Braga
município e cidade de Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
município e cidade de Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Braga é a cidade portuguesa capital do Distrito de Braga e da sub-região do Cávado (NUT III), pertencendo à região do Norte (NUT II).
Braga | |
Mapa de Braga | |
Gentílico | bracarense, bracaraugustano, brácaro, braguês |
Área | 183 km² |
População | 201 583 hab. (2023) |
Densidade populacional | 1099 hab./km² |
N.º de freguesias | 37 |
Presidente da câmara municipal |
Ricardo Rio (PPD/PSD.CDS-PP.PPM.A, 2021–2025) |
Fundação do município (ou foral) |
16 a.C. (Imperador Otávio César Augusto) |
Região (NUTS II) | Norte |
Sub-região (NUTS III) | Cávado |
Distrito | Braga |
Província | Minho |
Orago | São Geraldo Arcebispo Primaz de Braga |
Feriado municipal | 24 de junho (São João) |
Código postal | 4700 Braga |
Sítio oficial | http://www.cm-braga.pt |
Município de Portugal |
É sede do município homónimo que tem uma área total de 183,40 km2,[1] 201 583 habitantes[2] em 2023 e uma densidade populacional de 1 099 hab./km2, subdividido em 37 freguesias.[3] O município é limitado a norte pelo município de Amares, a leste pela Póvoa de Lanhoso, a sudeste por Guimarães, a sul por Vila Nova de Famalicão, a oeste por Barcelos e a noroeste por Vila Verde.
Braga possui uma história bimilenar que se iniciou na Roma Antiga, quando foi fundada entre 15 e 13 a.C.[4] como Bracara Augusta em homenagem ao imperador romano Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.). A cidade foi, mais tarde, capital da província da Galécia e capital do Reino Suevo.
Braga possui um vasto património cultural, cujo ex-líbris é o Santuário do Bom Jesus do Monte, Património Mundial da UNESCO. Em 2012 foi distinguida como Capital Europeia da Juventude e em 2018 foi Cidade Europeia do Desporto. Desde 2017 pertence à rede de Cidades Criativas da UNESCO, na categoria Media Arts, e em 2021 foi eleita Melhor Destino Europeu do Ano, depois de ter ficado em 2º lugar em 2019.
Na gíria popular é conhecida como "Cidade dos Arcebispos". Durante séculos o seu arcebispo foi o mais importante na Península Ibérica; é ainda detentor do título de Primaz das Espanhas. A ação dos arcebispos ao longo da história é, de longe, o maior factor no desenvolvimento da cidade e região. Conta com figuras como São Pedro de Rates (? - 45 d.C.), São Martinho de Dume, São Geraldo e São Frutuoso de Montélios (os patronos da cidade, assinalados a 5 de Dezembro, dia da cidade), os registos são mantidos fielmente a partir da reconquista em 1071 até hoje.
A "Roma Portuguesa": no século XVI o arcebispo D. Diogo de Sousa, influenciado pela sua visita à cidade de Roma, desenha uma nova cidade onde as praças e igrejas abundam tal como em Roma. A este título está também associado o facto de existirem inúmeras igrejas por km² em Braga. É, ainda, considerada como o maior centro de estudos religiosos em Portugal.
O "Paiz Bracarense":[5] assim chamada no século XVIII, devido a um particularismo legal remontando ás origens de Portugal sobre o domínio temporal da cidade de Braga. Na prática a cidade pertencia à Sé Primacial mas legalmente estava aberta a questão se a cidade estava ou não sujeita a correção régia até à 1º República.
A "Cidade Barroca": durante o século XVIII, com a investidura de D. José de Bragança, iniciou-se um processo de cosmopolitização para promover o estatuto da cidade.[5] Nesta renovação urbana destacou-se o arquiteto André Soares que transformou Braga no Ex-Libris do Barroco em Portugal.
A "Cidade Romana" que no tempo dos romanos era a maior e mais importante cidade situada no território onde seria Portugal. Ausónio, ilustre letrado de Bordéus e prefeito da Aquitânia, incluiu Bracara Augusta entre as grandes cidades do Império Romano.[6]
A "Capital do Minho" ou o "Coração do Minho", por estar localizada no centro desta província, Braga reúne um pouco de todo o Minho e todo o Minho tem um pouco de Braga. A cidade está estreitamente ligada a todo o Minho: a Norte situa-se o tradicional Alto Minho, a Este o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Sul as terras senhoriais de Basto e o industrial Ave e a Oeste o litoral marítimo Minhoto.
A "Cidade dos Três Sacro-Montes": são santuários situados a Sudeste da cidade numa cadeia montanhosa, e são pela ordem Este a Sul: O Bom Jesus, Sameiro e a Falperra (Sta. Maria Madalena e Sta. Marta das Cortiças).
A “Cidade da Juventude", apesar de ser das cidades mais antiga de Portugal (desde 14 a.C.) é um município com uma percentagem significativa de jovens. Em 2012, celebrou-se a "Braga 2012 — Capital Europeia da Juventude".
Braga — A Cidade Encantadora, foi eleita pelo jornal 'The Guardian a "cidade mais encantadora" de Portugal. A cultura e a gastronomia estão entre as qualidades destacadas pela publicação britânica.[7]
Os vestígios da presença humana na região vêm de há milhares de anos, como comprovam vários achados. Um dos mais antigos é a Mamoa de Lamas, um monumento megalítico edificado no período Neolítico. No entanto, apenas se consegue provar a existência de aglomerados populacionais em Braga na Idade do Bronze. Caracterizam-se por fossas e cerâmicas encontradas em Alto da Cividade, local onde existiria uma povoação e por uma necrópole que terá existido na zona dos Granjinhos.[8]
Na Idade do Ferro, desenvolveram-se os chamados "castros". Estes eram próprios de povoações que ocupavam locais altos do relevo. Os Galaicos eram os seus habitantes e, nesta região em particular, habitavam os Brácaros (em latim: Bracari), que dariam nome à cidade, após a sua fundação.
