Ambas são empregadas pela população do país[6] e, no birmanês oral, a distinção entre as duas é menos clara do que sugere a transliteração — a primeira, por exemplo, é pronunciada, em birmanês, Mianmá;[11] e a segunda, Bam-má.
Em 1989, a junta militar alterou oficialmente a versão em inglês do nome do país (de Burma para Myanmar) e de diversas cidades, como o da então capital, Rangum (de Rangoon para Yangon). O nome oficial em língua birmanesa (Mijanmaːɐ) não foi alterado.
A renomeação foi politicamente controversa,[12] pois grupos birmaneses de oposição ao regime militar continuam a empregar o termo "Birmânia", já que não reconhecem a legitimidade do atual governo nem a sua autoridade para alterar o nome do país. Alguns governos ocidentais, como os de Estados Unidos, Austrália, Canadá, Irlanda e Reino Unido, continuam a usar a forma inglesa Burma (correspondente ao português "Birmânia"). A ONU (Organização das Nações Unidas) emprega o nome usado pelo próprio país, Myanmar.[13] A União Europeia, que usava a forma "Birmânia" e suas traduções (Burma, Birmanie, etc.), começou a empregar a forma "Myanmar".[14]
Alguns órgãos da imprensa de língua inglesa ainda empregam a forma Burma ("Birmânia"), como BBC e Financial Times, enquanto outros usam a forma local Myanmar, como MSNBC, The Economist o The Wall Street Journal.
Aportuguesamentos e outras grafias
Em português, o novo nome foi aportuguesado como Mianmá ou Mianmar.[15] A primeira forma aproxima-se mais da pronúncia correta do nome em birmanês (pronúncia no alfabeto fonético internacional: /mjəmà/), em que o "r" final é mudo, e indica apenas que o "a" precedente é a vogal acentuada da palavra. Ainda assim, a Folha de S.Paulo[16] e O Globo,[17] entre outros jornais, usam esta última transliteração, também usada pelo Dicionário Aurélio (que aceita, igualmente, a forma Mianmá).[18] O Dicionário Houaiss traz o nome do país como "Myanmar, Mianmá ou Myanma", não registrando Mianmar.[19] O Estado de S. Paulo usa Mianmá.[20] O governo brasileiro[21] e o governo português[22] empregam em português a forma internacional "Myanmar".[23]
Os gentílicos tradicionalmente associados ao antigo nome de "Birmânia" eram "birmanês",[15][24][25] birmã[26][27] e "birmane".[28] O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora, além dos anteriores, registrava "birmanense", "birmaniano" e "birmano". Adicionalmente, o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras apresentava ainda "bermá", "bermã" e "bermano", e os dicionários Priberam, Michaelis e Aulete registravam "bramá".
Para o novo nome, "Myanmar", aportuguesado a Mianmá ou Mianmar, os dicionários Aurélio, Houaiss e Priberam e os Vocabulários da Porto Editora e da Academia Brasileira de Letras trazem o gentílico "mianmarense". Os dois Vocabulários Ortográficos — o da Academia Brasileira de Letras e o da Porto Editora -, além de "mianmarense", registram também a forma "myanmense", de raro uso.
O Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, publicado pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e o vocabulário oficial para todos os países nos quais o Acordo Ortográfico de 1990 está em vigor, preconiza apenas a forma aportuguesada "Mianmar", a par de "Birmânia".[29]
Reinos budistas e domínio britânico (séculos IX a XIX)
No início da era cristã, Myanmar incluía-se na área de influência da cultura indiana. O budismo expandiu-se pelo país durante o século IX e dois séculos depois que o reino budista de Pagã conseguiu que a região central inteira fosse unificada. Depois que as terras do atual Myanmar foram brevemente dominadas pelos mongóis, entre os primeiros anos do século XIII e os últimos anos do século XIV, uma dinastia de origem xãs foi instalada na região central do país sendo que a tradicional cultura birmanesa foi adotada por essa família de governantes. Uma segunda dinastia, originária dos mons, foi estabelecida na antiga capital, Bagan.[30]
Na metade do século XVI, o rei Tabinshwehti, de uma província do sul, e seu filho, conseguiram, com auxílio dos portugueses, que o país fosse reunificado. O reino de Pegu ficou a partir de 1599 sob a gestão do Império Português do Oriente.[carece de fontes?] Novos combates entre reinos e etnias ocorreram antes do controle total pela dinastia criada por Alaungpaya. Seu poderio foi expandido para oeste, e isso deixou contrariados os interesses britânicos no golfo de Bengala, de modo que, depois de três guerras — que travaram-se entre 1824 e 1826, em 1852 e em 1885 — todo o território submeteu-se ao controle britânico, o qual começou a chamá-lo Burma (Birmânia).[30]
Desenvolvimento econômico, ocupação japonesa, independência e regime militar (1937-2010)
Em 1937, os britânicos desmembraram a Birmânia da Índia. A Birmânia desenvolveu-se economicamente porque o povo cultivava arroz, além de explorar a teca e a borracha, o que foi significativo durante o período colonial. Na época da Segunda Guerra Mundial, o país foi cenário de lutas sangrentas por uma série de anos, tendo sido ocupado pelas tropas japonesas. Tendo como reconquistadores Lord Mountbatten e o general Orde Charles Wingate, o país teve sua independência proclamada em 4 de janeiro de 1948.[30]
A vida política da Birmânia, a partir de então, foi muito conturbada. Apesar da consagração constitucional dos estados autônomos estabelecidos para os grupos étnicos xã, karen, cachim e chin, ocorreram muitas tentativas de separação. Em 1962, um golpe de estado liderado pelo general Ne Win aboliu a constituição e deu início a uma ditadura militar, a qual procedeu para que boa parte do sistema econômico fosse socializado. Em 1988, o povo manifestou seu descontentamento com décadas de má gestão da economia. Um novo governo militar alterou o nome do país em inglês para Union of Myanmar em 1989 (adaptado em português como União de Myanmar — ver Etimologia e terminologia, acima). Em 1990, foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional, ganhas pelo partido oposicionista Liga Nacional pela Democracia (LND), apesar da recusa do governo militar em entregar o poder. Um ano depois, a secretária-geral da LND, Aung San Suu Kyi, foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz.[30]
Em 1992, as guerrilhas de grupos étnicos minoritários foram reprimidas, o que causou a fuga de milhares de pessoas para países limítrofes. O general Than Shwe sucedeu Saw Maung como chefe de Estado. Em 1997, os Estados Unidos e a União Europeia castigaram Myanmar por violar direitos humanos.[30]
Em 2007, por ocasião de uma reunião de 100 mil manifestantes em Rangum, o exército deteve cerca de 6 mil prisioneiros civis e matou 31 pessoas. Em 2008, o país foi devastado pelo ciclone Nargis, que matou 134 mil pessoas[31] e deixou 2,4 milhões de habitantes desabrigados.[32] Em novembro de 2010, aconteceram as primeiras eleições para o poder legislativo em 20 anos. Os partidos políticos pró-forças armadas conseguiram cerca de 80% das vagas. Nesse mês, Suu Kyi libertou-se da prisão domiciliar.[30]
Democratização
Em fevereiro de 2011, o general reformado Thein Sein foi eleito presidente pela Assembleia e em março foi dissolvido o regime militar. O novo governo oficial é civil, apesar de quase toda a sua formação por militares. O governo deu anistia a mais de dez presos políticos, o que possibilitou a retomada americana das relações diplomáticas em 2014.[30]
