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Rede Tupi

extinta rede de televisão comercial brasileira Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Rede Tupi
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A Rede Tupi foi uma rede de televisão comercial brasileira de propriedade dos Diários Associados. Sua matriz e geradora, a TV Tupi de São Paulo, inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista Assis Chateaubriand, foi a primeira estação de televisão do Brasil, seguida pela TV Tupi do Rio de Janeiro, em janeiro de 1951.

Factos rápidos Tipo, País ...

No decorrer dos anos 1950, concomitantemente à implantação de outras emissoras que seriam pioneiras em seus estados, os Associados, com o plano de intercambiar programas entre suas estações, realizaram as primeiras ligações em rede, inicialmente entre São Paulo e Rio, através de links de micro-ondas, que passaram pelo interior paulista e foram ampliadas para cidades como Belo Horizonte e Brasília. As experiências foram um embrião da formação, nos anos 1960, da Rede Brasileira de Televisão Associada, uma das primeiras redes nacionais do país, potencializada pela adoção do uso do videotape por emissoras próprias e afiliadas, o que possibilitou a gravação de atrações e sua distribuição pelo Brasil, em contraponto à programação até então inteiramente ao vivo.

No início dos anos 1970 a Rede de Emissoras Associadas começou a alugar horários no serviço de transmissão via satélite da Embratel para transmitir programas da TV Tupi de São Paulo e do Rio através de um esquema em que cada uma ficou responsável pela geração de segmentos específicos da programação. Em 1974, devido a uma crise que abatia a TV Tupi carioca, a paulistana foi estabelecida como a única geradora da agora identificada como Rede Tupi de Televisão. Até o fim daquela década, dezesseis estações próprias e dezoito afiliadas integraram a rede.

A partir de 1977 uma crise financeira crônica nos Associados acentuou-se e atingiu em cheio a Rede Tupi, que já vinha sendo afetada pela queda de seus índices de audiência, dominada pela Rede Globo, e por dívidas com a Previdência Social em função de atrasos no pagamento de salários, com a situação sendo mais crítica em São Paulo, onde greves de funcionários tornaram-se frequentes. Gradativamente combalida pelos problemas financeiros, a Rede Tupi teve cassadas pelo governo brasileiro as concessões de sete estações próprias, inclusive as de São Paulo e do Rio, em julho de 1980. Os canais peremptos foram distribuídos a novos proprietários e serviram para a formação do SBT e da Rede Manchete.

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História

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Inauguração das primeiras estações

Durante a década de 1940 o jornalista Assis Chateaubriand, presidente dos Diários Associados, maior conglomerado de mídia da América Latina,[1] contratou uma agência de pesquisa dos Estados Unidos para avaliar o estabelecimento da televisão no mercado brasileiro após ser apresentado ao novo veículo em uma visita de negócios à sede da RCA Victor, em Nova York.[2][3] Apesar de haver sido aconselhado a adiar o projeto até que a televisão estivesse consolidada em território norte-americano, Chateaubriand insistiu e encomendou à RCA Victor equipamentos para montar duas estações, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.[2]

Inicialmente a Rádio Tupi do Rio solicitou ao Ministério da Viação e Obras Públicas autorização para operar os dois canais em janeiro de 1948, porém o ministro Clóvis Pestana, com base em um parecer da Comissão Técnica de Rádio, que considerou o capital social da rádio insuficiente, além de a compra dos equipamentos da RCA ainda não haver sido oficializada, liberou a instalação somente da estação do Rio. Os Associados então designaram a Rádio Difusora, de São Paulo, para ficar responsável pela outorga na cidade, concedida em maio de 1949.[4]

Assim, em 18 de setembro de 1950 foi inaugurada a TV Tupi de São Paulo,[a] primeira estação de televisão do Brasil,[6] que teria sua outorga oficializada via decreto no Diário Oficial da União em 7 de março de 1951.[7] Ao fim da tarde, uma cerimônia foi apresentada pelas atrizes Yara Lins e Lia de Aguiar e pelo locutor Homero Silva para diretores, inclusive Chateaubriand, autoridades políticas e religiosas e personalidades do meio artístico.[6] À noite, foi ao ar seu programa inaugural, o TV na Taba. Com direção-geral de Dermival Costa Lima e artística de Cassiano Gabus Mendes, o show contou com performances teatrais e musicais de artistas que posteriormente se consolidariam no meio, como Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Lima Duarte e Wálter Forster.[8]

