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A Revolução Bolivariana é um processo político na Venezuela que foi liderado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, fundador do Movimento da Quinta República e mais tarde do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). A Revolução Bolivariana tem o nome de Simón Bolívar,[1] um líder revolucionário venezuelano e latino-americano do início do século XIX, proeminente nas guerras de independência hispano-americanas ao alcançar a independência da maior parte do norte da América do Sul do domínio espanhol. De acordo com Chávez e outros apoiadores, a Revolução Bolivariana busca construir uma coalizão interamericana para implementar o bolivarianismo, o nacionalismo e uma economia estatal; modelo político-econômico batizado como “socialismo do século XXI”.[2]
Revolução Bolivariana | |
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Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela, em Caracas, Venezuela, em 5 de Março de 2014, durante aniversário da morte de Hugo Chávez. | |
Nome nativo | Revolución Bolivariana |
Nome em português | Revolução Bolivariana |
Data | 2 de fevereiro de 1999 – presente |
Local | Venezuela |
Tema | Erradicação da pobreza e estabelecimento do socialismo do século XXI na Venezuela |
Causa | Presidências de Hugo Chávez e Nicolás Maduro |
Detratores chamaram o movimento de Chavismo, e seus apoiadores de Chavistas, com os opositores sendo anti-Chavistas.[3] A ideologia, seguindo seu patrono Bolívar, também visa unir os povos sul-americanos de língua espanhola para formar uma grande confederação pan-americana.[1] O conceito de bolivarianismo foi exportada para a Bolívia, com o anúncio do então presidente Evo Morales declarando organizar "sua revolução bolivariana". O presidente equatoriano Rafael Correa também declarou publicamente ser bolivariano "como Chávez".[4][5]
Segundo Chávez, a Venezuela precisa "transcender o capitalismo" através do socialismo.[6] Uma de suas primeiras medidas foi aprovar, mediante referendo, a Constituição de 1999. Em seu 57º aniversário, ao anunciar que estava em tratamento de câncer, Chávez declarou que havia mudado o slogan da Revolução Bolivariana de "Pátria, socialismo ou morte" para "Pátria e socialismo. Nós viveremos e sairemos vitoriosos".[7]
Após a morte de Chávez em 2013, a revolução entrou em declínio social e a situação política e econômica na Venezuela se deteriorou rapidamente.[8]
Simón Bolívar deixou uma marca duradoura na história da Venezuela em particular e na América do Sul em geral, celebrado como "El Libertador".[9][10] O início do culto a Bolívar se deu com o traslado dos restos mortais de Bolívar, então em Santa Marta, para a capital Caracas contando com um enterro com grande pompa.[11] Essa cerimônia foi resultado da campanha do general José Antonio Páez, que conseguiu a aprovação por decreto da glorificação de Bolívar em 1842.
Como cadete militar,[12] Hugo Chávez foi "um celebrante da história da paixão bolivariana".[13] Chávez confiou nas ideias de Bolívar e em Bolívar como um símbolo popular mais tarde em sua carreira militar, ao montar seu movimento MBR-200 que se tornaria um veículo para sua tentativa de golpe de 1992.[14]
A América do Sul no final da década de 1980 e início da década de 1990 estava se recuperando da crise da dívida latino-americana em meados da década de 1980 e muitos governos adotaram políticas de austeridade e privatização para financiar empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Após o fim da Guerra Fria e a queda das ditaduras militares no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, movimentos sociais incluindo as correntes trabalhistas e indígenas,[15] que se opuseram à austeridade e pediram o perdão da dívida, às vezes resultando em confrontos com o Estado; como ocorreu no Caracazo e no golpe de estado equatoriano de 2000. Foi neste contexto que Chávez e o MBR-200 (como o Movimento da Quinta República) venceram as eleições de 1998[16] e iniciaram o processo constituinte que resultou na Constituição venezuelana de 1999.