Uma comissão para que fosse revisada a constituição foi instalada pela assembleia, em março do mesmo ano. A reforma foi considerada interessante a Suu Kyi, que só possivelmente concorresse à presidência caso fosse derrubado o veto a candidatos cujos cônjuges são naturais de outros países (seu marido é natural do Reino Unido).[30]
Budistas do povo raquine atacaram muçulmanos da minoria ruainga (rohingya), no estado de Arracão e essa onda de violência foi intensificada em 2012, matando 167 pessoas. Em 2013, o conflito foi se alastrando aos demais estados. Num dos episódios de maior gravidade, em março, incendiaram-se 1 200 edifícios em Meiktila, no sul, onde no mínimo 43 pessoas perderam a vida. Devido aos confrontos, 140 mil muçulmanos fugiram.[30]
No começo de 2013, o exército atacou os rebeldes cachins, no norte do país, matando 300 pessoas. Em setembro, o governo fez uma proposta para negociar um cessar-fogo nacional com várias guerrilhas étnicas atuantes em Myanmar, pedindo uma autonomia regional. Em outubro, o governo e os cachins entraram num acordo preliminar.[30]
As eleições gerais de Myanmar foram realizadas em 8 de novembro de 2015. Estas foram as primeiras eleições abertamente contestadas e realizadas em Myanmar desde 1990. Os resultados deram à Liga Nacional para a Democracia a maioria absoluta dos assentos em ambas as câmaras do Parlamento nacional, o suficiente para garantir que o seu candidato se tornasse presidente, enquanto o líder da LND, Aung San Suu Kyi foi constitucionalmente impedida de ocupar a presidência.[33]
O novo parlamento reuniu-se em 1 de fevereiro de 2016 e, em 15 de março de 2016, Htin Kyaw foi eleito como o primeiro presidente não militar do país desde o golpe militar de 1962.[34] Em 6 de abril de 2016, Aung San Suu Kyi assumiu o cargo recém-criado de Conselheiro de Estado, um papel semelhante a um primeiro-ministro.[35][36]
Ditadura militar
Em 1 de fevereiro de 2021, militares do governo levaram a cabo um golpe de estado e prenderam a conselheira do estado, Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, e o presidente do país, Win Myint. Os militares acusam o antigo governo de fraude eleitoral e pretendem manter-se no poder por um período de um ano. A comunidade internacional, em sua maioria, criticou o golpe.[37]
Com uma área total de 678 000 km², Myanmar é o maior país do sudeste da Ásia continental e o 40.º maior do mundo.[38] Seu território é um pouco maior do que a soma das áreas dos estados brasileiros de Minas Gerais e Santa Catarina, ou de Alemanha e Itália juntas (para fins de comparação, a superfície de Madagáscar é de 587 041 e a de Moçambique é de 801 590 km²).[39][40]
A noroeste, limita com a divisão de Chatigão, do Bangladesh (fronteira de 193 km), e com os estados de Assã, Nagaland e Manipur, da Índia (1 463 km). A nordeste, faz fronteira com o Tibete e Yunnan, da China (2 185 km). A sudeste, é limítrofe com o Laos (235 km) e a Tailândia (1 800 km). Myanmar possui um litoral contínuo de 1 930 km, banhado pelo golfo de Bengala e pelo mar de Andamão. Suas fronteiras terrestres totalizam 5 876 km.[38]
Regiões muito diferentes constituem Myanmar. A região da Birmânia propriamente dita compreende quase o seu centro inteiro, formado pela grande depressão que o rio Irauádi ocupa e pelo delta formado pelo mesmo rio ao desembocar no golfo de Bengala. Essa região constitui uma faixa geralmente aplainada, de norte a sul. A mesma orientação é seguida pelas cordilheiras que as delimitam a oeste, nas quais estão localizados os montes Patkai e Chin e a cordilheira litorânea do Shan, de grande desgaste pela erosão em certas partes e cortado, também de norte a sul, pelo rio Salween, o qual, em uma grande quantidade de trechos, desce entre vales curtos e desfiladeiros.[41]
O sul da região central abrange também a bacia do rio Sittang, paralelo ao Irauádi. Os montes Pegu, de pequena elevação, separam o rio Sittang do rio Irauádi. Ao norte da depressão do Irauádi, cordilheiras trançadas atingem altitudes em cima de 4 000 m. O grande anexo territorial do país abrange a cordilheira de Tenasserim, paralela ao litoral.[41]
A rede de drenagem de Myanmar caracteriza-se, de um lado, pelos diminutos e muitos rios que correm da cordilheira do Arakan ao golfo de Bengala: Naf, Kaladan, Lemro e An Chaung. De outro lado, pelos rios da bacia hidrográfica do Salween, os quais cortam o planalto Shan. Afinal, o mais importante rio do país é o Irauádi, que corta o país de norte a sul. Seus afluentes principais são o Chindwin e o Sittang. O Irauádi constitui um grande delta em sua desembocadura no golfo de Bengala.[42]