No decurso do século II a.C., a região foi percorrida pelas legiões romanas. Após a conquista definitiva do noroeste peninsular pelo imperador Augusto, este manda edificar a cidade de Braga entre 15 e 13 a.C., com a designação de Bracara Augusta, em homenagem à aliança entre o imperador romano Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.) e o povo indígena dos Bracari.[8]
A cidade foi construída de forma planeada, conforme um projeto clássico de forma ortogonal (ruas alinhadas, com cruzamentos a ângulo recto) orientada Noroeste/Sudeste. Era dividida por pequenos quarteirões quadrados, ocupando no seu todo, uma área retangular de 29,85 ha.[9] O território rural adjacente à futura cidade, também foi dividido em lotes quadrados para ser distribuído, segundo o princípio da centuriação[10], dando condições para que inúmeros indígenas, alguns militares e imigrantes se deslocassem para ali viver. No entanto nos anos 50 d.C. o comércio já desempenhava um papel fulcral na cidade e na região.
Segundo a tradição, São Tiago Maior terá passado pela cidade durante as suas viagens apostólicas, onde terá ordenado um judeu pelo nome de Pedro como primeiro bispo de Braga. Este terá sido martirizado na sua tentativa de cristianizar a população apesar de se ter refugiado em Rates. A tradição igualmente dita que, os próximos dois bispos de Braga, São Basílio e Santo Ovídio, terão sido também martirizados pelas suas tentativas de cristianizar a população.
A cidade sofre reestruturações, devido à dimensão que terá atingido. Continuam as construções de edifícios públicos e a “monumentalização” da cidade com teatro, termas, templos, anfiteatro.[11] Aumentam os bairros e assiste-se à instalação de pessoas abastadas na zona oriental da cidade. Sabemos pela obra de Plínio, o Velho que o convento bracarense era dividido em 24 civitates[nota 1] e tinha uma população de 285 000 pessoas livres, sendo o mais povoado do Noroeste peninsular[nota 2][12].
Segundo a hagiologia bracarense, nasceu em 120 d.C., na cidade, Santa Quitéria, filha do governador romano Lúcio Caio Otílio, tendo sido batizada por Santo Ovídio. A santa foi martirizada em Aire-sur-l'Adour, na região da Aquitânia, depois de recusar se casar com um politeísta chamado Germano.
A Crise do terceiro século instalada no Império, atinge também Bracara Augusta que conhece pela primeira vez um abrandamento do seu crescimento, com o fim progressivo das explorações mineiras (50 só no atual território português) e o fim da extração do ouro[13] que teria sido explorado de maneira intensiva e protoindustrial. No entanto, a tradição do trabalho do ouro, irá manter-se viva na cidade até ao fim da Idade Moderna. Pouco depois do assalto e saque da cidade de Tarragona pelos Francos durante o reinado de Galiano[14][15], no fim do século III inicio do IV, uma imponente muralha de 5–6 m de largura, com torreões, é construída em volta do centro da cidade de Bracara (mais de 48 hectares), e transforma por completo a sua configuração. Algumas casas e monumentos como o teatro e o anfiteatro são, em parte, destruídos para aproveitar a pedra para a nova construção.
Entre 284 e 289 d.C. por ordem de Diocleciano Bracara Augusta é promovida a capital da recém criada província de Galécia que integra os três conventos do Noroeste peninsular (Convento bracarense, Convento lucense e Convento asturicense) e parte do convento de Clúnia.[13] Com esta decisão, a cidade sofre uma nova expansão urbana, reestruturam-se e criam-se edifícios públicos, requalificam-se as vias, introduzem-se melhoramentos na cidade. O comércio intensifica-se fortemente e aparecem muitas oficinas de cerâmica, com o poeta Ausónio descrevendo a cidade como próspera[16]. A decretal do Papa S. Sirício em 385 ao bispo de Tarragona, faz uma referência à província eclesiástica da Galécia[17], sugerindo que Bracara Augusta possuía já um bispado. No entanto, só existe confirmação deste cargo no ano de 400 d.C. com a presença de um bispo, S. Paternus (400-405 d.C.), no Primeiro Concílio de Toledo.[13] Com esta elevação a cidade torna-se capital da província eclesiástica e assume a centralidade do Noroeste peninsular.
