Paraíba
unidade federativa do Brasil / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A Paraíba é uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada a leste da Região Nordeste. Seu território é dividido em 223 municípios e apresenta uma área de 56 467,242 km², sendo um pouco menor que a Croácia. Banhada a leste pelo Oceano Atlântico, limita-se a norte com o Rio Grande do Norte, a sul com Pernambuco e a oeste com o Ceará. Com quase quatro milhões de habitantes, a Paraíba é o 13º estado mais populoso do Brasil. A capital e município mais populoso é João Pessoa, onde fica a Ponta do Seixas, o ponto extremo leste das Américas.
Antes da colonização portuguesa, a Paraíba foi habitada por várias tribos indígenas. Em 1534, foi subordinada à Capitania de Itamaracá, adquirindo autonomia política em 1574 com a criação da Capitania da Paraíba, anexada a Pernambuco em 1756 e recuperando sua autonomia em 1799, existindo como unidade política separada desde então. No ano de 1930, Getúlio Vargas indicou o presidente do estado (hoje governador), João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, como vice-presidente do Brasil. O assassinato de João Pessoa por João Duarte Dantas foi o estopim para a Revolução de 1930 e o fim da República Velha.
A Paraíba é berço de brasileiros notórios, como Epitácio Pessoa (ex-presidente do Brasil), Pedro Américo (pintor de renome internacional), Assis Chateaubriand (mais conhecido por ter fundado o Museu de Arte de São Paulo e a TV Tupi), Celso Furtado (um dos economistas mais influentes da história latino-americana), além de escritores como Ariano Suassuna, Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida, José Lins do Rêgo, dentre muitos.
A raiz etimológica de maior aceitação é a que considera as palavras de língua tupi pará (rio ou mar) + aíb (ruim) + o sufixo substantivador -a, originando, desse modo, o topônimo Paraíba, atribuído inicialmente ao principal rio da região, e que significa "rio ruim" (no sentido de ruim para navegar).[8]
O geógrafo e governador da capitania da Paraíba Elias Herckmans confirma essa versão em sua obra «Descrição geral da Capitania da Paraíba», de 1639, dizendo que os mais entendidos da língua nativa se referiam à estreita boca do canal que dificultava ao invasor conquistar na primeira expedição e de cara visto que bastavam duas baterias de canhão em cada margem para abater os navios pretendentes, fora já um rochedo que havia e que aparece nos mapas antigos, mas foi dinamitado por razões portuárias nas últimas décadas do século XX. Depois, tal potamônimo passou a designar também a capitania, que se elevou à categoria de província em 1822, sendo, em seguida, transformada em estado em 1889.[9]
Antes do descobrimento do Brasil, o território que hoje corresponde à Paraíba possuía inúmeras tribos indígenas. Entre o litoral e a região do Planalto da Borborema, os principais grupos indígenas eram os potiguaras, que habitavam em especial as margens do rio São Domingos, atual Rio Paraíba. Entre as tribos que habitavam desde a região da Borborema até o sertão estão os índios cariris e os ariús.[10][11]
Colonização e conquista
Em 1534, o rei português D. João III divide a colônia em capitanias hereditárias, sendo a Paraíba subordinada à Capitania de Itamaracá, cujos limites iam desde o rio Guaju, próximo à divisa com o atual estado do Rio Grande do Norte, até o rio Goiana, localizado na divisa com Pernambuco. Porém, diferente da vizinha capitania de Pernambuco, a situação de Itamaracá não era tranquila, devido ao contrabando de madeira, além de peles e âmbares, por piratas franceses.[12][13]
Na capitania se fixaram alguns conventos e igrejas, bem como engenhos de açúcar. Um deles, o engenho Tracunhaém de propriedade de Diogo Dias, foi destruído no ano de 1574 por indígenas potiguaras, que também mataram seus moradores e forçaram os colonos residentes a se fixarem na Ilha de Itamaracá, ocasionando o ataque ao engenho Tracunhaém. A repercussão por parte da corte em Lisboa foi enorme e, para tranquilizar a situação, o rei criou a Capitania Real da Paraíba, subordinada diretamente à Coroa Portuguesa.[12][13] Esse acontecimento foi também o estopim da Guerra dos Potiguaras, que durou 25 anos.