Já em 20 de janeiro de 1951, sete dias antes da outorga ser oficializada via decreto federal, entrou no ar a TV Tupi do Rio de Janeiro, segunda estação do país. Primeiramente, houve depois das 12h uma solenidade no alto do Morro do Pão de Açúcar, onde estavam instalados os equipamentos transmissores, com a presença de Chateaubriand, do presidente da República Eurico Gaspar Dutra e dos padrinhos da estação, o prefeito Ângelo Mendes de Morais e sua esposa Deborah. A programação regular foi iniciada à noite com números musicais, inclusive de artistas da Rádio Tupi do Rio, show de calouros e um telejornal abordando o lançamento.[9]

Primeiras ligações em rede

Em 1956, após a TV Record de São Paulo tornar-se pioneira em transmissão direta de televisão no Brasil ligando-se temporariamente ao Rio de Janeiro, a direção das duas estações associadas firmaram parceria para estabelecer uma rede de links de micro-ondas com cerca de quinhentos quilômetros de extensão entre as duas cidades com o objetivo de gerar um intercâmbio regular entre seus programas,[10] que vinha sendo realizado com atores e o diretor-geral da TV Tupi paulistana Cassiano Gabus Mendes viajando de ônibus para cada capital a fim de reproduzir o TV de Vanguarda para os públicos de ambas.[11] Para tal, foram instalados postos de retransmissão no Pico do Itapeva, no município paulista de Pindamonhangaba, e no Pico das Agulhas Negras, em Itaipava, no estado fluminense, montados com o auxílio de helicóptero e avião que levavam trabalhadores e máquinas. A maior parte do material foi transportada ao Pico do Itapeva por burros sob desfavoráveis condições climáticas.[10]

As transmissões experimentais da ligação em rede foram iniciadas às 17h de 7 de julho de 1956, com uma saudação do diretor artístico da TV Tupi do Rio Guilherme Figueiredo aos funcionários da estação paulistana, seguida pelo programa Tarde Esportiva Gilette, apresentado por Rui Viotti. Uma nova ligação foi realizada às 21h30 para que São Paulo assistisse ao Encontro Entre Amigos, programa de entrevistas que contava com versões para as duas capitais. A apresentadora da paulista Lia de Aguiar foi ao Rio para participar da transmissão ao lado de Lídia Mattos. Depois, às 22h, telespectadores dos dois municípios assistiram a uma entrevista do ministro da Fazenda José Maria Alkmin ao jornalista Barreto Leite Filho, e ao fim da noite foi levado ao ar o teleteatro cômico Uma Grande Mulher, de Joracy Camargo.[12]

A ligação em rede foi oficialmente inaugurada no dia 11 com geração da TV Tupi paulistana. Às 12h15 os jornalistas Maurício Loureiro Gama e José Carlos de Moraes apresentaram o Edição Extra com o registro de confraternizações com a estação carioca. Ao longo do dia foram levados ao ar um programa de auditório, uma participação do governador de São Paulo Jânio Quadros e a peça Meus 18 Anos, produzida por Walter George Durst e dirigida por Gabus Mendes.[13]

Rede com o interior paulista e outros estados

Em março de 1959 a TV Tupi de São Paulo lançou a Rede de Televisão Associada do Interior, que a ligava com a TV Ribeirão Preto, nova estação do conglomerado de Assis Chateaubriand. Os enlaces eram feitos por transmissores das faixas VHF e UHF com 250 watts de potência. Os primeiros testes foram realizados em julho, e a inauguração ocorreu em fevereiro de 1960 ao custo de cinquenta milhões de cruzeiros. O sinal era ligado entre os dois municípios passando por postos de retransmissão instalados em Campinas, Limeira, Analândia, Santa Rita do Passa Quatro e Cravinhos.[14]

Paralelamente, os Diários Associados planejavam a realização de cobertura nacional via retransmissão terrestre.[15] Na primeira etapa seriam interligadas a TV Itacolomi, de Belo Horizonte — inaugurada pelo conglomerado em 1955 como a primeira emissora do estado de Minas Gerais[16] —, e as estações do Rio e São Paulo em conexão com a rede do interior paulista, formando assim a Rede Brasileira de Televisão Associada.[15] A geração coordenada de programas entre as estações foi iniciada em 3 de abril de 1961, com um sistema de revezamento em que diariamente, entre 12h e 17h30, cada uma gerava sua programação para as demais. Os investimentos para interligar as cidades custaram 3,5 milhões de dólares.[17]

Transmissão nacional da inauguração de Brasília

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Torre da TV Tupi de São Paulo em registro de 1960

Em abril de 1960, com a inauguração da nova capital federal Brasília, os Diários Associados puseram no ar a TV Brasília, cuja outorga havia sido concedida junto a outras duas antes correspondentes ao Rio, antiga capital.[18] A nova estação faria parte da segunda etapa de ligação em rede, que conectaria Brasília às demais cidades.[15]