O maior corpo de água do país é o lago Inle, que localiza-se no planalto Shan. Outro lago de importância é o Indawgyi, localizado no norte do país. Nas planícies de Myanmar há muitos lagos correspondentes a meandros em condição de abandono; demais são intermitentes, que resultam das cheias do rio Irauádi, localizadas no delta.[42]
Clima e biodiversidade
Em seu grupo, o clima birmanês predominante classifica-se como tropical monçônico, mas seu relevo é fragmentado, e isso faz com que nessas regiões chova muito mais do que 5 000 mm por ano. As elevações montanhosas nos arredores do médio vale do Irauádi (a bacia de Mandalai, centro histórico e geográfico do país) não permitem, entretanto, a superação das precipitações pluviométricas acima dos 900 mm. O país é atravessado pelo Trópico de Câncer.[41]
Apesar do clima tropical do país, Myanmar não possui temperaturas igualmente elevadas no decorrer do ano. A bacia de Mandalai, na porção central da zona árida, possui uma temperatura média diária de 28°C. O clima das montanhas, principalmente, as do norte do país, adjacentes ao Tibete, é de temperaturas mais baixas.[41]
As montanhas, onde chove muito, são cobertas por uma floresta tropical, onde é quase difícil de entrar. Nas regiões de maior estiagem, o solo praticamente não é coberto por vegetação. Aves, bem como rinocerontes, búfalos, gauros, elefantes, tigres, leopardos e gatos selvagens são abrigados pelas selvas. Nas regiões montanhosas, são encontrados ursos e, nos deltas habitam cobras e crocodilos. Há tartarugas na costa, e nos rios vivem peixes comestíveis.[43]
A fertilidade dos solo dos vales e das baixadas litorâneas da Birmânia forma o seu mais importante recurso natural.[44] Os produtivos campos petrolíferos estão situados no vale do Irauádi. Entre os minérios que encontram-se especialmente nas zonas montanhosas estão o tungstênio, o chumbo, a prata, o estanho, o cobre, o zinco, o antimônio, o cobalto, o carvão e o sal.[38] Na Birmânia também há depósitos de pedras preciosas, tais como o rubi, o jade e o lápis-lazúli.[38]
Cerca de 50% do país é ocupado pelas ricas florestas tropicais, que contêm várias espécies. Entre as árvores de maior importância, são encontrados a teca, o pau-ferro e a palmeira.[38] Há, também, bosques de bambu.[38] Nessas florestas, é possível encontrar uma grande quantidade de animais silvestres, como o tigre, o leopardo, o touro selvagem, o veado e o elefante. Os crocodilos vivem em certos rios.[44]
Em 2015, a população de Myanmar era de 53 897 154 habitantes.[45] O resultado disso é uma densidade demográfica de 82,5 hab./km².[46] Essa densidade demográfica é considerada baixa, em comparação às elevadas densidades médias típicas do Sudeste Asiático, uma densidade mediana, levando em consideração o padrão mundial. A população distribui-se desigualmente pelo país. A mais altas densidades demográficas encontram-se na área do delta do Irauádi.[47] Aqui as densidades chegam a atingor 800 hab./km².[48] Depois vêm as regiões do médio vale e a parte oeste do país. As montanhas e os planaltos têm densidades abaixo da média nacional, principalmente o norte do país.[47] 66,45% da população de Myanmar mora na zona rural, distribuindo-se em mais de 50 mil aldeias, cuja única atividade econômica é a agricultura.[49] O restante da população mora na zona urbana ou na periferia das cidades.[50]
A densidade demográfica é elevada nas terras margeadas pelos rios Irauádi e Sittang.[48] A região do delta do Irauádi, entretanto, é muito menos povoada. A população cresce rapidamente, embora seu número de mortes é elevado, resultando em condições sanitárias inapropriadas.[51] Um pequeno número de aglomerados urbanos atinge a condição de cidades de verdade.[43] Dentre elas, as de maior população são Rangum, que situa-se no rebordo leste do delta do Irauádi; Mandalai, a antiga capital de Myanmar e ponto central da região de maior densidade demográfica do país; Nepiedó, a capital do país desde 2005; Moulmein, na desembocadura do rio birmanês, o Salween.[38] Próximo a Rangum, estão localizadas as cidades de Pegu e Pathein.[47]
Em 1870, a população de Myanmar era de somente 6,5 milhões de habitantes. Esse número passou para 10 milhões em 1900. Entre 1870 e 1970 a população quadruplicou. Isso porque permanece uma das maiores taxas de natalidade do mundo — 17‰ partos, em 2012[51] — 37‰, em 1947, e 18‰, em 1961.[47]