Embora criada em 1574, a capitania da Paraíba só foi ocupada onze anos depois. Luís de Brito foi nomeado para ser o governador-geral da capitania recém-criada e recebeu do rei português a ordem de punir os responsáveis pelo ataque do engenho e fundar uma nova cidade para abrigar a sede do governo, dando origens a cinco expedições com o propósito de conquistar a capitania, sendo as quatro primeiras terminadas em fracasso. Para repelir os invasores franceses, foi construído em 1584 o forte de São Tiago, na margem direita do rio Paraíba.[12][13]
A quinta expedição foi comandada por Martim Leitão, ouvidor-geral de Olinda, contando também com a participação de Frutuoso Barbosa e João Tavares. À época, o litoral paraibano era habitado pelos índios potiguaras, tendo como principais rivais os tabajaras, comandados por Piragibe e originários do médio São Francisco e que, devido a secas que assolavam a região, deslocaram-se para as proximidades do litoral da Paraíba. Os tabajaras se juntaram aos colonos portugueses e, oferecendo-lhes apoio militar, conseguiram expulsar os índios potiguaras, acontecendo assim a conquista da Paraíba e sendo fundada, em 5 de agosto de 1585, a cidade de Nossa Senhora das Neves.[12][13]
Em 10 de janeiro de 1586, tem-se registro a primeira sesmaria da Paraíba, que se localizava próximo à foz do rio homônimo. Na margem direita da foz desse rio, foi construído, no mesmo ano, a Fortaleza de Santa Catarina, para efetivar assim a colonização da Paraíba e garantir o controle das terras.[12]
Invasão holandesa
A primeira aparição dos holandeses em terras paraibanas aconteceu em 20 de junho de 1625.[14] Após expulsão dos holandeses de Salvador a 1.º de maio, no caminho de volta a Amsterdã, o almirante Boudewijn Hendricksz desembarcou seus navios em Baía da Traição para tratar os enfermos[15] e enterrar 700 mortos.[14] Logo que chegou, Hendricksz tratou de fazer aliança com os potiguares, prometendo-lhes proteção em troca de serviços contra os portugueses.[14] Tão cedo soube do aporte dos holandeses, o governador-geral paraibano, Antônio de Albuquerque, enviou tropas para expulsar os invasores. Comandados por Francisco Coelho de Carvalho, com gente da Capitania da Paraíba e da Capitania de Pernambuco, e por Antônio de Albuquerque de Melo, com gente da Capitania do Rio Grande, totalizando sete companhias de emboscadas, e auxiliados por 300 índios, os portugueses repeliram os holandeses em 1.º de agosto.[16] Na batalha sangrenta, os índios potiguares aliados dos holandeses foram exterminados, na morte de 600 a milhares entre homens, mulheres e crianças.[14][16] Derrotado, Hendricksz partiu da Paraíba rumo a Porto Rico.