Segundo o historiador Alberto Garrido, autor de 12 livros sobre o assunto, a Revolução Bolivariana mistura elementos históricos e políticos de diferentes épocas, tentando conciliar uma democracia participativa com um partido civil-militar de esquerda. Ele afirma também, que as grandes inspirações da ideologia de Hugo Chávez são o bolivariano Douglas Bravo, o peronista de esquerda Norberto Ceresole e o cubano Fidel Castro.[17] Hugo Chávez reverenciava Fidel Castro e via a revolução cubana como um modelo para a Venezuela.[18] O sistema bolivariano é populista e divide a sociedade em campos opostos e irreconciliáveis.[19] Isto cria uma barreira dicotômica entre os desfavorecidos e o poder irresponsivo, o qual é responsável pelo status de "ser deficiente" dos desfavorecidos.[19] No bolivarianismo, os latino-americanos enfrentam o "imperialismo" dos Estados Unidos.[18] Conforme explicado por Ernesto Laclau, o populismo é assim definido:
O populismo envolve a divisão da cena social em dois campos. Essa divisão pressupõe a presença de alguns significantes privilegiados que condensam em si mesmos a significação de todo um campo antagônico (o 'regime', a 'oligarquia', os 'grupos dominantes' etc., para o inimigo; a 'nação', a 'maioria silenciosa', e assim por diante, para o oprimido desvalido - esses significantes adquirem esse papel articulador de acordo, obviamente, com uma história contextual).[19]
O agora falecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez, desde que começou na presidência da república, se autodenominou bolivariano e seguidor das ideias de Simón Bolívar.[1] Entre suas ações inspiradas na dita ideologia estão a mudança da Constituição da Venezuela de 1961 na chamada Constituição Bolivariana de 1999, que mudou o nome do Estado para República Bolivariana da Venezuela, e outros atos como a criação e promoção de escolas e universidades com o adjetivo bolivariana, como o são as Escolas Bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela.[20] As forças armadas também foram renomeadas, tornando-as a Força Armada Bolivariana da Venezuela.[21] Seu elemento principal, o exército,[22] passou de Exército Nacional da Venezuela para Exército Nacional da República Bolivariana da Venezuela; sendo conhecido simplesmente como Exército Bolivariano (EB).[23]
Chavismo é o nome dado à ideologia de esquerda política baseadas nas ideias, programas e estilo de governo associados com o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez.[3]
O Chavismo, comumente considerado uma vertente populista do secular caudilhismo latino-americano, é composto por três fontes básicas: as ideias de Simón Bolívar, Ezequiel Zamora e Simón Rodríguez, e também um socialismo revisado que é definido como o "socialismo do século XXI".[2] Da mesma forma, o chavismo toma ideias de: Ernesto "Che" Guevara, Fidel Castro, Augusto César Sandino, Camilo Cienfuegos, entre outros. Vários partidos políticos da Venezuela apoiam o chavismo. Mas o partido principal, diretamente relacionado com Chávez, é o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV). Outros partidos e movimentos de apoio ao chavismo incluem Pátria para Todos e Tupamaros.