Antes da inauguração, foram apresentadas duas soluções para que os públicos de fora da capital pudessem assistir às solenidades: acelerar a construção da rede de links de micro-ondas com Belo Horizonte ou estabelecer uma ligação provisória com aviões da RCA Victor. A opção da rede de links chegou a ser colocada em prática, mas um atraso em sua construção devido ao cancelamento do fornecimento de helicópteros pelo governo brasileiro obrigou os Associados a aderirem ao outro plano, porém com aeronaves em solo brasileiro adaptadas pela equipe técnica da TV Tupi de São Paulo para a função — foram cedidos dois aviões CD-3 da VASP, em troca de publicidade, e um idêntico da Força Aérea Brasileira.[18]

Após semanas de ensaios, o serviço de aviões-link foi estabelecido entre os dias 20 e 23 de abril, durante os eventos de inauguração da capital. Todavia, sem tempo suficiente para realizar a conexão com as outras cidades, as aeronaves enviaram à TV Itacolomi, que por sua vez mandou para as outras estações, um sinal com gravações realizadas horas antes pelo sistema de videotape da TV Brasília, o primeiro utilizado no país, com as imagens perenizadas em celuloide. A rede de links de micro-ondas entre Brasília e Belo Horizonte terminou por ser inaugurada às 21h do dia 30 com um show musical nos estúdios da nova estação.[18]

Adoção do videotape

O primeiro equipamento de videotape Quadruplex da TV Tupi de São Paulo foi adquirido em 1959 e começou a ser testado em suas peças de teleteatro em maio de 1960. As operações regulares de VT se iniciaram em 26 de setembro com uma encenação de Hamlet, de William Shakespeare, protagonizada por Dionísio Azevedo, para o programa Grande Teatro Tupi. Com a grande demanda de gravações, um novo equipamento foi comprado pela estação em maio de 1961. A chegada do VT ao Brasil permitiu que a TV Tupi implantasse, em 1962, um setor de gerenciamento e distribuição de fitas de suas principais produções a suas afiliadas e outras emissoras pelo país.[19] Naquele ano a Rede de Emissoras Associadas contava com treze estações geradoras lançadas pelos Diários Associados, como a TV Piratini, de Porto Alegre, a TV Rádio Clube, do Recife, a TV Ceará, de Fortaleza, e a TV Marajoara, de Belém.[20]

Queda nos índices de audiência

Líderes em audiência durante a década de 1950, tanto a TV Tupi de São Paulo como a do Rio de Janeiro começaram a perder a colocação por volta de 1964.[21] Na capital paulista, a TV Record liderava nos horários em que exibia festivais de música popular e a TV Excelsior foi fortalecida com a contratação de artistas por altos salários, alcançando a liderança geral; no Rio, primeiro a TV Rio ultrapassou a associada, e depois a TV Globo foi lançada com aporte milionário do conglomerado norte-americano Time Life[21] — movimentação que foi denunciada pelos Diários Associados por obstruir a proibição de capital estrangeiro em estações nacionais.[22] Posteriormente a TV Globo contratou atores e diretores da TV Tupi, como Boni.[21]

Embora um plano tenha sido elaborado para alavancar a audiência em 1968, a produtividade da rede associada caiu e, consequentemente, prejudicou seus índices, que em torno do início dos anos 1970, apesar de a deixarem na vice-liderança isolada, eram menores que metade dos da Rede Globo, líder absoluta no Brasil.[23][24]

Morte de Assis Chateaubriand e sucessão

Assis Chateaubriand, que ao longo dos anos 1960 foi acometido de uma dupla trombose venosa cerebral que o deixou paralítico e uma doença arterial coronariana, morreu em abril de 1968, aos 75 anos, deixando vago o cargo de presidente dos Diários Associados. O conglomerado era gerido desde setembro de 1959 por um condomínio acionário, um modelo de gestão instituído por Chateaubriand em que ele distribuiu 49% de suas ações e quotas no grupo para 22 condôminos, entre os quais estavam diretores dos veículos, que não poderiam ser repassadas a herdeiros ou sucessores. João Calmon, por eleição prevista nas escrituras do condomínio, foi escolhido presidente, enquanto Edmundo Monteiro assumiu o cargo de vice. Com a morte de Chateaubriand as disputas internas entre os acionistas se acirraram, agravando a crise que assolava os veículos do conglomerado há alguns anos, o que refletiu no declínio das estações de televisão associadas e no atraso da implantação de uma rede nacional.[25]