Em 5 de dezembro de 1632, 1,6 mil batavos chegaram à Paraíba, comandados por Callenfels. Ocorreu um verdadeiro tiroteio e os holandeses ergueram trincheiras em frente ao forte de Santa Catarina, mesmo assim foram derrotados, após a chegada de homens enviados pelo governador-geral à cidade de Nossa Senhora das Neves. Os brasileiros também tentaram construir uma trincheira em frente ao mesmo forte, mas logo enfrentaram resistência holandesa. Sem capacidade de vencer, os invasores se retiraram do local e fugiram para Pernambuco. Os invasores holandeses decidiram ir em direção ao Rio Grande do Norte e atacá-lo, contudo, tal ataque foi impedido. Os invasores voltaram para a Paraíba para atacar o Forte de Santo Antônio, porém desistiram devido à construção de uma trincheira nesse forte, seguindo diretamente para Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco.[17][18]
Em 25 de novembro de 1634, ocorreu uma nova tentativa de ataque com a chegada de uma esquadra de 29 navios à costa paraibana e, no dia 4 de dezembro, os invasores chegaram ao norte do Jaguaribe, onde prenderam o governador (que conseguiu escapar mais tarde) e mais dois brasileiros. No dia seguinte, já em direção a Cabedelo, os batavos foram conseguindo se fortificar. Enquanto várias propriedades eram furtadas por Callabar, Antônio de Albuquerque Maranhão, filho de Jerônimo de Albuquerque Maranhão (que conquistou o Maranhão no início do século XVII) enviou à Paraíba vários combatentes para repelir os holandeses, contando com ajudas de Pernambuco e Rio Grande do Norte. Mesmo com a chegada com conde Bagnuolo para tentar ajudar os paraibanos, estes já se encontravam muito enfraquecidos, razão pelo qual entregaram os fortes de Santa Catarina e Santo Antônio. O conde decidiu abandonar a Paraíba e fugiu para Pernambuco.[17]
As tropas comandadas por Antônio de Albuquerque, contando com apoio da população local, tentaram fundar o Arraial do Engenho Velho. Os holandeses se dirigiram então à cidade de Filipeia de Nossa Senhora das Neves, em busca de Antônio de Albuquerque, que não foi localizado, e encontraram a cidade praticamente abandonada e vazia. Somente algum tempo depois, o comandante e líder das tropas holandesas encontrou Duarte Gomes, que foi preso por Antônio de Albuquerque e mandado em direção ao Arraial do Bom Jesus, sendo posteriormente libertado pelos invasores. A população local ainda possuía o desejo de expulsar todos os holandeses de suas terras. Em duas tentativas, ambas sob a liderança de André Vidal de Negreiros, os paraibanos conseguiram, primeiramente, vencer os invasores, no engenho do Espírito Santo e, em outra tentativa, novos homens foram contratados e treinados para poder repelir os holandeses. Em Timbiri, os paraibanos se reuniram e caminharam em direção ao engenho de Santo André, local em que foram atacados pelas tropas de Paulo Linge. Depois de vários combates e lutas, mais de oitenta paraibanos foram dizimados, incluindo o capitão Francisco Leitão.[17]
Conquista do interior e autonomia
Após o contexto das invasões holandesas, a economia canavieira se viu arrasada. As plantações de cana-de-açúcar no litoral foram incendiadas, fazendo com que a produção do açúcar diminuísse consideravelmente. Nos dez anos seguintes, os governantes da Paraíba não conseguiram recuperar a economia canavieira. Até 1670, a ocupação do espaço paraibano se restringia apenas ao litoral. A partir de então deu-se início à ocupação do interior, em duas direções: uma do litoral ao sertão, comandada pela família Oliveira Ledo, responsável pela fundação de vários povoados, hoje municípios; outra, mais importante, partia do sertão do São Francisco, na Bahia, e prosseguiu na direção norte, chegando ao interior paraibano.[19]
Na conquista do interior houve ainda a participação de bandeirantes, comandados por Domingos Jorge Velho. A colonização interiorana foi marcada ainda por conflitos, como a Guerra dos Bárbaros, entre os colonos e os principais grupos indígenas que habitavam a região, como os caicós, os icós, os janduís e sucurus, bem como pela escravidão e massacres de algumas dessas tribos.[19][20]
A conquista do interior também foi realizada por meio das missões de catequese, que objetivavam, principalmente, a catequização dos índios. Entre os principais missionários, um dos mais importantes é o sacerdote Martim Nantes, fundador da vila de Pilar.[21] Outros nomes que também tiveram importância no projeto de conquista e colonização do interior foram o Luís Soares e Elias Herckmans, este último que, juntamente com Manuel Rodrigues, estabeleceu-se na região em busca de minas de ouro, principalmente na Serra da Borborema, além de Francisco Dias D’Ávila, fundador da Casa da Torre.[22]