As políticas do Chavismo incluem nacionalização, programas de bem-estar social (missões bolivarianas) e oposição ao neoliberalismo (particularmente as políticas do FMI e do Banco Mundial). Segundo Hugo Chávez, o socialismo venezuelano aceita a propriedade privada, mas esse socialismo também busca promover a propriedade social.[24] O Chavismo também apoia a democracia participativa e a democracia no local de trabalho.[25] O presidente Hugo Chávez manteve-se em contato quase direto com seu eleitorado através do programa semanal "Aló Presidente".[26][18] Essa forma de contato, com telefonemas e auditório ao vivo, tornava Chávez um televangelista "espalhando o evangelho" da revolução bolivariana.[18] Em janeiro de 2007, Chávez propôs construir o estado comunal, cuja ideia principal é construir instituições de autogoverno como conselhos comunais, comunas e cidades comunais.[27]
Os principais componentes da revolução são as missões bolivarianas, os círculos bolivarianos e a busca pela integração latino-americana e o "anti-imperialismo" dirigido contra os Estados Unidos.[18] As tais missões bolivarianas fizeram uso da redistribuição da vasta riqueza petrolífera venezuelana para estabelecer programas de bem-estar social que estabeleceram clínicas médicas e escolas, operavam uma cadeia de mercearias baratas e dividiam fazendas e ranchos nacionalizadas entre cooperativas dos mais pobres.[18] Daniel Hellinger, professor de ciência política na Universidade de Webster, em St. Louis, apontou que os programas de bem-estar social reduziram a taxa de pobreza na Venezuela a partir de cerca de 80% na década de 1990 para cerca de 20%, e erradicou o analfabetismo.[18] Esses avanços vieram ao custo de pesado endividamento e cada vez maior dependência das receitas petrolíferas.[13][24]
A parcela mais pobre da Venezuela, viu durante o governo Chávez suas condições de vida melhorarem drasticamente segundo apontam indicadores, no período de 1999, ano em que Chávez assumiu a presidência do país, até 2009, ano da divulgação dos dados, 20,1% dos venezuelanos vivam sob extrema pobreza, número que caiu para 9,5% em 2007. A Venezuela possuía em 1999 50,5% de sua população na pobreza, o que equivalia a mais de 11 milhões de pessoas, número que caiu para 31,5%, segundo a pesquisa, de 24,6 milhões de pessoas no total, 18,8% saíram da linha pobreza. Uma pesquisa da Datanálisis indicou que as classes E e D venezuelanas aumentaram seu consumo em 22% nos últimos 8 anos, devido ao aumento salarial que, em 1999, era equivalente a 47 dólares e subiu para 371 dólares em 2007. De acordo ainda com o Ministério da saúde, a mortalidade infantil na Venezuela era de 21,4 para cada 100 mil habitantes em 1998 e caiu para 13,7 para cada 100 mil.[28]
Chávez nacionalizou dezenas de empresas de energia, bancos e telecomunicações, além de mais de 1 milhão de acres de terras agrícolas. Isso causou um declínio acentuado no investimento e na produtividade venezuelanos e tornou o país cada vez mais dependente das vendas de petróleo.[18] O dinheiro que deveria ter sido aplicado de forma produtiva na indústria e agricultura foi completamente comprometido nesses programas; o que afetou a competitividade da economia venezuelana.[29] Por conta disso, apesar das grandes somas arrecadadas de suas reservas de energia durante a alta dos hidrocarbonetos, Chávez foi forçado a tomar emprestado mais de US$ 38 bilhões dos chineses nos últimos anos de sua presidência para financiar seus programas de bem-estar interno e ajuda externa. Os empréstimos foram garantidos por compromissos futuros de venda de petróleo a Pequim.[18] A Venezuela tornou-se "o arquétipo de um petroestado falido".[29] Os preços do petróleo caíram de mais de US$ 100 por barril em 2014 para menos de US$ 30 por barril no início de 2016, levando a Venezuela a uma espiral econômica e política; as condições só pioraram desde então.[29]