Os Suevos (povo germânico), sobre pressão dos Hunos, atravessam o rio Reno gelado, na noite de 31 de dezembro de 406, para encontrar refúgio dentro das fronteiras do Império Romano. Em outubro de 409, chegam à Península Ibérica, e em 411 ao convento Bracarense.[18] Embora a chegada fosse pacifica, muito rapidamente entraram em conflito com os seus vizinhos, os Vândalos Asdingos, que ocupavam também parte da Galécia. Em 419 os Suevos do rei Hermerico são atacados e cercados na Batalha dos montes Nervasos pelos Vândalos do rei Gunderico. Astério, conde de Hispânia, com tropas romanas vem ao seu socorro e muitos Vândalos são massacrados em Braga pelo vigário Maurocellus, na sua retirada para a Bética.[19]
Tendo os Visigodos, em nome dos romanos, derrotado os Alanos que ocupavam a Lusitânia pouco tempo antes, os Suevos tomam conta desse território e Bracara Augusta torna-se a capital política do Reino Suevo que englobava a extinta região da Galécia, e se prolongava até ao rio Guadalquivir. Esse curto reino de 174 anos, é no entanto, o primeiro reino medieval do ocidente, o primeiro reino católico e enfim o primeiro reino “bárbaro” a cunhar moeda. De facto, em Bracara foram cunhados síliqua de prata com dum lado a efígie do imperador Honório e do outro uma cruz laureada com as letras “B e R” por Bracara e a inscrição “ivssv richiari reges” por “Por ordem do rei Requiário”[20]. Requiário, que foi convertido ao catolicismo por Balcónio (415-447 d.C.), que foi proeminente fundador de uma escola teológica na cidade[21]. Deste modo Requiário, não só foi o primeiro rei germânico a cunhar moeda em seu nome como também foi o primeiro monarca germânico na Europa a converter-se ao cristianismo calcedônio, anterior à conversão de Clóvis dos Francos.
A presença de Balcónio foi registada quando o clero ibérico recebeu, em Toledo, em 435 d.C., um padre germânico da Arábia Petreia acompanhado de vários gregos com notícias do Concílio de Éfeso (431)[16]. Para além disso, Balcónio foi contemporâneo e correspondente do Papa Leão I[16], sendo eventualmente elevado a primeiro Arcebispo de Braga. Pelo seu papel a cristianizar os suevos foi atribuído à diocese de Braga o título de Primaz das Hespanhas[22]. Outras figuras proeminentes, neste século, do catolicismo bracarense foram o historiador e teólogo Paulo Orósio (que contactou directamente com S. Agostinho e com S. Jerónimo), e os dois Avitos (um peregrino no Oriente, outro peregrino em Roma)[21]. Avito de Braga e Paulo Orósio estiveram ainda envolvidos numa tentativa falhada de elevar ainda mais o estatuto religioso de Braga, tentando trazer relíquias de S. Estevão da Terra Santa até Braga para encorajar peregrinações à cidade[23].
Depois de vários sucessos os Suevos alargam ainda mais o seu território. Os Visigodos sempre aliados e mesmo federados dos romanos são novamente enviados para a Península. Primeiro enviam uma embaixada para pôr os Suevos na ordem, sem resultados, e como resposta a segunda tentativa de diálogo dos Visigodos, Requiário, ataca a região de Tarragona na atual Catalunha. Fartos, os Visigodos atacam também e derrotam os Suevos perto de Astorga (na batalha do Rio Órbigo), muitos deles escapam, e durante a perseguição, os Visigodos atacam e saqueiam Bracara, no domingo 28 de outubro de 456. São feitos muitos prisioneiros “romanos”, as Igrejas são profanadas, mas segundo Idácio, Bracara caiu sem derrame de sangue e violações. Os Visigodos depois de terem capturado e morto Requiário no Porto seguem para a Lusitânia, e deixam o convento bracarense nas mãos de bandos armados de saqueadores[24].
O reino de Galécia é dominado indiretamente pelos Visigodos, os Suevos encontrando-se numa clara posição de vassalagem e dividem-se em dois reinos. Bracara, já não sendo a única capital perde influência, ao invés Lugo e sobretudo Porto ganham importância. Essa decadência acaba em 561, com a ordem do rei Ariamiro, de proceder ao Primeiro Concílio de Braga, entre os anos 561 e 563, onde tiveram presentes entre sete a nove bispos, com a presença confirmada de Lucrécio, bispo de Bracara, e de São Martinho, bispo de Dume[25]. Em 572, no reino de Miro, realiza-se o Segundo Concílio de Braga, presidido por São Martinho, agora já bispo tanto de Dume como de Braga, que seria novamente única capital do reino. Destes concílios resultaram grandes reformas, principalmente no mundo eclesiástico e linguístico, destacando-se a criação do ritual bracarense e a abolição de elementos linguísticos pagãos, como os dias da semana Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies, por Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies, donde derivam os modernos dias em língua portuguesa e galega.
Essa curta fase marca um renascimento dum certo esplendor político e religioso de Bracara, muito influenciado pelo Império Bizantino e deve muito a obra de (re)organização ao bispo São Martinho de Dume. Este bispo fundou um importante mosteiro em Dume ao lado da basílica que teria sido consagrada a São Martinho de Tours, em 550. Em 585, o reino Suevo, acaba, dominado pelo Reino Visigótico, durante 130 anos. Bracara deixa de ser definitivamente capital política de um estado, guardando, no entanto, o seu estatuto de capital eclesiástica.
Curiosamente, parece que os reis suevos nunca viveram em Bracara mas sim nos seus arredores, Teodomiro terá dado o seu nome a freguesia de Mire de Tibães[nota 3][26] e perto do seu palácio São Martinho terá fundado um mosteiro.[27][28] Santa Marta das Cortiças é outro lugar com um palácio real ao lado duma basílica[21], localizada no alto do monte e ao lado dum castro, numa clara posição defensiva. Para além disso, porque os especialistas ainda não têm certeza da datação da Capela de São Pedro de Balsemão, em Lamego, actualmente Braga acolhe a capela mais antiga de Portugal: a Capela de São Frutuoso. A capela foi construída pelos Visigodos no topo de um templo romano dedicado a Asclépio e foi transformada em Capela Real. Em 656 (d.C.), a capela foi consagrada por São Frutuoso para ser usada como seu túmulo [16].