Em 1º de janeiro de 1756, a capitania da Paraíba foi extinta e anexada a Pernambuco, tornando-se novamente independente em 11 de janeiro de 1799.[23] Em 1818, a porção norte do território paraibano foi desmembrada, através de Carta Régia, e formou o território que viria a ser o atual estado do Rio Grande do Norte.[24]
Movimentos liberais e império
Ao longo de sua história, a Paraíba participou de várias revoltas. No período colonial, destaca-se a Revolução Pernambucana de 1817, que surgiu baseada na independência dos Estados Unidos e nos ideais da Revolução Francesa, com o objetivo de tornar o Brasil um país independente. De Pernambuco, a revolução se espalhou por todo o Nordeste. Na Paraíba, o movimento entrou por Itabaiana e seguiu em direção a Areia, estendendo-se por diversas outras localidades do agreste, sertão e litoral. Participaram Amaro Gomes Coutinho, Francisco José da Silveira, José Peregrino, Padre Antônio Pereira, Inácio de Albuquerque Maranhão, entre outros revoltosos. O desfecho do movimento não obteve êxito, contudo a luta pela independência prosseguiu. Os cinco anos seguintes (1818-1822) foram marcados por acirramentos entre duas facções rivais, os cajás, revolucionários, também chamados de patriotas, e os carambolas (realistas), contrarrevolucionários.[25]
Em 1822, o Brasil se torna independente de Portugal e a Paraíba se torna uma província do império brasileiro e D. Pedro I é proclamado imperador do país. Dois anos depois, a Paraíba se envolve na Confederação do Equador, que teve início em Pernambuco e representou a principal reação contra a tendência monarquista e a política centralizadora de D. Pedro I esboçada na primeira constituição brasileira, outorgada em março de 1824. Seu principal líder foi o frei Joaquim do Amor Divino Caneca, apelidado de Frei Caneca, que de Recife se deslocou a Itabaiana e se juntou ao areiense Félix Antônio. De lá, percorreram partes da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, em defesa dos seus ideais federalistas e nacionalistas. Do Ceará, foram mandados para Recife para serem fuzilados, mas apenas Frei Caneca acabou morto pelas tropas imperiais, enquanto Félix Antônio conseguiu fugir.[25]
Entre o final de 1848 e 1849, ocorreu, sem sucesso, a Revolta Praieira, cujo palco foi novamente Pernambuco. Durou cerca de cinco meses, tendo seus ideais inspirados pelas revoluções ocorridas em 1848 na Europa. A Revolta Praieira chegou à Paraíba em fevereiro de 1849, liderada por Maximiano Machado e Borges da Fonseca, e reivindicava várias reformas sociais e econômicas, como a divisão latifundiária, a instalação de um regime democrático e a liberdade de imprensa.[25] Três anos depois, em 1851, a Paraíba, juntamente com suas províncias vizinhas, envolveu-se em mais uma revolta, intitulada Ronco da Abelha, que objetivava controlar os trabalhadores livres, na época da diminuição do tráfico de escravos. Entre os meses de outubro e dezembro de 1874, participou da Revolta do Quebra-Quilos, ocorrida após a substituição do sistema de pesos e medidas vigente no país; a revolta na Paraíba teve como principal palco localidades do agreste e foi caracterizada por diversos atos de violência, ao mesmo tempo em que era desencadeada a questão religiosa. A Paraíba participou ainda da Guerra do Paraguai, com um efetivo de três mil homens.[26]
Em 1860 a Paraíba tinha uma população de aproximadamente 212 mil habitantes e sofria com sérios problemas de saúde pública e epidemias de doenças, como cólera e febre amarela, sendo uma das principais causas o precário abastecimento de água. Em 1877, a província é atingida por uma grande seca, a mais grave da história, acentuando a pobreza e provocando consequentemente uma migração populacional do interior para o litoral.[26]
República
Em novembro de 1889, após a queda do regime monárquico e a consequente instituição da república no Brasil, a Paraíba, assim como as outras províncias, transforma-se em estado da federação. Venâncio Neiva foi o primeiro presidente (hoje governador) do estado, entre 1889 e 1891, quando foi deposto, assumindo em seu lugar um triunvirato, que governou até a nomeação, pelo presidente Floriano Peixoto, de Álvaro Machado, do Partido Social Nacionalista (PSN), para o governo estadual.[27][28] Este partido governou a Paraíba até 1908, quando venceu as eleições daquele ano o Partido Republicano Conservador (PRC), que esteve à frente do executivo paraibano até o fim da República Velha, em 1930.
Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a economia da Paraíba entrou em crise, principalmente devido à queda nas exportações do algodão, um dos principais produtos agrícolas do estado.[27][29] Na eleição presidencial de abril de 1919, vence o candidato Epitácio Pessoa, que naquele momento se encontrava na França, chefiando a delegação do Brasil na Conferência da Paz de Paris. Retornando ao Brasil, foi empossado na Presidência em 28 de julho de 1919, estando à frente do Executivo federal até 15 de novembro de 1922. Foi durante seu governo que o Brasil comemorou seu primeiro centenário de independência.[30][31]
Entre os dias 5 e 12 de fevereiro de 1926, a Coluna Prestes, comandada por Luís Carlos Prestes, Miguel Costa e Juarez Távora, adentra o território da Paraíba, percorrendo cidades do sertão, dentre elas Piancó onde, no dia 9 de fevereiro, o grupo enfrentou resistência da população, sob a liderança do padre Aristides Ferreira da Cruz, chefe político local e morto durante os confrontos, tornando-se um dos Mártires de Piancó.[33][34] Nessa mesma época, o estado também teve destaque no cangaço, tendo Antônio Silvino, Chico Pereira e Virgulino Ferreira da Silva (o Lampião) como líderes de bandos que atuaram em Piancó e nas localidades de Cajazeiras, Guarabira e Sousa.[35]
Em 1928, assume a governo da Paraíba o sobrinho do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Em seu governo, grupos de cangaceiros que atuavam no interior do estado foram perseguidos e as oligarquias foram combatidas, fato que gerou descontentamento aos coronéis latifundiários locais, sendo o principal deles José Pereira Lima, líder político na região do atual município de Princesa Isabel. Com a invasão da Vila do Teixeira pela polícia paraibana e a iminente invasão a Princesa Isabel, o coronel José Pereira estabeleceu o Território de Princesa, proclamando sua independência da Paraíba. O novo território, subordinado diretamente ao governo federal, foi estabelecido em 28 de fevereiro de 1930.[36] No dia seguinte, ocorreria a eleição nacional para a Presidência da República, que tinha João Pessoa como candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, com o apoio da Aliança Liberal, criada pela Paraíba junto com Minas Gerais e Rio Grande do Sul no ano anterior. A chapa, porém, foi derrotada por Júlio Prestes e Vital Soares.[37]
Em 26 de julho de 1930, em uma confeitaria de Recife, João Pessoa é assassinado por João Duarte Dantas, assumindo, em seu lugar Álvaro Pereira de Carvalho. A morte de João Pessoa, um dos estopins da Revolução de 1930, gerou grande comoção nacional[29][38][39][40] e provocou o enfraquecimento do movimento armado no Território de Princesa, que voltou a fazer parte da Paraíba em 11 de agosto de 1930,[36] quatro dias após o corpo do ex-presidente João Pessoa ser sepultado na cidade do Rio de Janeiro. Em 4 de setembro seguinte, a capital estadual passou a se chamar João Pessoa e, três semanas depois, é adotada a atual bandeira da Paraíba.[41][42] Já em 3 de outubro, eclode um movimento revolucionário que culminaria na ascensão de Vargas ao poder, com a instituição de um governo provisório. A partir deste período até a promulgação da Constituição de 1946, o estado foi governado por dez interventores federais, sendo o primeiro Antenor de França Navarro (1930-1932) e o último José Gomes da Silva (1946-1947).[43] Somente em janeiro de 1947, a Paraíba volta a realizar eleições diretas para governador, saindo vitorioso o candidato Osvaldo Trigueiro (1947-1951).[44]