O acumulo de poder também acentuado, com Chávez governando como um caudillo (caudilho).[18] Como um ditador militar, ele fechou estações de TV e rádio que o criticavam, armou uma milícia paramilitar e colocou a burocracia sob controle rigoroso.[18] Em 2018, a grande maioria dos cargos de prefeito e governador eram ocupados por candidatos do PSUV, enquanto a coalizão de oposição Unidade Democrática (MUD) conquistou dois terços dos assentos parlamentares em 2015.[30] A hostilidade política entre o PSUV e o MUD levou a vários incidentes em que as manifestações pró-governo e de oposição se tornaram violentas, com cerca de 150 mortos como resultado em 2017.[31] Além disso, existem reclamações e reconvenções relacionadas com a prisão de figuras da oposição, com o governo alegando que o seu estatuto político não impede nem motiva o processo pelos crimes pelos quais foram condenados, enquanto a oposição afirma que essas detenções e acusações têm motivação política.[32] As eleições também tiveram protestos sobre fraude eleitoral.[33]
Chávez sempre apresentou o slogan de que "A única maneira pela qual a Venezuela pode se tornar uma potência é construindo o socialismo venezuelano!",[25] reiterando que não há outro caminho e que a classe trabalhadora terá papel fundamental na construção do socialismo bolivariano.[25] Chávez manteve sua popularidade entre os mais pobres até o fim da vida, e foi eleito para um quarto mandato com 55% dos votos apesar do aumento da criminalidade, da escassez persistente de alimentos básicos, da inflação de dois dígitos e dos impopulares programas de ajuda externa.[18]
Em 2015, sob a égide da Revolução Bolivariana, frente à gravidade da crise econômica, a Universidade Católica Andrés Bello, a Universidade Central da Venezuela e a Universidade Simón Bolívar, entre julho e agosto de 2015, estimaram que a pobreza na Venezuela chegou a 73% dos lares do país, recorde histórico desde o início das medições em 1975. Com inflação galopante, escassez de produtos e enorme variação cambial, a pobreza se deve à aceleração do aumento dos preços e o governo Venezuelano não divulga dados oficiais, mas analistas acreditam que o número tenha superado os três dígitos.[34]
Chávez era visto como um líder da "maré rosa", uma guinada para governos de esquerda nas democracias latino-americanas.[35] Sua política foi marcada pelo anti-americanismo[36] e o populismo autoritários.[37][38]
Chávez reorientou a política externa venezuelana para a integração econômica e social da América Latina, promulgando comércio bilateral e acordos de ajuda recíproca, incluindo sua chamada "diplomacia do petróleo", tornando a Venezuela mais dependente do uso do petróleo (sua principal commodity) e aumentando sua vulnerabilidade a longo prazo. Essa dependência do petróleo levou à consequente queda de produção.[29]
As vendas de petróleo representam 99% das receitas de exportação e cerca de um quarto do produto interno bruto (PIB).[29] Sem investimento e manutenção adequados, a produção de petróleo caiu para seu nível mais baixo em décadas em 2020, embora a produção esteja lentamente começando a aumentar novamente.[29] O PIB encolheu cerca de dois terços entre 2014 e 2020, e, à medida que a demanda global por petróleo continua comprimida em meio à pandemia de coronavírus, foi prevista uma queda de mais 5% em 2022.[29] A dívida crescente levou à hiperinflação, com a Venezuela contraindo uma dívida estimada em US$ 150 bilhões ou mais; a inflação anual ficou em 1.946%.[29]
No campo da diplomacia, a influência da Venezuela de Chávez se estendeu muito além das fronteiras do país.[1] Ele despertou a oposição latino-americana ao chamado Consenso de Washington,[18] que dita às nações subdesenvolvidas a abrirem seus mercados ao livre comércio e aos investidores estrangeiros, e estabeleceu laços estreitos com outros líderes de esquerda no hemisfério, incluindo Evo Morales, da Bolívia, e Daniel Ortega, da Nicarágua.[18] O bolivarianismo também chegou a criar um órgão de coordenação continental, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos (ALBA), acordado em Havana entre a Venezuela e Cuba.