Em 717, os Mouros tomam Bracara,[29] cujo nome árabe era Saquiate (em árabe: ساقية; romaniz.: Sâqiyât).[30] A sede da diocese bracarense é transferida para Lugo com o Arcebispo de Lugo a tornar-se líder em exílio da cidade de Braga até 1070. A resistência cristã recuou de forma mais permanente até ficar confinada numa pequena zona montanhosa das Astúrias. Porém menos de 40 anos depois, no tempo de Afonso I das Astúrias, Braga é de novo em zona cristã. O século X é marcado, após um período de paz, por diversas destruições sangrentas de Almançor, que consegue inverter o avanço da reconquista. Verifica-se uma vasta destruição muçulmana na Galiza, em 997, por Almançor e seu exército, mas não sabemos se passou por Braga.[29] Todavia o cronista árabe Muḥammad Ibn ʿAbd al-Munʿim al-Ḥimyarī fala duma cidade destruída pelos muçulmanos.[31]
A cidade de Braga que nasce no século XI, tem pouco a ver com a antiga e rica Bracara.[nota 4] Depois de D. Fernando I de Leão ter conquistado Coimbra, por decisão real, Braga é restaurada a sede episcopal com a nomeação do bispo D. Pedro de Braga, a 1 de Maio de 1070. A Sé é mandada reconstruir, sobre restos de uma antiga basílica paleocristã, sendo reutilizado vários materiais romanos na sua recuperação. Ainda em 1088, a Condessa Gontrode Nunes[nota 5] ofereceu à igreja, que ainda se ia erguendo, entre diversos bens, alfaias e vasos sagrados, nomeadamente cálices e turíbulos de prata[32]. Sabe-se que a 28 de agosto de 1089, foi sagrada a Catedral de Braga.
Entre 1071 e 1078, D. Paio Guterres da Silva, apelidado de "o Escacha", mandou requalificar o Mosteiro de São Martinho de Tibães, acrescentando às obras de D. Velasquides, em 1060. Este mosteiro seria doado à Sé de Braga em 1077.
A cidade medieval desenvolve-se em torno da Sé fortificada, ocupando só o quarto noroeste da antiga Bracara até a muralha romano do norte[33]. O resto da cidade é aos poucos destruído e transformado em campos e hortas. O que confirma a crónica árabe é que toda a zona Oeste, ocupada com monumentos públicos, fórum, termas, teatro e anfiteatro, é abandonada. Uma muralha circundante é construída à volta da cidade medieval ainda antes do século XIII.[33]
Com a reabilitação da cidade e do arcebispado, a cidade readquire uma enorme importância a nível Ibérico. O arcebispo Diego Gelmírez de Santiago de Compostela, com medo da ascensão da Sé de Braga, rouba as relíquias dos santos bracarenses, incluindo o corpo de S. Frutuoso,[34] na tentativa de diminuir a importância religiosa da cidade. As relíquias só retornaram a Braga no século XX. Tradição oral remete que Gelmírez saiu da cidade de noite numa carroça conduzida por um burro.
Na fundação do segundo Condado Portucalense, Braga foi oferecida como dote, por Afonso VI de Leão e Castela, à sua filha D. Teresa, no seu casamento com D. Henrique de Borgonha. Estes últimos foram senhores da cidade entre 1096 a 1112. Em 1112, doam a cidade aos Arcebispos. Esta doação foi mais tarde reiterada quando D. Afonso Henriques agradece o suporte diplomático do Arcebispo D. Paio Mendes no Vaticano, com o Papa Alexandre III, que levou à promulgação da Bula Manifestis Probatum, em 1179, reconhecendo Portugal como um Reino independente.
Deste modo, o novo rei concedeu grandes privilégios à cidade de Braga entregando-a ao controlo direto da Igreja, tornando-a basicamente num feudo pessoal do Arcebispo.[5] Este particularismo legal dava grande independência à cidade, sendo que, na prática, a cidade pertencia à Sé Primacial mas legalmente a questão se a cidade estava ou não sujeita a correção régia ficou sem resolução até à 1º República. Por exemplo, quando as Ordenações Filipinas aboliram o ofício de Tabeliães Gerais, ficou explicito que havia a exceção de Braga[35] deixando o notariado de Braga sobe o controlo do Arcebispado.
O Arcebispo D. João Peculiar terá cedido ao Grão-Mestre Gualdim Pais uma casa na ermida de S. Marcos (terreno perto de onde o Hospital de São Marcos hoje existe) à Ordem dos Templários, sido dada juntamente com rendas para o sustento da Ordem naquele local[36][37]. Igualmente, D. Gualdim Pais, após o seu regresso a Portugal, trouxe várias relíquias para Braga, incluído uma relíquia de São João Marcos que seria transladada para uma capela naquela ermida e dado o topónimo ao local[38].
Pedro Aurives e a sua mulher D. Elvira Mides, também tiveram um papel proeminente na cidade tendo eles mandado construir um hospital para acolher os pobres (doando, em 19 de junho de 1145, vários bens para a sua sustentação) cuja administração terão entregue à Ordem do Templo. Mais tarde, terão mandado construir uma igreja junto ao Hospital, a Igreja de S. João do Souto, onde o casal terá sido sepultado juntamente com os freires da Igreja[32]. Igualmente, muitas das peças de ourivesaria feitas nesta época, em Braga, seriam da autoria de Pedro Aurives e que, pela sua generosidade para com a Sé Catedral, teria sido isento do pagamento do tributo de uma herdade[36].