A Paraíba teve participação, já na década de 1960, do golpe militar de 1964, que depôs João Goulart, o Jango, do poder, quando o estado era governado por Pedro Gondim, aliado de Jango. Com a instalação de uma ditadura militar, diversos opositores foram presos, exilados, torturados ou mortos, sendo anistiados somente no final da década de 1970, com o processo de abertura política. Pedro Gondim teve seu mandato cassado e direitos políticos suspensos por dez anos,[45] assumindo no lugar João Agripino Filho (1966-1971), que foi sucedido por Ernâni Sátiro (1971-1975), Ivan Bichara (1975-1979) e Tarcísio Burity (1979-1983), todos eleitos indiretamente, sendo os dois primeiros pela Assembleia Legislativa e o último através de um colégio eleitoral, sucedido pelo vice-governador Clóvis Cavalcanti em 1982 e 1983, ano em que ocorreu a eleição de Wilson Braga, de forma direta.[43]
Burity voltou ao governo da Paraíba entre 1987 e 1991, sendo sucedido por Ronaldo Cunha Lima.[43] Seu vice, Cícero Lucena, assumiu em 1994 com a renúncia do titular para se candidatar ao Senado.[46] Nas eleições daquele ano, foi eleito o candidato Antônio Mariz, empossado em janeiro de 1995. No entanto, seu governo durou por pouco mais de oito meses, pois faleceu no exercício do seu mandato, vítima de uma parada cardiorrespiratória, assumindo em seu lugar o vice José Maranhão.[47][48] Em 1997, o corpo do ex-presidente João Pessoa é transferido do Rio de Janeiro para a capital paraibana, sendo sepultado em um mausoléu construído pelo governo estadual entre o Palácio da Redenção e a Faculdade de Direito da Paraíba.[49] Maranhão foi reeleito em 1999 com votação bastante expressiva, superior a 80%, e governou até 2002, quando saiu para se candidatar ao Senado, obtendo êxito.[50] Seu vice de chapa, Roberto Paulino, concluiu o mandato, sem conseguir se reeleger.[51]
Cássio Cunha Lima, filho de Ronaldo Cunha Lima, foi empossado em 2003 e reeleito em 2006 para um segundo mandato[52][53] que, no entanto, foi interrompido em 2009, após ter sua cassação confirmada em definitivo pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assim, o segundo colocado nas eleições de 2006, José Maranhão, foi reconduzido ao governo da Paraíba.[54] Em 2010, o ex-prefeito de João Pessoa Ricardo Coutinho vence Maranhão e se torna governador do estado em 2011, reelegendo-se em 2014 em segundo turno, contra o ex-governador Cássio Cunha Lima.[55] Entre 2012 e 2017, a Paraíba enfrentaria a maior seca de sua história recente, que colocou mais de 90% dos municípios paraibanos em situação de emergência e provocou impactos tanto na agropecuária quanto no abastecimento de água,[56] levando algumas cidades ao colapso hídrico.[57] Em 2017, após anos em obras, o eixo leste da transposição do Rio São Francisco chega à Paraíba, pelo município de Monteiro.[58] Em 2018, João Azevêdo é eleito em primeiro turno,[59] obtendo sua reeleição no segundo turno das eleições estaduais de 2022.[60]
A Paraíba está localizada a leste da Região Nordeste do Brasil, fazendo divisa com os estados do Rio Grande do Norte (norte), de Pernambuco (sul) e do Ceará (a oeste) e o Oceano Atlântico (a leste).[61] A distância linear entre seus pontos extremos é de 263 quilômetros no sentido norte-sul e de 443 quilômetros no sentido leste-oeste.[62] O ponto mais a leste da Paraíba, a Ponta do Seixas, em João Pessoa, é também o ponto mais oriental do Brasil e da América.[61] Sua área territorial é de 56 467,242 km²,[1] sendo um dos menores estados do país.
