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Academia Brasileira de Letras

instituição literária brasileira Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Academia Brasileira de Letras
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 Nota: Não confundir com Academia Brasileira de Literatura.

Academia Brasileira de Letras (ABL - Pronúncia) GCSE • MHSE é uma instituição literária brasileira fundada na cidade do Rio de Janeiro em 20 de julho de 1897 pelos escritores Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, Afonso Celso, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Ruy Barbosa.[2] É composta por quarenta membros efetivos e perpétuos (por isso alcunhados imortais)[3] e por vinte sócios estrangeiros.[4]

Factos rápidos Lema, Tipo ...

Tem por objetivo o cultivo da língua portuguesa[5] e da literatura brasileira. É-lhe reconhecido o mérito por esforços históricos em prol da unificação do idioma, do português brasileiro e do português europeu. Nomeadamente, teve um papel importante no Acordo Ortográfico de 1945, conseguido em conjunto com a Academia das Ciências de Lisboa,[6] assim como foi de novo interlocutora quanto ao Acordo Ortográfico de 1990.

A instituição é responsável pela edição de obras de grande valor histórico e literário, e atribui diversos prêmios literários.[6][7] A ABL remonta ao final do século XIX, quando escritores e intelectuais brasileiros desejaram criar uma academia nacional nos moldes da Academia Francesa.[8]

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História

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Fundação

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Lúcio de Mendonça

No final do século XIX, duas figuras importantes defenderam a criação de uma academia literária nacional nos moldes da Academia Francesa: Afonso Celso Júnior, ainda no período do Império, e Medeiros e Albuquerque, já na República. O sucesso da Revista Brasileira, dirigida por José Veríssimo, deu coesão a um grupo de escritores e fortaleceu essa ideia.[9]

Lúcio de Mendonça tomou a iniciativa de propor a fundação de uma Academia de Letras, inicialmente sob o patrocínio do Estado. No entanto, em um último momento, o governo declinou o apoio, levando à criação da Academia Brasileira de Letras como uma instituição privada e independente. As sessões preparatórias começaram em 15 de dezembro de 1896, às três da tarde, na redação da Revista Brasileira, localizada na Travessa do Ouvidor, n.º 31. Já na primeira reunião, Machado de Assis foi aclamado presidente.[9]

Em 28 de janeiro de 1897, ocorreu a sétima e última sessão preparatória, oficializando a criação da Academia. Entre os presentes estavam grandes nomes da literatura brasileira, como Araripe Júnior, Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Raimundo Correia, Teixeira de Melo e o Visconde de Taunay. Outros que participaram das sessões anteriores, como Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães, também aderiram à iniciativa, além de Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte.[9]

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Edifício do Silogeu Brasileiro, sede da academia até sua mudança para a sede atual (Acervo: Instituto Moreira Salles).

Com a presença de trinta membros, surgiu a necessidade de completar o número de quarenta, em conformidade com o modelo da Academia Francesa. Os dez membros adicionais foram eleitos: Aluísio Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domício da Gama, Eduardo Prado, Luís Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça. Os estatutos foram assinados por Machado de Assis como presidente; Joaquim Nabuco, secretário-geral; Rodrigo Otávio, 1.º secretário; Silva Ramos, 2.º secretário; e Inglês de Sousa, tesoureiro. A sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras ocorreu em 20 de julho de 1897, em uma sala do museu Pedagogium, na Rua do Passeio. Dezesseis acadêmicos estiveram presentes. Machado de Assis fez a alocução de abertura, Rodrigo Otávio leu a memória dos atos preparatórios e Joaquim Nabuco proferiu o discurso inaugural.[9]

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Estrutura

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Petit Trianon

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Petit Trianon, sede da ABL no Rio de Janeiro.

Em 1923, graças à iniciativa de seu presidente à época, Afrânio Peixoto, e do então embaixador da França, Raymond Conty, o governo francês doou à Academia o prédio do Pavilhão Francês, edificado para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, erguido pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel, entre 1762 e 1768.[10] Em 22 de Setembro de 1941, a ABL foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal. Em 26 de Novembro de 1987 tornou-se Membro-Honorário da mesma Ordem de Portugal.[11]

Sua sede encontra-se tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, desde 9 de novembro de 1987. Os seus salões funcionam até os dias de hoje abrigando as reuniões regulares, as sessões solenes comemorativas, as sessões de posse dos novos acadêmicos, assim como para o tradicional chá das quintas-feiras. Podem ser conhecidas pelo público em visitas guiadas ou em programas culturais como concertos de música de câmara, lançamento de livros dos membros, ciclos de conferências e peças de teatro.[12]

Prêmios e publicações

A Academia Brasileira de Letras agracia personalidades com os seguintes prêmios:[13]

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Uma edição da Revista Brasileira exposta numa biblioteca municipal.