Programas transmitidos via satélite

Após o Ministério das Comunicações disponibilizar canais de satélite para telecomunicações domésticas através do serviço da Embratel, no início dos anos 1970, os Diários Associados começaram a discutir a geração de alguns programas pelo sistema para todo o Brasil, logo surgindo a dúvida sobre qual de suas duas principais estações — a TV Tupi de São Paulo e a do Rio de Janeiro — ficaria responsável pelo feito. Duas propostas foram analisadas: a primeira visava a estação carioca gerar conteúdo para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, enquanto a paulistana faria o mesmo para o Sul e o Sudeste, com exceção do Rio; a segunda, que venceu, definiu a TV Tupi de São Paulo como a responsável pelas novelas e teleteatros e a do Rio por shows e programas de auditório, com o jornalismo estando a cargo de cada uma localmente.[26]

Com a segunda proposta oficializada, os Associados começaram a alugar horários no satélite da Embratel, que também era usado para transmitir seus sinais a localidades onde a rede não chegava, para realizar a geração nacional. Entre agosto e outubro de 1971 a TV Tupi do Rio começou a gerar seus primeiros programas para as estações associadas, entre os quais estiveram os de Flávio Cavalcanti, J. Silvestre e Cidinha Campos e partidas do Campeonato Nacional de Clubes. O primeiro programa da TV Tupi de São Paulo exibido em rede nacional foi o Clube dos Artistas, a partir de maio de 1972. Com as emissões alugadas, diretores de ambas passaram a chamar o sistema de Rede Tupi, principalmente pelo estabelecimento da Rede Globo, embora não houvesse gerenciamento estratégico de quais programas iriam ao ar nacionalmente.[27]

Primeiras transmissões em cores

Em 1972, nove anos após a TV Tupi de São Paulo exibir programas gravados em cores por cerca de dez meses, as estações de televisão do Brasil se uniram em pool para realizar as primeiras transmissões coloridas definitivas do país. Primeiro, em 19 de fevereiro a TV Difusora, de Porto Alegre, emitiu sob a coordenação do Ministério das Comunicações os eventos de abertura da Festa da Uva, em Caxias do Sul, para 31 emissoras, das quais sete eram dos Associados.[b] Depois, na tarde de 31 de março um novo pool retransmitiu uma programação gerada pela Embratel e formada por um pronunciamento do ministro Hygino Corsetti, coletâneas de filmes e uma celebração do papa Paulo VI no Vaticano.[29]

Para a ocasião a TV Tupi paulistana exibiu para a rede associada o Mais Cor em Sua Vida, programa com performances artísticas apresentado por Wálter Forster e Cidinha Campos sob a direção de Fernando Faro. Gradativamente a estação adotou o sistema de produção colorida em seus programas de auditório em um esquema de rotatividade semanal proposto por Cassiano Gabus Mendes até alcançar, em 1973, o recorde de quinze horas semanais.[30] Àquela altura a TV Tupi carioca havia estreado, no fim de 1972, seu primeiro programa colorido, o Discoteca do Chacrinha, via satélite para todo o Brasil.[31] Todo o horário nobre paulistano, entre 19h e 0h, recebeu produção policromática em outubro de 1974.[30]

Estabelecimento de uma única geradora

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Antigo Cassino da Urca, que sediou a TV Tupi no Rio de Janeiro entre 1955 e 1980

Entre 1973 e 1974 a S/A Rádio Tupi, razão social da TV Tupi do Rio de Janeiro, possuía um déficit de cem milhões de cruzeiros e acumulava sete meses de salários atrasados, o que prejudicava, além da rede de emissoras, a estrutura jurídica das empresas dos Diários Associados, que ao serem consideradas uma só pela Justiça do Trabalho passaram a ter seus pagamentos efetuados pela sociedade anônima. Por iniciativa de Edmundo Monteiro, a produção de programas para a rede no Rio foi encerrada em abril de 1974 para evitar uma piora na situação financeira da estação, passando a responsabilidade para a TV Tupi de São Paulo.[32] Com programas cancelados ou transferidos para a capital paulista, a filial carioca tornou-se uma repetidora com pequeno espaço para o jornalismo local.[33]

As primeiras ideias para a montagem de uma rede de televisão com transmissão nacional simultânea foram esboçadas em 1972, quando Orlando Negrão assumiu a superintendência da TV Tupi paulistana.[34] Com a estação carioca controlada pelos Associados de São Paulo, pôde-se enfim estabelecer este conceito, que seria essencial para a redução de custos de produção. Assim, a geração única de conteúdos foi oficialmente estabelecida no mês de junho, com programação transmitida entre 18h30 e 23h30.[33]