Relevo e solos
O relevo da Paraíba varia desde planícies no litoral a depressões no sertão. No litoral há a planície litorânea e, no restante da zona da mata, os tabuleiros, formados a partir de acúmulos de terras que descem de localidades mais altas. No agreste, o relevo é formado por depressões situadas entre os tabuleiros e o Planalto da Borborema, com altitudes entre trezentos e oitocentos metros. Por último, no sertão, há a Depressão Sertaneja, a partir da Serra da Viração.[62]
Mais da metade do território paraibano é dominado por rochas muito antigas e resistentes formadas durante o período Pré-Cambriano, há mais de 2,5 bilhões de anos.[63] Desse período também se formaram alguns sítios arqueológicos do estado, como a Pedra do Ingá. Na Serra do Teixeira está localizado o Pico do Jabre, o ponto culminante da Paraíba com uma altitude de 1 208 metros acima do nível do mar.[64] Outros pontos acima dos 1 000 m são as serras da Paula (1 147 m), Tabaquino (1 120 m), Pesa (1 084 m) e Cariris Velho (1 070 m).[62]
Existem dezesseis classes de solo na Paraíba, sendo as principais os solos litólicos e os bruno não cálcicos, que constituem 39,11% e 25,95% da superfície estadual, respectivamente, seguido pelos solos podzólicos vermelho amarelo eutróficos (14,36%).[65] Na nova classificação os solos litólicos são chamados de neossolos e os demais os luvissolos.[66] As demais classes são: regossolo (4,77%), solonetz solodizado (3,98%), vertissolo (3,39%), solos aluviais (3,38%), areia quatzosa (1,17%), planossolo (0,86%); cambissolo (0,84%), latossolo (0,6%), terra roxa estruturada (0,54%), podzol hidromórfico (0,49%), solo indiscriminado de mangue (0,26%), afloramento de rocha (0,26%) e gleissolo (0,04%).[65]
Hidrografia
No Brasil, a Paraíba encontra-se inserida na região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental.[67] Em se tratando apenas das bacias hidrográficas do estado, a Paraíba é abrangida por um conjunto de onze bacias, sendo a maior de todas a do rio Piranhas, que cobre 26 047,99 km² de área e é formada pelas sub-bacias hidrográficas do rio Piancó (9 424,75 km²), do Médio Piranhas (4 461,48 km²), do rio Seridó (3 442,36 km²), do rio do Peixe (3 420,84 km²), do rio Espinharas (2 981,60 km²) e do Alto Piranhas (2 588,45 km²). A segunda maior bacia é a do Rio Paraíba, com uma área de 20 071,83 km² e formada pelas sub-bacias do Alto Paraíba (6 717,39 km²), do Rio Taperoá (5 666,38 km²), do Baixo Paraíba (3 925,40 km²) e do Médio Paraíba (3 760,65 km²). As demais bacias hidrográficas da Paraíba são as dos rios Mamanguape (3 522,69 km²), Curimataú (3 313,58 km²), Jacu (977,31 km²), Camaratuba (637,16 km²), Gramame (589,38 km²), Abiaí (585,51 km²), Miriri (436,19 km²), Guaju (152,62 km²) e Trairi (16,08 km²).[62]
Alguns rios da Paraíba nascem em serras do Planalto da Borborema e deságuam no litoral do estado, sendo o principal o Rio Paraíba, que nasce na Serra de Jabitacá, no município de Monteiro, percorrendo cerca de 360 quilômetros até desaguar no mar, destacando-se também os rios Curimataú e Mamanguape. Outros têm sua nascente no sertão e sua foz no litoral do Rio Grande do Norte; o principal é o rio Piranhas, o mais importante do sertão paraibano, que tem como principais afluentes os rios do Peixe, Piancó e o Espinharas, tendo sua nascente na Serra do Bongá, próximo à divisa da Paraíba com o Ceará, e deságua em Macau, no litoral norte-riograndense, sendo aproveitável para a irrigação em parte do seu curso.[63]