Sob o reinado de D. Dinis, a muralha citadina é requalificada, começando a construção da torre de menagem. Mais tarde, foram adicionadas nove torres, de planta quadrangular, à muralha existente, concluindo-se também o Castelo de Braga em torno da torre de menagem existente.
Já no reinado de D. João I foi realizada na cidade uma reunião das Cortes Gerais do Reino, em 1387, onde são instituídas sisas gerais em todo o reino para cobrir as despesas com a guerra contra Castela e explicita a forma de pagamento do imposto. Este monarca foi o último a requalificar a muralha, apesar de ainda haver várias modificações ao longo dos tempos, nomeadamente quando se rasgaram várias novas portas para dentro da cidade culminando com as 7 portas que subsistiram até a muralha ser demolida. D. João I, igualmente mandou construir a primeira Judiaria de Braga, reunindo várias famílias judaicas na Rua do Poço (atual Rua D. Gonçalo Pereira), perto da Sé, com portões de cada lado da rua que fechavam à noite[39]. Face a um crescente sentimento antissemita que se fazia sentir por todo o país (inclusive em Braga onde um Frei Paulo foi mandado parar, por carta régia, de pregar contra os judeus), a comunidade judaica bracarense mudou-se para a Rua das Travessas, que ficou conhecida como a Judiaria Nova e a sinagoga foi mudada para a Casa Grande de Santo António das Travessas, em 1502[nota 6][39].
D. João I voltou ao Minho, em 1400, para consagração da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, bem como para a celebração das Cortes de Janeiro de 1401. No entanto a comitiva ia ainda em Braga quando o seu filho e herdeiro, o Infante Afonso, adoece. Este acaba por falecer, no dia 22 de Dezembro de 1400, e é enterrado num mausoléu na Sé.
Do século XVI ao XVIII, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios de traça medieval vão sendo apagados e substituídos por edifícios de arquitetura religiosa da época.
Entre 1505 e 1532, o Arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa modifica a cidade profundamente, introduzindo-lhe ruas, praças, novos edifícios, provocando-lhe também o crescimento para além do perímetro amuralhado. As suas mudanças no plano urbanístico de Braga ainda marcam a cidade actualmente. Por exemplo, as praças por ele concebidas, inspiradas por aquelas que visitou em Roma, ainda hoje existem juntamente com vários edifícios por ele mandado construir. A frente do Paço Arquiepiscopal, virada para o Largo do Paço no fim da Rua do Souto, foi iniciada durante a sua governação da cidade, expandido o velho palácio medieval de D. Gonçalo Pereira e de D. Fernando da Guerra que tinha sido construído diretamente fora das muralhas romanas de Braga a norte da Sé Catedral (que ainda pode ser visto a partir do Jardim de Santa Bárbara).
No século XVI, uma residência eclesiástica localizada perto da Igreja de S. João do Souto foi comprada por D. João de Coimbra, provisor da Mitra de Braga. Em 1525, com a participação de mestres construtores da região da Biscaia, mandou alterar o edifício e construir uma capela para seu uso que ficou conhecida como a Casa e Capela dos Coimbras. Os construtores desta obra irão habitar uma rua da cidade que, pela sua presença, irá ser rebatizada como a Rua dos Biscaínhos.
Durante o episcopado de D. Manuel de Sousa, foi construída uma capela no Campo dos Touros, em 1516, que foi depois mandada demolir pelo Arcebispo São Bartolomeu dos Mártires. A capela seria reconstruída com D. Rodrigo da Cunha que escolheria como orago Santo António.
Entre 1544 e 1549, foi fundado o primeiro convento feminino de Braga, o Convento da Nossa Senhora dos Remédios, localizado no antigo Campo dos Remédios (atual Largo de Carlos Amarante), pela iniciativa do bispo coadjutor D. Frei André de Torquemada.
A 10 de Abril de 1566, reuniram-se em Braga vários membros da Igreja portuguesa, juntamente com os bispos das cidades de Coimbra, Miranda e Porto, e o procurador do bispo de Viseu, sobre a liderança do Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Esta é a última reunião eclesiástica que pode ser considerada como um Concílio em Braga [nota 7][40]. O objetivo desta reunião seria de impor as reformas do Concílio de Trento no país. Apesar das resistências no conservadorismo e comodismo das estruturas eclesiásticas representadas pelos bispos presentes, com a exceção do bispo de Miranda, o Arcebispo conseguiu reformar as instituições dentro dos parâmetros estabelecidos por Trento publicando vários decretos sobre o assunto[40].
Em 1571, ainda com D. Frei Bartolomeu dos Mártires, foi inaugurado o primeiro seminário da Península Ibérica, que começou a ser construído no lado sul do Campo da Vinha sobre a autoridade do Arcebispado[41]. No mapa de 1594 da cidade de Braga a larga massa do seminário, já batizado de Seminário de S. Pedro, já é visível. A sua fundação, tal como várias medidas por este Arcebispo, foi motivada pelo crescimento de tensões religiosas por toda a Europa, face à Reforma Protestante[41].