Para atender às demandas como única geradora da rede, a TV Tupi paulistana aumentou a quantidade de estúdios, passou a produzir shows e humorísticos em locais mais amplos, como cinemas e casas de shows, e a dispor da unidade móvel de transmissão do Rio, ficando agora com duas, além de solicitar a doação de equipamentos por outras estações associadas. Em uma prática que vinha sendo adotada desde 1972, inicialmente, devido ao alto custo do aluguel no satélite da Embratel pelo dia e pela noite, apenas programas de auditório e noticiários eram recebidos em outras localidades do Brasil em tempo real, enquanto as demais atrações eram transmitidas de forma restrita pela madrugada, em que as tarifas eram mais baixas, para que as emissoras as gravassem em videotape e exibissem em outros horários.[35]

Posteriormente, em agosto de 1977, algumas atrações da linha de shows, dirigida por Maurício Shermann, foram transferidas para o Rio sob a justificativa de geração de economia por a maioria dos artistas morar na cidade. No entanto, no início de 1978, após Guga de Oliveira assumir a superintendência de programação e produção da Rede Tupi, as atrações, com exceção da de Flávio Cavalcanti, retornaram para São Paulo. Depois, apenas o Programa Carlos Imperial chegou a ser gravado no Rio para a rede, mas a situação deficitária da estação encerrou sua produção.[36]

Crise financeira e greves de funcionários

A situação econômica dos Diários Associados, sobretudo das estações paulistanas, era desfavorável ao menos desde a década de 1950, o que ocasionou descontos indevidos nas remunerações de funcionários nos anos seguintes.[37] Os problemas financeiros crônicos somados a dívidas com a Previdência Social e à queda na audiência começaram a prejudicar a Rede Tupi de forma acentuada a partir de 1977, quando greves na estação paulistana tornaram-se frequentes em função de atrasos nos salários,[38] ocasionados por contratações que fugiam de seu alcance financeiro e, temendo também serem prejudicadas, aplicavam multas de 100% nos valores, fazendo a rede pagá-los em dia e escantear os dos demais colaboradores.[39] Os Associados então iniciaram uma contenção de despesas, causando a redução de publicidade, e passaram a solicitar empréstimos milionários a bancos públicos e privados.[40]

Em 1979, enquanto a Rede Tupi tentava enfrentar a concorrência de forma mais intensa com a contratação de Walter Avancini, recém-saído da Rede Globo, para repaginar sua programação,[41] o Ministério das Comunicações expediu um ofício aos Associados alertando que as outorgas de sete de suas estações, inclusive a da TV Tupi de São Paulo e a do Rio de Janeiro, haviam expirado e não poderiam ser renovadas em virtude da crise que abatia o conglomerado. O ofício, que apontou ainda que o grupo controlava uma quantidade acima do permitido de emissoras pelo Brasil e, também, em alguns municípios, estipulou um prazo de noventa dias para que as pendências fossem sanadas.[42]

Em maio daquele ano foi firmado um acordo de saneamento gradual de salários atrasados dos funcionários da TV Tupi paulistana, porém uma interrupção nos pagamentos em setembro causou a paralisação das atividades, cabendo à filial do Rio gerar a programação nacional com suas matérias jornalísticas e fitas de novelas trazidas de São Paulo através de outro canal de satélite da Embratel, que anistiou temporariamente a rede de uma dívida de treze milhões de cruzeiros. Empréstimos obtidos em caráter emergencial para os abonos de colaboradores viabilizaram o retorno da geradora de São Paulo em outubro.[43]

Em janeiro de 1980, com os funcionários da TV Tupi paulistana novamente paralisando as atividades após o ator Rubens de Falco e o diretor Atílio Riccó iniciarem uma greve de atores por conta da falta de pagamentos, a programação nacional passou novamente a ser gerada pela TV Tupi do Rio, que atrasava salários em menor escala. Em fevereiro, após o governo de São Paulo liberar uma verba de onze milhões de cruzeiros em publicidade, a estação realizou o pagamento de um adiantamento e voltou à ativa, porém sem ser como geradora da Rede Tupi. Os atores, que permaneceram sem trabalhar, foram demitidos, causando o encerramento do departamento de teledramaturgia.[44]

No fim de abril, através de uma ação movida pelo Sindicato dos Radialistas de São Paulo junto à Justiça do Trabalho em virtude de uma nova quebra no acordo de pagamentos, a TV Tupi de São Paulo pagou os colaboradores com cheques que, no entanto, não possuíam fundos para saque, deflagrando uma greve geral que interrompeu a programação da estação na tarde de 2 de maio, enquanto o jornalista Saulo Alves apresentava o programa Isto É São Paulo. Assim, passou a repetir o sinal da filial carioca.[45]