Chávez também era famoso por seus ataques vitriólicos, chamando o presidente americano George W. Bush de "terrorista" por invadir o Afeganistão, e de "diabo" durante um discurso das Nações Unidas.[18][39] Em outra ocasião, Chávez recebeu um "¿Por qué no te callas?" ("Por que não se cala?") do próprio rei da Espanha, Juan Carlos I,[40][41] como uma reprimenda após as repetidas interrupções que fez ao Presidente do Governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, na XVII Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado, realizada em Santiago do Chile em 10 de novembro de 2007. A frase rapidamente se tornou um fenômeno social e da Internet, sendo objeto de imitações, ridicularizações, paródias, programas de televisão, toques para telefones e título de programas de televisão na Argentina e na Espanha.[42][43]
Hugo Chávez reverenciava Fidel Castro e via a revolução cubana como um modelo para a Venezuela, doando generosamente ao instável estado socialista de Cuba, supostamente fornecendo à nação 100.000 barris de petróleo por dia a preços reduzidos.[18] Em troca, Cuba enviou 12.000 médicos, treinadores esportivos e pessoal de segurança para a Venezuela.[18]
Embora Chávez tenha inspirado outros movimentos na América Latina a seguir seu modelo de chavismo em uma tentativa de remodelar a América do Sul, mais tarde o projeto foi visto como errático e sua influência internacional tornou-se exagerada, com a maré rosa começando a diminuir em 2009.[44] Em seu lugar iniciou-se uma nova onda direitista no continente.[44][45]
Em abril de 2018, a principal revista de esquerda da França, Les Temps Modernes, fundada por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em 1945, apontou seu rompimento com o regime chavista venezuelano ao denunciar que a revolução bolivariana havia se revelado um grande fracasso.[46] Em uma série de ensaios e entrevistas, a revista aborda os aspectos políticos, econômicos e sociais que levaram ao fracasso do modelo.[46]
O bolivarianismo foi emulado na Bolívia e no Equador, os quais passaram por crises de partidos políticos.[47] De acordo com um estudo de 2017, o bolivarianismo não conseguiu se espalhar ainda mais pela América Latina e Caribe "em nações onde os partidos políticos e as instituições democráticas permaneceram funcionando e onde a esquerda e a sociedade civil valorizaram a democracia, o pluralismo e os direitos liberais devido a experiências autocráticas brutais". O estudo também constatou que "o medo do bolivarianismo também levou a um golpe contra o presidente Zelaya em Honduras". Fora da América, o impacto foi minúsculo, com aspectos do bolivarianismo sendo adotados pelo partido político espanhol Podemos.[47]
Os programas sociais (chamados de "missões" na Venezuela) que surgiram durante a gestão de Hugo Chávez buscaram reduzir as disparidades sociais e foram financiados em grande parte pelas receitas do petróleo. A sustentabilidade e o desenho dos programas de bem-estar têm sido elogiados e criticados. Exemplos específicos de programas sociais estão listados abaixo.[48][49]
O Plano Bolívar 2000 foi a primeira das Missões Bolivarianas promulgadas sob a administração do presidente venezuelano Hugo Chávez. Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, Chávez quis “enviar a mensagem de que as forças armadas não eram uma força de repressão popular, mas sim uma força de desenvolvimento e segurança”. O Departamento de Estado dos Estados Unidos também comentou que isso aconteceu "apenas 23 dias após sua posse" e que ele queria mostrar aos seus apoiadores mais próximos "que não os havia esquecido".[50] O plano envolveu cerca de 40.000 soldados venezuelanos envolvidos em atividades anti-pobreza de porta em porta, incluindo vacinação em massa, distribuição de alimentos em favelas e educação.[51] Vários escândalos afetaram o programa à medida que alegações de corrupção foram formuladas contra generais envolvidos no plano, alegando que quantias significativas de dinheiro haviam sido desviadas.[52]