Os dois maiores reservatórios da Paraíba são Coremas (744 144 694 m³) e Mãe-d'Água (545 017 499 m³), ambos em Coremas e formadores do Açude Coremas–Mãe d'Água. Outros reservatórios, com capacidade igual ou superior a 50 000 000 m³ são: Epitácio Bessoa, em Boqueirão (466 525 964 m³); Engenheiro Ávidos, em Cajazeiras e São José de Piranhas (293 617 376 m³), Argemiro de Figueiredo ou Acauã, em Itatuba (253 000 000 m³); Saco, em Nova Olinda (97 488 089 m³); Lagoa do Arroz, em Cajazeiras e Bom Jesus (80 388 537 m³); Cachoeira dos Cegos, em Catingueira (71 887 047 m³); Jenipapeiro ou Buiú, em Olho d'Água (70 757 250 m³); Cordeiro, em Congo (69 965 945 m³); Araçagi, no município homônimo (63 289 037 m³); Gramame-Mamuaba, em Conde (56 937 000 m³) e Capoeira, em Santa Terezinha (53 450 000 m³).[68]
Clima
Com quase 98% do seu território está incluído no Polígono das Secas,[69][70] a maior parte da Paraíba apresenta clima semiárido, com índices pluviométricos variando de 300 mm nas regiões do Cariri/Curimataú (região central) a 900 mm no oeste do estado, chegando a ultrapassar esse valor em pequenas áreas. As chuvas se concentram meses do primeiro semestre, com pico em março e abril, sendo que, em alguns anos, há uma redução nos volumes pluviométricos, caracterizando as secas.[71]
Por outro lado, no litoral e no agreste, a época mais chuvosa compreende os meses de abril a julho, com índices que superam 1 200 mm/ano no litoral, chegando a 1 900 mm em algumas áreas. No agreste, área de transição entre o litoral e o sertão, esse índice é superior aos 700 mm, chegando a 1 200 mm na região do brejo.[71] Em todo o estado, o trimestre de outubro a dezembro, parte da época mais seca do ano, é o mais quente, enquanto o trimestre de junho a agosto é o mais frio.[71] Nessa época, é comum que cidades das regiões agreste, brejo e Cariri, situadas no Planalto da Borborema, cheguem a registrar temperaturas abaixo de 20 °C ou até mesmo 15 °C ou menos.[72]
Areia, no brejo, é a cidade mais fria do estado, enquanto Patos, no sertão, é a mais quente.[74] Em Monteiro, no Cariri, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) registrou uma mínima de 7,7 °C no dia 28 de julho de 1976, sendo este o recorde absoluto de menor temperatura no estado.[75]
Biodiversidade e áreas protegidas
A vegetação da Paraíba muda dependendo da região do estado. No litoral, predominam os tabuleiros, com manguezais e espécies da Mata Atlântica, enquanto no sertão, especialmente após a formação do Planalto da Borborema, predomina a caatinga, típica do clima semiárido. Na flora, algumas das espécies mais encontradas são a baraúna, o batiputá, a mangabeira, o mandacaru, a peroba, a sucupira e xique-xique.[63][69] Em virtude da remoção da cobertura vegetal ou da caça, de uma lista de 46 espécies ameaçadas de extinção na Paraíba, conforme estudo da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA), cerca de 25 têm (ou tinham) seu habitat na zona da mata.[76]
Em 2010, a Paraíba possuía 37 unidades de conservação, sendo dezesseis estaduais, sete delas federais e administradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), são: Área de Preservação Permanente Mata do Buraquinho (em João Pessoa), a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (Mamanguape), a Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo (em Cabedelo), Reserva Ecológica Guaribas (Mamanguape), a Reserva Extrativista Acaú–Goiana (nos municípios paraibanos de Caaporã e Pitimbu, além de Goiana, em Pernambuco), a Terra Indígena Jacaré de São Domingos (Baía da Traição) e a Terra Indígena Potiguara (nos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto). Além destas, existem nove reservas particulares do patrimônio natural (RPPN), dos quais sete sob jurisdição federal e duas sob jurisdição estadual; sete federais e cinco municipais.[62]