Cassação das concessões

Em 16 de julho, após diferentes alternativas apresentadas ao governo brasileiro para sanar a crise da Rede Tupi terem sido descartadas, o ministro da Comunicação Social Said Farhat anunciou que o presidente João Figueiredo, em acatamento à sugestão de seus ministros, decidiu decretar peremptas as sete concessões que haviam vencido, inclusive as da TV Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, em função dos problemas administrativos e das dívidas acumuladas ao longo dos anos, determinando que Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) realizasse a interrupção de seus sinais. Dirigentes dos Diários Associados consideraram a decisão abusiva por, apesar de as duas geradoras estarem em situações delicadas, estações como a TV Itacolomi e a TV Rádio Clube, incluídas no decreto, serem financeiramente saudáveis.[46]

No dia 18, com o decreto publicado no Diário Oficial da União,[47] as delegacias regionais do Dentel foram ordenadas a lacrar os transmissores da TV Marajoara, TV Itacolomi, TV Rádio Clube, TV Ceará e TV Piratini entre 9h e 12h.[48] As últimas a sofrerem a ação do Dentel foram a TV Tupi de São Paulo — que já se encontrava inoperante desde o dia 14 em virtude da greve geral —, lacrada pouco antes das 12h, e a TV Tupi do Rio, onde funcionários realizaram uma vigília, transmitida em uma edição extraordinária do programa Aqui e Agora, com pedidos para que Figueiredo reconsiderasse a decisão de cassar a outorga.[49]

Após a leitura de um texto dirigido ao presidente enquanto eram veiculadas uma filmagem de uma missa celebrada pelo papa João Paulo II dias antes no Rio e imagens dos funcionários em comoção no auditório do Cassino da Urca, com os dizeres "Até breve, telespectadores amigos - Rede Tupi" sobrepostos na tela, a estação teve sua transmissão interrompida às 12h36, encerrando definitivamente a Rede Tupi.[49]

As filiais que não foram cassadas, como a TV Brasília e a TV Itapoan, de Salvador, e afiliadas até então, em maioria, migraram para a rede da TV Record.[50]

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Destino dos ativos

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Perspectiva

Concessões

O Ministério das Comunicações abriu um edital de licitação pública com as sete concessões pertencentes aos Diários Associados em 23 de julho de 1980, tendo sido incluídos um canal em São Paulo, operado pela TV Excelsior até 1970, e outro no Rio de Janeiro, que transmitiu a TV Continental até 1971 — ambos também haviam sido cassados. As outorgas foram divididas em dois lotes, com cinco e quatro cada, para a formação de novas duas redes, que deveriam, conforme o edital, ressarcir os trabalhadores prejudicados pelo encerramento da Rede Tupi. De um total de oito empresas concorrentes, as duas vencedoras, anunciadas em março de 1981, foram a TV Manchete Ltda., aberta pela Bloch Editores, e o SBT - Sistema Brasileiro de Televisão S/C Ltda., representado por pessoas ligadas aos empresários Paulo Machado de Carvalho e Silvio Santos, proprietários da TV Record.[51]

O SBT foi inaugurado em agosto de 1981, com a assinatura ao vivo da outorga dos canais de São Paulo, Porto Alegre e Belém,[52] enquanto o da antiga TV Continental foi usado para operar uma filial da TV Record a partir de 1982 no nome de Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio, uma vez que ele já detinha a TVS no Rio, que integrou o SBT.[53][54] Por conta de atrasos nas obras de sua estrutura e na aquisição de equipamentos, a Rede Manchete iniciou suas atividades em junho de 1983, pouco antes do fim do prazo de dois anos estabelecido pelo governo, do qual recebeu os canais do Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza junto ao da antiga TV Excelsior.[55] Ambas as novas redes contrataram antigos funcionários da Rede Tupi para comporem seus quadros técnicos e artísticos.[52][56]

Em 1999, após sucessivas crises financeiras, a Rede Manchete foi vendida para o grupo TeleTV e tornou-se RedeTV!.[57]

Estrutura física

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Edifício que sediou a TV Tupi de São Paulo em registro de 2013

Após a cassação, a Justiça Federal passou a administrar a estrutura da TV Tupi de São Paulo para licitações que viabilizassem o ressarcimento de dívidas trabalhistas.[58] Localizada no bairro Sumaré, a estação possuía o Edifício-sede das Emissoras Associadas, inaugurado em 1960 e que abrigava também a Rádio Difusora, a Difusora FM e a Rádio Tupi[59] — todas fechadas entre 1981 e 1984 em função da falência das empresas associadas de São Paulo[60] —, o Centro de Televisão do Sumaré, também chamado de Telecentro, aberto em 1979, e a Torre Assis Chateaubriand, que substituiria a do topo do edifício-sede, ao lado, mas que ainda estava sendo terminada na interrupção das atividades.[61]