Pontualmente são atribuídos os seguintes prêmios:

  • Prêmio Abgar Renault (1997);
  • Prêmio José Lins do Rego (1998).

Em 1900 o governo federal do Brasil expediu o decreto n.º 726, de 8 de dezembro de 1900, Conhecido por Lei Eduardo Ramos, que autorizou a instalação da Academia em edificação pública e a publicação, na Imprensa Nacional, das publicações oficiais da Academia e das obras de escritores brasileiros falecidos reconhecidos de grande valor e cuja propriedade intelectual estivesse prescrita.[14] O diploma legal vigorou até 2002, pois por força do decreto Nº 4 260, de 6 de junho de 2002, extinguiu a atividade de impressão plana da Imprensa Nacional.[15]

Em 1910 a instituição lançou seu periódico oficial, a Revista da Academia Brasileira de Letras, posteriormente a instituição encampa a tradicional Revista Brasileira, para resgatar e dar prosseguimento ao periódico, que assim passa — em 1941 — por sugestão de Levi Carneiro,[16] a ser a revista da Casa de Machado de Assis.[17]

A ABL publicou ainda o Dicionário de Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, impresso pela Imprensa Nacional em 1967, e o Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, editado pela Bloch Editores em 1972.

Mausoléu

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Mausoléu da ABL

O Mausoléu da Academia Brasileira de Letras se encontra no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro - RJ. Ele é uma construção retangular de dois andares, na qual estão sepultados alguns membros da ABL. Foi construído entre 1958 e 1961, durante a gestão de Austregésilo de Athayde (1959-1993).[18]

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Membros

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De pé: Rodolfo Amoedo, Artur Azevedo, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, José Veríssimo, Sousa Bandeira, Filinto de Almeida, Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo Bernardelli, Rodrigo Octavio, Peixoto; sentados: João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Silva Ramos.

A Academia tem quarenta cadeiras, ocupadas por quarenta membros efetivos perpétuos (no mínimo vinte e cinco devem morar na cidade que sedia a Academia, o Rio de Janeiro), sendo cada novo membro eleito pelos acadêmicos para ocupar uma cadeira vaga devido ao falecimento do último titular. Há ainda vinte membros estrangeiros correspondentes.[8] No quadro atual, o membro mais idoso é Geraldo Holanda Cavalcanti aos 96 anos, enquanto o mais jovem é Ana Maria Gonçalves, com 55 anos.

O decano dos imortais é José Sarney, eleito em 17 de julho de 1980, e o mais recente a assumir um assento na Academia é Ana Maria Gonçalves, que tomou posse no dia 7 de novembro de 2025.[19]

Dentre os membros, é eleito aquele para presidir a academia por um período. O primeiro presidente da ABL foi Machado de Assis, eleito por aclamação e também seu "presidente perpétuo". Durante quase 34 anos consecutivos, Austregésilo de Athayde presidiu o Silogeu (1959-1993), imprimindo, na sua gestão, um caráter de vitaliciedade ao cargo que fugia aos princípios originais, e que foi abandonado por seus sucessores. O presidente atual é Merval Pereira, para o biênio 2022/2023 e reeleito para o biênio 2024/2025.[20]

A primeira mulher eleita para a ABL foi Rachel de Queiroz, em 1977. O regimento da ABL costumava proibir a eleição de mulheres.[21]

Composição atual

A Academia conta com 40 imortais desde a eleição de Milton Hatoum, em 14 de agosto de 2025.[22] Destes, 34 são homens e seis mulheres e há, entre estes, a posse pendente do próprio Milton Hatoum (cadeira 6). Abaixo a tabela completa dos membros atuais:

Mais informação N.º da cadeira, Patrono ...
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Críticas

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Posse de Getúlio Vargas como membro da Academia Brasileira de Letras, em 29 de dezembro de 1943. Mídia sob a guarda do Arquivo Nacional.