A missão deveria fornecer assistência médica abrangente com financiamento público, assistência odontológica e treinamento esportivo para comunidades pobres e marginalizadas na Venezuela. Barrio Adentro contou com a construção de milhares de clínicas icônicas de dois andares - Consultorios - ou de escritórios médicos, bem como a contratação de pessoal médico profissional consistindo em residentes certificados. Barrio Adentro constitui uma tentativa de oferecer uma forma de fato de atenção à saúde universal, buscando garantir o acesso à atenção médica de qualidade do berço ao túmulo para todos os cidadãos venezuelanos. Em 2006, o quadro de funcionários incluía 31.439 profissionais, pessoal técnico e técnicos de saúde, dos quais 15.356 eram médicos cubanos e 1.234 médicos venezuelanos. A filial latino-americana da Organização Mundial da Saúde e o UNICEF elogiaram o programa. Embora resultados positivos tenham surgido com a missão, também houve algumas lutas. Em julho de 2007, Douglas León Natera, presidente da Federação Médica Venezuelana, relatou que até 70% dos módulos do Barrio Adentro foram abandonados ou não foram concluídos. Em 2014, os residentes em Caracas também reclamaram do serviço, apesar do grande financiamento do governo venezuelano.[53][54]
O objetivo da Missão Habitat é a construção de milhares de novas unidades habitacionais para os pobres. O programa também busca desenvolver zonas habitacionais agradáveis e integradas que disponibilizem uma gama completa de serviços sociais - da educação à saúde - que compara sua visão com a do Novo Urbanismo. De acordo com o El Universal da Venezuela, uma das principais fraquezas do governo Chávez é o fracasso em cumprir suas metas de construção de moradias.[55] Chávez prometeu construir 150 mil casas em 2006, mas no primeiro semestre do ano cumpriu apenas 24% dessa meta, com 35 mil casas.[56][49]
A Missão envolve uma empresa estatal denominada Mercados de Alimentos, CA (MERCAL), que fornece alimentos e produtos básicos subsidiados por meio de uma rede de lojas de âmbito nacional. Em 2010, o Mercal foi relatada como tendo 16.600 pontos de venda, "variando de lojas de esquina a grandes armazéns", além de 6.000 refeitórios populares. O Mercal emprega 85.000 trabalhadores.[57] Em 2006, cerca de 11,36 milhões de venezuelanos se beneficiaram regularmente dos programas de alimentação do Mercal. Pelo menos 14.208 locais de distribuição de alimentos da Missão Mercal foram espalhados por toda a Venezuela e 4.543 toneladas de alimentos foram distribuídos todos os dias.[58] Nos últimos tempos, clientes que tiveram que esperar em longas filas por produtos com desconto dizem que faltavam produtos nas lojas do Mercal e que os itens disponíveis nas lojas mudavam constantemente.[59] Alguns clientes reclamaram do racionamento das lojas do Mercal por falta de produtos.[60] Em alguns casos, protestos ocorreram devido à escassez nas lojas.[61]
O programa usa voluntários para ensinar leitura, escrita e aritmética a mais de 1,5 milhão de venezuelanos adultos que eram analfabetos antes da eleição de Chávez à presidência em 1999. O programa é militar-civil por natureza e envia soldados para - entre outros lugares - locais remotos e perigosos a fim de alcançar os cidadãos adultos menos educados, negligenciados e marginalizados para lhes dar ensino e aulas regulares. Em 28 de outubro de 2005, a Venezuela se declarou um “Território Livre do Analfabetismo”, tendo elevado em suas estimativas iniciais a taxa de alfabetização para cerca de 99%, embora a estatística tenha sido alterada para 96%.[62] De acordo com os padrões da UNESCO, um país pode ser declarado "livre do analfabetismo" se 96% de sua população com mais de 15 anos souber ler e escrever.[63]
De acordo com Francisco Rodríguez e Daniel Ortega do IESA, há "poucas evidências" do "efeito estatisticamente distinto sobre o analfabetismo venezuelano".[62] O governo venezuelano afirmou que ensinou 1,5 milhão de venezuelanos a ler,[64] mas o estudo constatou que "apenas 1,1 milhão eram analfabetos para começar" e que a redução do analfabetismo de menos de 100.000 pode ser atribuída a adultos idosos e mortos. David Rosnick e Mark Weisbrot, do Center for Economic and Policy Research, responderam a essas dúvidas, descobrindo que os dados usados por Rodríguez e Ortega eram uma medida muito grosseira, uma vez que a Pesquisa Domiciliar da qual derivou nunca foi projetada para medir a alfabetização ou as habilidades de leitura, e seus métodos eram inadequados para fornecer evidências estatísticas sobre o tamanho do programa nacional de alfabetização da Venezuela.[65]
Não sobrou muito da chamada Revolução Bolivariana - um processo político socialista que começou em 1999, liderado pelo então presidente Hugo Chávez. Filas sem fim para comprar alimentos, uma grave escassez de produtos básicos e uma taxa de inflação anual estimada em 160 por cento tornaram-se a imagem padrão de um país há muito considerado um "petroestado". Mas, com o preço do petróleo tão baixo quanto $ 35 o barril recentemente, ele está há muito tempo a caminho de um colapso total.