O Telecentro e a torre foram arrematados em 1985 pelo leiloeiro Sodré Santoro. O Grupo Silvio Santos, que havia arrendado a torre junto à Justiça Federal e a terminou para que ela transmitisse o sinal do SBT na Grande São Paulo desde 1982,[62] passou a pagar por seu aluguel, porém em 1986 comprou as duas estruturas.[63] No mesmo ano o edifício-sede também foi arrematado, pelo investidor Sarkis Tcharghjian, que o repassou para José Eduardo Santoro, irmão de Sodré, e por fim foi vendido em 1989 ao Grupo Abril,[64] que por lá, renomeado como Edifício Victor Civita, instalou a MTV Brasil, em 1990.[61] Reativados em 1991, os estúdios do antigo Telecentro foram utilizados pelo SBT até a abertura do CDT da Anhanguera, em 1996. Desde então funciona no local a ESPN.[61]

Em 2013, após encerrar a MTV Brasil, o Grupo Abril vendeu o edifício para a Spring Comunicação,[65] e em 2014 a rede de lojas Kalunga entrou no quadro societário,[66] ficando depois com o total das ações.[67] Desde 2025 a Xsports funciona no local,[68] tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, do governo paulista.[69]

A TV Tupi do Rio de Janeiro era localizada desde 1955 na estrutura de dois blocos do antigo Cassino da Urca,[70] que após a cassação permaneceu inutilizado até o início dos anos 2000, quando a prefeitura o desapropriou para instalar o Museu do Rio e o Museu da TV Tupi, que não foram adiante.[71] Entre 2006 e 2021 o espaço foi licitado para o Istituto Europeo di Design, que enfrentou disputas judiciais e ambientais para instalar uma filial em função do plano de reforma e manutenção dos blocos, tendo a cessão por fim sido declarada ilegal.[72] Desde 2021 a Escola Eleva é a concessionária do local.[73]

Acervo

Com fitas de vídeo e filmes do período entre 1959 e 1980 contendo novelas quase na íntegra ou com capítulos isolados, programas diversos, propagandas, noticiários e reportagens,[74] o acervo da TV Tupi de São Paulo foi inicialmente adjudicado para o pagamento de suas dívidas, tendo permanecido no edifício do Sumaré sem cuidados e acumulando sujeira e umidade por cinco anos.[75] As mais de 4,6 mil fitas remanescentes foram doadas em 1987 para o Ministério da Educação e Cultura, que o repassou para a Cinemateca Brasileira, porém a transferência física ocorreu dois anos antes, quando caminhões as levaram para um prédio em Cotia, cidade vizinha da capital, com condições inadequadas para seu armazenamento. A situação mudaria com o deslocamento da entidade para um espaço no bairro Vila Clementino, em São Paulo, em 1997.[75]

Em 1989 a Cinemateca Brasileira firmou uma parceria com a Fundação Padre Anchieta (FPA) para viabilizar a higienização e a conversão para o formato VHS de parte do acervo, que àquela altura havia perdido 1,2 mil fitas por deterioração, e no ano seguinte a Fundação Vitae patrocinou a telecinagem de 27 mil reportagens jornalísticas contidas em duzentas fitas de VHS. Passando a ser convertido para mídias digitais pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo em 2009, o acervo está aberto para consulta pública no portal do Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira,[76] que possui cópias de seu conteúdo juntamente com a FPA.[77]

Encontrado casualmente em processo de deterioração e infestação pelo gerente técnico da Rádio Tupi do Rio de Janeiro José Cláudio Barbedo em 2005 no prédio da estação, o acervo com 536 fitas da TV Tupi carioca foi doado naquele ano para o Arquivo Nacional, que firmou um acordo com a Rede Globo para recuperá-lo e convertê-lo para VHS. Seu conteúdo, também disponível digitalizado para consulta pública, dispõe de reportagens, talk shows, musicais e programas esportivos, todos produzidos entre 1960 e 1980.[77]

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Cobertura

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Perspectiva

Considerando o período entre as primeiras ligações em rede de São Paulo ao Rio de Janeiro, passando pelo interior paulista e outras capitais, e o encerramento da Rede Tupi, 34 estações integraram a rede, sendo dezesseis próprias, implantadas pelos Diários Associados, incluindo as geradoras paulistana e carioca, e dezoito afiliadas.[78] Algumas das próprias deixaram de ser cassadas pelo governo brasileiro por não estarem sob o controle de fato dos Associados, e sim de parentes de condôminos.[50]