D. Luís de Sousa foi outro principal arcebispo que, entre outros méritos, mandou reconstruir a Igreja da Paróquia de São Victor, mandou ampliar o Campo de Santa Ana, reconstruir a Igreja de São Vicente, reedificar a Capela de São Sebastião e, por ultimo, mandou construir a Igreja dos Congregados que seria mais tarde monumentalizada para a versão atual da Basílica dos Congregados. Igualmente, sobre os auspícios deste arcebispo diplomata, o cónego do Cabido de Braga, João Meira Carrilho, mandou construir a Capela da Congregação do Oratório que existia dentro do Campo de Santa Ana[42]. Esta antiga capela seria de particular interesse, não só pela sua planta arquitectónica (seria totalmente circular), mas também por possuir toda uma arcada circundante cujas colunas seriam de origem romana [42].
No século XVIII, Braga por intermédio da inspiração artística de André Soares transforma-se no Ex-Libris do Barroco em Portugal. Nos fins deste século, surge em várias edificações o Neoclássico com Carlos Amarante. Mais uma vez, por intermédio de vários arcebispos, principalmente D. Rodrigo de Moura Teles, os edifícios religiosos são novamente alterados com a introdução do Barroco e o Neoclássico e é iniciada a construção do Santuário do Bom Jesus do Monte, em 1722[43].
Em 1715, D. Rodrigo de Moura Teles expande os chamados Alpendres, que ficavam no início da Rua do Souto[44]. Estes correspondiam a uma área de arcadas adjacentes ao Castelo de Braga que eram polo comercial e social que ligava a cidade aos campos à sua volta que são precursoras diretas da atual Arcada. Junto desta funcionava a Alfândega mandada construir durante o arquiepiscopado de D. Frei Agostinho de Jesus, arcebispo entre 1588 e 1609, para acomodar os mercadores e supervisionar os pesos e medidas utilizados[nota 8][5]. Devido à sua localização, os Alpendres, a Rua do Souto e a Rua Nova de Sousa (atual Rua D. Diogo de Sousa) tornaram-se nas zonas privilegiadas para habitação dos mercadores e, consequentemente, para fixação dos estabelecimentos comerciais na cidade[5], algo que é confirmado no registo das atividades económicas da cidade[45].
As famílias nobres de Braga, responderam a essa mudança deslocando-se das suas moradas na Cividade e estabelecendo-se nos arredores da cidade de Braga [44]. Esta transição resultou na construção de grandes propriedades pelos nobres da cidade nos campos circundantes, que o Palácio dos Biscainhos, construído em 1699 e habitação dos Condes de Bertiandos durante três seculos, se destaca como exemplo máximo[46]. Entre vários exemplos outros também se sobressaem, nomeadamente: no último quartel do séc. XVII, constrói-se o Casal de Ínfias; entre 1754-1755, é construído o Palácio do Raio, por autoria de André Soares; a construção no início do séc. XVIII, do Palacete dos Vilhenas Coutinhos; a construção em 1703, mandada por Francisco de Meira Carrilho, cónego do Cabido de Braga, do Palácio dos Falcões; e, por último, a construção da Casa do Tanque, na primeira metade do século XVII, que serve como atual Paço do Arcebispo de Braga.
Em 1758, Braga, como muitos outros lugares, foi incluída no censo solicitado pela monarquia, sob o 1º Marquês de Pombal. Esses registros são conhecidos como Memórias Paroquiais que podem ser consultadas através de várias fontes[47].
Em 1769, o arcebispo D. Gaspar de Bragança mandou demolir a Capela de Nossa Senhora do Amparo e mudar de local vários cruzeiros de modo a ampliar o Campo da Vinha[48]. Este Arcebispo aumentou e reconstruiu o Palácio do Arcebispo, adicionando uma fachada, por autoria de André Soares, na direção do Campo dos Touros (atual Praça do Município)[49], onde se fazia grandes festas tauromáquicas sobre o patrocínio dos Arcebispos. Quase um século depois, na noite de 15 de Abril de 1866, um incêndio destruiu esta parte do Palácio, juntamente com a livraria de D. Gaspar de Bragança e muito espólio arquivístico[50]. Foi também, durante o governo deste arcebispo que foi destruída a antiga Igreja de S. Pedro de Maximinos, que se tratava de um edifício remontando à época paleocristã, sendo erguida depois uma nova igreja no local.
D. Gaspar também revolucionou a paisagem artística musical de Braga, comprando instrumentos musicais e procurando atrair à cidade bons músicos e cantores, como o cantor italiano da Ópera napolitana António Gallassi[51].
Em 1775, o antigo Paço do Concelho, mandado construir pelo Arcebispo D. Diogo de Sousa e que se localizava junto à Sé, foi demolido face à mudança da sede de município para o edifício que tinha sido construída no Campo de Touros, em 1753, por André Soares.
Ruínas da antiga fortaleza construída no topo do anfiteatro romano ainda existiam no século XVIII (uma descrição deste foi feita no reinado de D. Maria I), na parte sul de Maximinos, mas o tempo cobrou o seu preço e os vestígios acima do solo foram desaparecendo. Atualmente, somente as termas romanas e o teatro romano são sítios arqueológicos, parcialmente abertos ao público.
Nos cem anos que se seguem, irrompem conflitos devidos às invasões francesas e lutas liberais. Em 20 de março de 1809 a cidade é palco da Batalha do Carvalho d'Este e vítima de vários saques realizados pelas tropas napoleónicas. A cidade viria a ser reocupada a 5 de abril pelo general José António Botelho de Sousa, comandante das forças portuguesas no Minho.