Composição étnica, migração e preconceito étnico/religioso
O território birmanês é um país multiétnico, cuja maior parte da população é de mongoloides.[43] Os birmaneses são o maior e o mais historicamente coeso grupo étnico nacional.[38] Os birmaneses ocupam o centro do país. O povo birmanês é originariamente sino-tibetano. Uma grande diversidade de etnias minoritárias localiza-se nos arredores do país. As dos karens, no sudeste, e a dos xãs são as principais.[38] Os xãs são uma etnia parecida com os povos tais.[38] Os tais são o maior grupo étnico da limítrofe Tailândia.[53] Há também núcleos pequenos de mons, palaungs e was, da etnia mon-khmer. O mon-khmer predomina no Camboja.[54] No norte do país habitam os cachins. Indianos e chineses formam grupos pequenos. Apesar disso, atuaram expressivamente na economia do país, e a região do delta e a costa oeste são ocupadas pelos primeiros, que cultivam comercialmente o arroz. Os chineses estão concentrados em Rangum, dedicando-se principalmente ao comércio.[47] A população birmanesa também é composta por grupos étnicos imigrantes tais como indianos, bengalis e chineses. Esses povos, ou seus ancestrais, transferiram-se para Myanmar com o propósito de serem transformados em negociantes ou de servirem como operários, de 1870 a 1948.[44] O preconceito que existe entre as religiões e grupos étnicos de Myanmar preocupa todos os birmaneses nacionais devido à divergência opinativa dos credos e das raças que enfrentam as consequências dos conflitos armados que, desde a independência proclamada em 1948, perduram até hoje.[55] Os conflitos armados em Myanmar vêm desde a tentativa de organizar os grupos étnicos como representativos dos estatoides birmaneses, que submetiam-se às desavenças causadas pela situação política desagradável que complicou ainda mais graças à violência entre as religiões e etnias do país.[55]
Idiomas e religiões
Os birmaneses têm relação com os povos mongoloides chineses e suas línguas faladas são idiomas da família sino-tibetana.[57] O birmanês está dividido em uma grande diversidade de grupos linguísticos.[57] A língua nacional é o birmanês.[38] O alfabeto birmanês combina o sânscrito indiano com a escrita páli dos livros sagrados budistas.[57] Os demais grandes grupos de línguas são karens, os chins, os cachins e os xãs.[38] São falantes de línguas que diferem do birmanês, qualquer deles, porém, menos os kachins, possui certos termos semelhantes e utilizam o alfabeto birmanês.[58] A maior parte das pessoas daquelas tribos mora nas montanhas e morros. Os karens encontram-se em qualquer das planícies do país.[44]
Muitas religiões são praticadas em Myanmar. Há muitos edifícios religiosos e festivais são realizados em grande escala. As populações cristãs e muçulmanas, no entanto, enfrentam perseguição religiosa e é difícil, se não impossível, para os não budistas juntarem-se ao exército ou obter empregos públicos.[59] Tal perseguição e segmentação de civis é particularmente notável na Birmânia Oriental, onde mais de 3 000 aldeias foram destruídas nos últimos anos.[60][61][62] Mais de 200 mil muçulmanos fugiram para Bangladesh ao longo dos últimos 20 anos para escapar da perseguição.[63]
Cerca de 89% da população é adepta do budismo, principalmente o teravada. Outras religiões são praticadas em grande parte, sem obstrução, com a notável exceção de algumas minorias étnicas, como os muçulmanos ruaingas, que continuam a ter seu status de cidadania negado e são tratados como imigrantes ilegais,[64] e os cristãos no Estado de Chin.[65] 4% da população pratica o islã; 4% o cristianismo; 1% crenças animistas tradicionais; e 2% segue outras religiões, incluindo o budismo mahayana, o hinduísmo, religiões da Ásia Oriental e a fé bahá'í.[66][67][68] No entanto, de acordo com o relatório internacional de liberdade religiosa de 2010, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, as estatísticas oficiais subestimam a população não budista. Os investigadores independentes estimam que a população muçulmana está entre 6 a 10% da população. A pequena comunidade judaica em Rangum possui uma sinagoga.[69]
Embora o hinduísmo seja atualmente praticado por somente 1% da população, esta era uma grande religião no passado de Myanmar. Várias cepas do hinduísmo existiam ao lado, tanto do budismo teravada quanto do budismo mahayana, no período Mon e Pyu, no primeiro milênio d.C.[70][71]