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escritor brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente reconhecido por críticos, estudiosos, escritores e leitores como o maior expoente da literatura brasileira.[2][3][4][5][6] Sua produção literária abrangeu praticamente todos os gêneros, incluindo poesia, romance, crônica, dramaturgia, conto, folhetim, jornalismo e crítica literária.[7][8] Machado de Assis testemunhou a Abolição da Escravatura e a transição política do Brasil, com a proclamação da República em substituição ao Império, além de diversos eventos significativos no final do século XIX e início do século XX, sendo um notável comentador e relator dos acontecimentos político-sociais de sua época.[9]
Machado de Assis | |
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Retrato por Marc Ferrez, 1890 | |
Nome completo | Joaquim Maria Machado de Assis |
Nascimento | 21 de junho de 1839 Rio de Janeiro, MN Império do Brasil |
Morte | 29 de setembro de 1908 (69 anos) Rio de Janeiro, DF Estados Unidos do Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Cônjuge | Carolina Augusta Xavier de Novais (1869–1904) |
Ocupação | escritor, jornalista, contista, cronista, dramaturgo e poeta |
Movimento literário | Romantismo/Realismo |
Magnum opus | Entre os críticos e o público, destacam-se Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. A crítica considera que suas melhores obras são as da Trilogia Realista.[1] |
Assinatura | |
Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade.[10] Para o considerado crítico literário norte-americano Harold Bloom, Machado de Assis é o maior escritor negro de todos os tempos,[11] embora outros estudiosos prefiram especificar que Machado era mestiço,[12] filho de um descendente de negros alforriados e de uma portuguesa da ilha de São Miguel. Seus biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual e da cultura da capital brasileira.[13] Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Machado de Assis pôde assistir, durante sua vida, que abarca o final da primeira metade do século XIX até os anos iniciais do século XX, a enormes mudanças históricas na política, na economia e na sociedade brasileira e também mundial. Em sua maturidade, reunido a intelectuais e colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.[14]
A extensa obra machadiana constitui-se de dez romances, 205 contos,[15] dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas.[16][17] Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).[18][19] Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes à sua segunda fase, em que notam-se traços de crítica social, ironia e até pessimismo, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as do que se passou a chamar de "Trilogia Realista".[1] Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.[20]
Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público para entender o Brasil e o mundo.[21] Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e muitos outros. Ainda em vida, alcançou fama e prestígio pelo Brasil e países vizinhos.[22] Hoje em dia, por sua inovação literária e por sua audácia em temas sociais e precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes,[23][24] de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, influenciados, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante, Shakespeare e Camões.[25] Machado de Assis e Eça de Queiroz são considerados os dois maiores escritores em língua portuguesa do século XIX.[26][27][28] Foi incluído na lista oficial dos Heróis Nacionais do Brasil[29] e é homenageado pelo principal prêmio literário brasileiro, o Prêmio Machado de Assis.
Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, então capital do Império, em pleno Período Regencial.[30][31][32] Seu pai foi Francisco José de Assis, homem mulato pintor de paredes, filho de Francisco de Assis e Inácia Maria Rosa, ambos pardos.[33] A mãe foi a portuguesa Maria Leopoldina Machado da Câmara, branca, filha de Estêvão José Machado e Ana Rosa.[33] Os Machado haviam emigrado para o Brasil em 1815, oriundos da Ilha de São Miguel, no arquipélago português dos Açores.[31][34][35] Ambos os pais de Machado de Assis sabiam ler e escrever, fato incomum na sua época e classe social.[36] Ambos eram agregados de Dona Maria José de Mendonça Barroso Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira,[37] que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.[30][31]
As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Dona Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à rua Nova do Livramento.[38] Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.[30][31] Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845.[39][40] Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela.[41] Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o Padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.[30][31]
Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento: "A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados".[42] A vizinhança, de forte influência católica, frequentava a missa na capela; a casa era "uma espécie de vila ou fazenda",[38] onde Machado passou sua infância.
Ao completar 10 anos, Machado tornou-se órfão de mãe. Mudou-se com seu pai para São Cristóvão, na Rua São Luís de Gonzaga nº 48. Seu pai viria a casar em segundas núpcias, em 18 de junho de 1854, com Maria Inês da Silva,[43] mulata e lavadeira, mulher de grande coração que viria a ser o amparo da sua infância.[44] Maria Inês cuidaria do menino após a morte de Francisco, algum tempo depois.