Braga foi também palco de vários dramas durante a Guerra Civil Portuguesa, sendo maioritariamente participado do lado dos miguelistas, tal como o caso do Padre Casimiro José Vieira, que proclamaria D. Miguel como Rei de Portugal no alto do Bom Jesus. Em 1834, com o fim das lutas liberais, são expulsas várias ordens religiosas de Braga, deixando o seu espólio para a cidade. Em consequência da Revolta da Maria da Fonte na Póvoa de Lanhoso, área sob jurisdição do quartel militar bracarense, a cidade é palco de importantes confrontos entre o povo e as autoridades. Por sua vez, durante os eventos da Guerra da Patuleia, é de Braga que parte o Conde das Antas para tomar controle do exército português.
No final do século XIX, o centro da cidade deixa a área da Sé de Braga e passa para a Avenida Central.
Por sua vez, em 1836, foi fundado o Liceu Nacional de Braga, a atual Escola Secundária de Sá de Miranda, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino Manuel da Silva Passos, no seu plano de restruturação da Educação em Portugal. Nos seus primeiros anos de funcionamento, o Arcebispo D. Pedro Paulo disponibilizou o edifício do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo para este Liceu. Em 1922, o Liceu mudou para a sua localização final, e atual, no antigo Colégio de Espirito Santo, necessitando de obras de adaptação por autoria de Moura Coutinho.
Em 1875, é inaugurado pelo rei D. Luís a linha e estação dos comboios de Braga, que ligaria o Porto à Galiza. Em 2004, esta linha ferroviária foi modernizada para incluir o uso dos Alfas Pendulares, possibilitando a ligação de Braga a Faro.
O Castelo de Braga, previamente inserido no centro da cidade foi destruído em 1905, apesar das tentativas de o salvar por várias pessoas como o arqueólogo Albano Belino, que tentou mudar a localização do seu museu municipal para o edifício numa tentativa de o proteger. Belino, desgostoso, sofre de um acidente vascular cerebral (AVC), falecendo no ano seguinte acabando por doar o seu espólio ao Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento de Guimarães. O sonho de Albano Belino em formar um museu em Braga foi só concretizado em 1918, com a fundação de um museu diretamente precursor ao Museu de Arqueologia Dom Diogo de Sousa.
O Convento da Nossa Senhora dos Remédios foi demolido a 31 de Outubro de 1907, sendo várias das suas obras de arte, entre elas retábulos, esculturas e fontanários, foram espalhadas pela cidade e pelas suas igrejas. Com a sua demolição, foi aberta uma nova rua (a Rua Gonçalo Sampaio) e no seu espaço construiu-se o Theatro Circo e, eventualmente, o cinema São Geraldo e o centro comercial Santa Cruz. O antigo edifício do Cinema São Geraldo, criado em 1950, está a ser requalificado e, inicialmente daria lugar a um novo centro comercial[52], no entanto o projeto foi revisto e será reconstruído para albergar um Media Arts Centre[53]
Em 1914 é construída a rede de elétricos de Braga. Para abastecer os elétricos foram instalados na Rua da Cruz de Pedra geradores elétricos a vapor. Em dias de grande afluência podia-se registar uma lotação excecional de 200 passageiros em composições de carro-motor e um atrelado, ultrapassando largamente a respetiva capacidade nominal[54]. Após a descontinuação do serviço, em 1963, toda a frota foi desmantelada num sucateiro do Porto, que a havia adquirido a peso à Câmara Municipal de Braga por 111 mil escudos[54]. Subsiste o carro-elevador, musealizado em Coimbra; este foi usado para reparação da rede aérea mesmo após a substituição dos elétricos por tróleicarros[54].
A 11 de Agosto de 1917, foi fundado o Arquivo Distrital de Braga e vários caches arquivísticos foram trazidos para Braga de vários sítios e instituições, principalmente de conventos e igrejas que foram dissolvidos após a Instauração da República.
Em 28 de maio de 1926, o General Gomes da Costa iniciou a sua marcha para Lisboa nesta cidade, dando início à Revolução de 28 de Maio, onde aboliu a Primeira República e implementou o governo ditatorial da Ditadura Nacional de onde se formaria o Estado Novo. No décimo aniversário da Revolução, o ditador António de Oliveira Salazar, visitou a cidade motivando uma grande feira, um desfile e um discurso, que proferiu na varanda da Câmara Municipal[55]. Depois, o ditador voltaria diversas vezes à cidade nesta data, como no 40º aniversário[56].
Em 1949, o terreno onde ficava a capela de Santo António na Praça dos Touros, foi vendida à Câmara Municipal, face aos seus planos de remodelação do plano urbano da cidade e o edifício foi destruído.
Em 1956, o Mercado Velho, localizado dentro da Praça do Município, que era um edifício de estrutura metálica semelhante ao Mercado Ferreira Borges, no Porto, foi também demolido face à abertura de um novo mercado coberto na atual Praça do Comércio de Braga e que ainda hoje existe, tendo sido renovado entre 2020 e 2023. Com a abertura do espaço na Praça do Município, foi trazida a Fonte do Pelicano de estilo maneirista-joanino para o meio desta, em 1967.
Em 1973, foi fundada a Universidade do Minho, com polos em Braga e Guimarães. Em 1976, o Arquivo Distrital foi integrado na então recém criada Universidade. Entre 1988 e 1991, Luís Novais introduziu o famoso traje académico da Universidade do Minho, baseando-se nas descrições dos trajes dos estudantes do Colégio Jesuíta de São Paulo da cidade nas memórias escritas de Ignácio José Peixoto, que fora secretário do Arcebispo de Braga.
Por fim, no final deste século, Braga sofre um grande desenvolvimento e cresce a um ritmo bastante elevado.