Dentre as próprias, três deixaram o conglomerado durante a existência da rede: a TV Ribeirão Preto, lançada em dezembro de 1959 como a primeira emissora interiorana do Brasil,[79] saiu do ar em março de 1963 após sua torre ser derrubada por um temporal, não retornando devido à sua situação deficitária;[80] a TV Coroados, de Londrina, no Paraná, inaugurada em 1963 e com controle acionário pertencente aos jornalistas Adherbal Stresser e Ronald Sanson Stresser desde 1968,[81] foi vendida em 1973 ao ex-governador do estado Paulo Pimentel e deixou a rede em 1976, quando afiliou-se à Rede Globo;[82] e a TV Paraná, de Curitiba, no ar desde 1960, foi comprada pelo empresário Oscar Martinez em 1974 e fechou parceria com a Rede Bandeirantes em 1978.[83] O repasse das estações paranaenses já era uma medida para conter a crise financeira da rede.[84]

No quadro de afiliadas, as últimas a integrarem a Rede Tupi foram a TV Iguaçu e a TV Tibagi, ambas do Paraná, em 1978,[85] e a TV Coligadas, de Blumenau, Santa Catarina, em 1979, que havia deixado a Rede Globo.[86] Permanecendo com programação independente por cerca de um ano após o encerramento da rede, as duas primeiras afiliaram-se ao SBT e a última retornou à Rede Globo.[85][86]

Identidade visual

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Símbolo da Rede Tupi entre 1972 e 1976

Em 1950 o primeiro símbolo da TV Tupi de São Paulo, adaptado da Rádio Tupi, apresentava um indígena com expressão sisuda mirando o horizonte enquanto segurava um arco. No ano seguinte o produtor Mário Fanucchi concebeu a figura de um indígena tupiniquim utilizando um par de antenas como cocar, tendo sido o primeiro mascote da televisão brasileira. Ao longo dos anos 1950 e 1960 as integrantes da Rede de Emissoras Associadas, incluindo a TV Tupi do Rio de Janeiro, viriam a adotar indígenas com características regionais como marcas no vídeo e em anúncios nos jornais. Em 1970 começou a circular em periódicos um logotipo que apresentava o nome TV Tupi acompanhado de São Paulo e Rio, representando a integração entre ambas na formação da rede.[87]

Em 31 de março de 1972, concomitantemente ao início das transmissões de televisão em cores no Brasil, a TV Tupi do Rio lançou nos jornais e revistas dos Diários Associados o edital de um concurso universitário para criar um novo símbolo para a rede. O projeto escolhido consistia em duas linhas entrelaçadas formando uma onda senoidal (em alusão ao movimento dos sinais eletromagnéticos de televisão que se observa em um osciloscópio) e três esferas nas cores vermelha, verde e azul, solicitadas no edital por serem a base da emissão colorida. O desenhista vencedor teria ganhado uma viagem a Paris patrocinada pela Air France para visitar as principais escolas de desenho industrial da França. Sua identidade é desconhecida, porém, segundo Elmo Francfort e Maurício Viel para o livro TV Tupi: do Tamanho do Brasil, fontes afirmam que ele seria Renato Lage, posteriormente conhecido pela produção de carros alegóricos nos desfiles do Carnaval do Rio de Janeiro. Além de desenhista da própria TV Tupi, Lage integrava o Grupo Interuniversirário Musical, criado pela emissora para realizar o Festival Universitário de Música Brasileira, cujos membros, junto a funcionários da estação, compuseram o júri que escolheu a logomarca.[88]

Em 1976 a TV Tupi de São Paulo lançou como novo símbolo um cata-vento verde cujo ponto central representava a geração de conteúdo para as emissoras da rede. Houve, no entanto, muita rejeição e a marca anterior voltou a ser utilizada no ano seguinte com modificações no formato das curvas senoidais. Para a criação de novas vinhetas a rede alugou o sistema de animação computadorizada Scanimate, desenvolvido pela Computer Image Corporation em Denver, nos Estados Unidos.[89]

Em 1979, ao assumir a direção de produção e programação da Rede Tupi, Walter Avancini contratou Cyro Del Nero como diretor de arte e comunicação visual para renovar sua plástica. Minimalista e simplificado, o novo símbolo apresentava uma letra T estilizada e repartida em três partes para manter a base do padrão de cores adotado em 1972. No ano seguinte Del Nero criou uma variante da marca com a T vista dentro de linhas que formavam uma tela de televisão.[90]

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Ver também

Notas

    1. Ao ser inaugurada, a estação era chamada de PRF3-TV Tupi-Difusora.[5]
    2. TV Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, TV Paraná, TV Itacolomi, TV Piratini, TV Itapoan e TV Rádio Clube.[28]

            Leitura adicional

            Ligações externas

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