No geral, os críticos da Academia consideram que ela deixou de ser séria, que virou um "agrupamento de escritores conformistas e políticos poderosos e vaidosos",[27] e que o jogo político influencia na escolha dos imortais.[28]

O jornalista Fernando Jorge, em "A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus 'Imortais' mortais", critica a eleição de "personalidades" para a ABL, ou seja, pessoas influentes na sociedade, mas cuja principal ocupação não era a literatura e que, muitas vezes, produziam materiais apenas para que pudessem ser eleitos, nunca mais voltando a produzir qualquer obra de valor literário. O pesquisador também critica o processo eleitoral, pois este não seria feito com base nos méritos literários dos candidatos.[29] Jorge afirma que a Academia também não empreende projetos em favor da cultura da língua portuguesa, apesar de dispor de capital para, por exemplo, relançar edições esgotadas e promover campanhas de alfabetização e incentivo a leitura. Além disso, para o escritor, a instituição permaneceu calada diante das pesadas censuras do Governo Vargas e do Regime Militar brasileiro.[29]

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Ver também

Referências

  1. «Fundação». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 26 de junho de 2017
  2. Fundação; academia.org.br
  3. «Membros». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 12 de dezembro de 2015
  4. Quem somos; academia.org.br
  5. «Quem somos». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 12 de dezembro de 2015
  6. Infopédia. «Academia Brasileira de Letras - Infopédia». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 4 de abril de 2022
  7. «Prêmios». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 12 de dezembro de 2015
  8. «academia, iDicionário Aulete». Consultado em 15 de Março de 2014. Arquivado do original em 15 de Março de 2014
  9. Academia Brasileira de Letras (ed.). «Fundação». Consultado em 19 de outubro de 2024
  10. «Petit Trianon». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 1 de julho de 2012
  11. «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Academia Brasileira de Letras". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 2 de abril de 2016
  12. Academia Brasileira de Letra (ed.). «Petit Trianon». Consultado em 19 de outubro de 2024
  13. «Prêmios». Academia Brasileira de Letras. 15 de janeiro de 2015. Consultado em 21 de agosto de 2025
  14. BRASIL. Decreto no 726, de 8 de dezembro de 1900 Arquivado em 12 de janeiro de 2018, no Wayback Machine.. Autoriza o Governo a dar permanente installação, em prédio público de que possa dispor, à Academia Brazileira de Lettras, fundada na capital da República, e decreta outras providencias. planalto.gov. Acesso em 23 de janeiro de 2017.
  15. DECRETO Nº 4.260, DE 6 DE JUNHO DE 2002. www.planalto.gov.br. Acesso em 23 de janeiro de 2018.
  16. «Revista Brasileira» ABL. Acesso em 25 de dezembro de 2016.
  17. Facioli, Valentim. Um defunto estrambótico: análise e interpretação das Memórias póstumas de Brás Cubas. EdUSP, 2008, p.56. ISBN 8531410835
  18. «40 curiosidades sobre a ABL, fundada por Machado de Assis há 125 anos». BBC News Brasil. Consultado em 14 de julho de 2024
  19. G1, Do; Paulo, em São (2 de dezembro de 2021). «Merval Pereira é eleito novo presidente da ABL». Pop & Arte. Consultado em 28 de agosto de 2023
  20. Conteúdo, Estadão (14 de março de 2019). «10 curiosidades sobre a Academia Brasileira de Letras». Terra. Consultado em 24 de novembro de 2024
  21. «Escritor Milton Hatoum é eleito para a Academia Brasileira de Letras». Agência Brasil. 14 de agosto de 2025. Consultado em 21 de agosto de 2025
  22. «Jornalista Míriam Leitão é eleita para ABL». Academia Brasileira de Letras. 30 de abril de 2025. Consultado em 30 de abril de 2025
  23. «José Roberto de Castro Neves». Academia Brasileira de Letras
  24. «Escritora Ana Maria Gonçalves é eleita para ABL». G1. 10 de julho de 2025. Consultado em 21 de agosto de 2025
  25. Achcar, p. VII.
  26. «O xadrez político dos imortais». revista piauí. Consultado em 8 de abril de 2024
  27. JORGE, Fernando. A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus 'Imortais' mortais. São Paulo: Geração Editorial, 1999.
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Bibliografia

Ligações externas

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