Situada no coração do Minho, a cidade de Braga encontra-se numa região de transições de Este para Oeste, entre serras, florestas e leiras aos grandes vales, planícies e campos verdejantes. Terras construídas pela natureza e moldadas pelo Homem.
Físicamente situa-se a 41° 32' N 08° 25' O,[57] no Noroeste da Península Ibérica, precisamente entre o Rio Douro e o Rio Minho. Ocupando 183,51 km², e variando entre 20 a 572 m de altitude, o município é bastante diversificado. O terreno a Norte situado na margem esquerda do Rio Cávado, é semi-plano, graças ao grande vale do Rio Cávado. A parte Este caracteriza-se por montanhas, tais como a Serra do Carvalho (479 m), Serra dos Picos (566 m), Monte do Sameiro (572 m) e o Monte Sta Marta (562 m). Entre a Serra do Carvalho e a Serra dos Picos nasce o Rio Este, formando o vale d'Este, já a Sul da Serra dos Picos desenvolve-se o planalto de Sobreposta-Pedralva. A Sul, como a Oeste o terreno é um misto de montanhas, colinas e médios vales. O centro da cidade situa-se no alto da colina de Cividade (215 m), desenvolvendo-se para o vale do Rio Cávado a Norte e Oeste, e para o vale do Rio Este a Este e Sul.
O território bracarense pertence a duas bacias hidrográficas, a bacia hidrográfica do rio Cávado a Norte e a bacia hidrográfica do rio Ave a Sul. O rio Cávado, de caudal médio, é o elemento hidrográfico predominante a Norte, existindo também diversas ribeiras que desaguam neste. O território a Sul é marcado pelo rio Este e seus diversos afluentes, como o rio Veiga, todos de pequeno caudal. O solo, dado pertencer ao sistema montanhoso do Gerês e a sua proximidade ao Oceano Atlântico, é bastante rico em água.
O município é predominantemente urbano,[58] principalmente em torno da cidade. As áreas rurais que outrora predominavam, hoje, confinam-se aos limites do município. É ainda de salientar que as colinas de maior cota e as montanhas encontram-se cobertas por manchas florestais, apesar da pressão urbana e dos fogos florestais que sucederam nos últimos anos.
O clima em Braga, pelo facto de se situar entre serras e o Oceano Atlântico, é tipicamente atlântico temperado,[59] ou seja, com quatro estações bem definidas. Os Invernos são amenos e pluviosos , e geralmente com ventos moderados de Sudoeste. O vento pode também soprar do Norte, normalmente forte, o que geralmente provoca uma grande descida da temperatura, estes ventos são designados como Nortadas. Em anos frios ocorre a queda de neve, havendo temperaturas mínimas médias de -3 °C. O último nevão na cidade foi em 9 de Janeiro de 2009. As Primaveras são tipicamente amenas, com grandes aberturas e ventos suaves. As brisas matinais ocorrem com maior frequência, principalmente nas maiores altitudes. No vale do Cávado, a baixa altitude, é normal existirem os nevoeiros matinais. De salientar o mês de Maio que é bastante propício às trovoadas, devido ao aquecimento do ar húmido com a chegada do Verão. Os verões são quentes e soalheiros com ventos suaves d'Este. Nos dias mais frescos, podem ocorrer espontaneamente chuvas de curta duração, estas chuvas são bastante importantes para a vegetação da região, pois reabastece os lençóis de água o que torna a região rica em vegetação durante o ano inteiro, pela qual é conhecida por Verde Minho. Os Outonos são amenos e pluviosos, geralmente com ventos moderados. As maior e menor temperaturas registadas em Braga no período 1971-2000 foram 39,4 °C e -4,1 °C. Porém, há registos de -6,3 °C em 2001 e 41,3 °C em 1943 (fonte: Instituto de Meteorologia). Enquanto a temperatura desce, aumenta a pluviosidade. Existe uma maior frequência de nevoeiros, principalmente no vale do Cávado onde ocorrem os nevoeiros matinais mais densos.
Tabela climática de Braga | ||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Temperatura | ||||||||||||||
Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Média | |
Máxima registada °C | 24,0 | 23,5 | 29,5 | 31,0 | 35,5 | 38,5 | 38,5 | 39,5 | 38,5 | 33,5 | 28,5 | 24,1 | ||
Média Máxima °C | 13,7 | 14,8 | 17,6 | 18,3 | 21,1 | 25,4 | 27,8 | 28,0 | 25,5 | 20,9 | 16,8 | 14,4 | 20,4 | |
Média °C | 9,0 | 9,9 | 12,3 | 13,2 | 15,8 | 19,5 | 21,4 | 21,4 | 19,4 | 15,9 | 12,3 | 10,2 | 15,0 | |
Média minima °C | 4,3 | 4,9 | 7,0 | 7,9 | 10,4 | 13,5 | 14,9 | 14,7 | 13,2 | 10,8 | 7,7 | 6,0 | 9,6 | |
Mínima registada °C | -6,4 | -4,5 | -5,0 | -1,2 | -0,5 | 3,3 | 7,5 | 6,7 | 3,8 | 2,5 | -1,7 | -2,5 | ||
Precipitação | ||||||||||||||
Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Total | |
Total mm | 176,4 | 114,8 | 121,6 | 130,8 | 112,9 | 48,6 | 22,0 | 34,0 | 81,7 | 191,7 | 193,9 | 220,2 | 1448,6 | |
Dados referentes entre 1981 até 2010. Fonte: Instituto de Meteorologia, IP Portugal |