Após a morte de Hugo Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro enfrentou as consequências das políticas chavistas, com a aprovação de Maduro diminuindo e os protestos na Venezuela começando em 2014.[67] Os governos Chávez e Maduro frequentemente atribuem as dificuldades enfrentadas pela Venezuela à intervenção estrangeira nos assuntos do país.[68] Em 2016, a Venezuela bolivariana sofria de hiperinflação e uma perda dramática de empregos e renda (os preços ao consumidor aumentaram 800% e a economia contraiu 19% durante 2016),[69] fome generalizada (a "Pesquisa das Condições de Vida da Venezuela" (ENCOVI) descobriu que quase 75% da população perdeu uma média de pelo menos 8,7kg de peso devido à falta de nutrição adequada)[70] e uma taxa crescente de homicídios (90 pessoas por 100.000 foram assassinadas na Venezuela em 2015, em comparação com 5 por 100.000 nos Estados Unidos, de acordo com o Observatório da Violência Venezuelana).[71]
De acordo com a Human Rights Watch:
Para silenciar os críticos, o governo conduziu prisões generalizadas e outras formas de repressão. Desde 2014, documentamos a resposta violenta das forças de segurança aos protestos, com espancamentos e prisões de manifestantes pacíficos e até mesmo de transeuntes e tortura na prisão. O Fórum Penal Venezuelano, um grupo não-governamental que presta assistência jurídica a detidos, conta com mais de 90 pessoas que considera presos políticos.[72]
De acordo com o International Policy Digest, "[a] revolução bolivariana é um fracasso não porque seus ideais eram inatingíveis, mas porque seus líderes eram tão corruptos quanto aqueles que eles criticam", com o governo bolivariano dependendo do petróleo para sua economia, essencialmente sofrendo de Doença holandesa.[68] Como resultado das políticas do governo bolivariano, os venezuelanos sofreram com a escassez, a inflação, o crime e outras questões socioeconômicas, com muitos venezuelanos recorrendo a deixarem seu país natal em busca de uma vida melhor em outro lugar.
Após a Revolução Bolivariana, muitos venezuelanos ricos buscaram residência em outros países. De acordo com a Newsweek, a "diáspora bolivariana é uma reversão da sorte em grande escala", onde a reversão é uma comparação com quando no século XX "a Venezuela era um paraíso para os imigrantes que fugiam da repressão e da intolerância do Velho Mundo".[73] O El Universal explica como a "diáspora bolivariana" na Venezuela foi causada pela "deterioração da economia e do tecido social, o crime desenfreado, a incerteza e a falta de esperança de uma mudança na liderança em um futuro próximo".[74]
Em 1998, ano em que Chávez foi eleito pela primeira vez,[16] apenas 14 venezuelanos receberam asilo nos Estados Unidos. Em apenas 12 meses, em setembro de 1999, 1.086 venezuelanos receberam asilo de acordo com os Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos.[75] Calcula-se que de 1998 a 2013 mais de 1,5 milhão de venezuelanos, entre 4% e 6% da população total da Venezuela, deixaram o país após a Revolução Bolivariana.[76] Muitos dos ex-cidadãos venezuelanos estudados deram motivos para deixar a Venezuela, que incluíam falta de liberdade, altos níveis de insegurança e falta de oportunidades no país. Também foi afirmado que alguns pais na Venezuela incentivam seus filhos a deixarem o país, em proteção de seus filhos devido às inseguranças que os venezuelanos enfrentam.[77][78] Isso levou à fuga de capital humano na Venezuela.[74]
Em novembro de 2018, o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e a OIM (Organização Internacional para as Migrações) relataram que o número de refugiados subiu para 3 milhões, a maioria dos quais foram para outros países da América Latina e Caribe.[79]
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