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2.º e último imperador do Brasil (r. 1831–89) Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Pedro II (nome completo: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga; Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891), cognominado "o Magnânimo",[1][2] foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo imperado no país durante um período de 58 anos. Foi filho mais novo do imperador Pedro I do Brasil e da imperatriz consorte Maria Leopoldina da Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. Nascido no Palácio Imperial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A abrupta abdicação do pai e sua partida para Portugal, tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos. Obrigado a passar a maior parte do seu tempo estudando em preparação para reinar, conheceu poucos momentos de alegria e amigos de sua idade. Suas experiências com intrigas palacianas e disputas políticas durante este período tiveram grande impacto na formação de seu caráter. O imperador Pedro II tornou-se um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu povo. Por outro lado, ressentiu-se cada vez mais de seu papel como monarca.
Teve a maioridade decretada para assumir o governo e evitar a desintegração do Império, tendo deixado ao sucessor republicano um país caracterizado como potência emergente na arena internacional. A nação distinguiu-se de seus vizinhos hispano-americanos devido à sua estabilidade política e especialmente por sua forma de governo: uma funcional monarquia parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai) sob seu império, assim como prevaleceu em outras disputas internacionais e tensões domésticas. Um erudito, o imperador estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, da cultura e das ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Pedro II não permitiu nenhuma medida contra sua remoção e não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia por meio de uma guerra. O imperador deposto passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo só. Algumas décadas após sua morte, sua reputação foi restaurada e seus restos mortais foram trazidos de volta ao Brasil em meio a amplas celebrações.
Pedro nasceu às 02h30 da manhã do dia 2 de dezembro de 1825 no Palácio de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.[3][4][5] Batizado em homenagem a São Pedro de Alcântara,[6][7] seu nome completo era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga.[1][8][9][7]
Seu pai, o imperador Pedro I, foi o fundador do ramo brasileiro da Casa de Bragança e seu nome era precedido pelo honorífico "Dom" ("Senhor" ou "Lorde") desde o nascimento.[10] Era neto do rei português João VI e sobrinho de Miguel I.[11][12] Sua mãe era a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, filha de Francisco II, último Imperador do Sacro Império Romano-Germânico e primeiro imperador do Império Austríaco. Por sua mãe, Pedro era sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo dos imperadores Francisco José I da Áustria e Maximiliano do México.[12][13][14]
Único filho legítimo do sexo masculino de Pedro I a sobreviver à infância, foi oficialmente reconhecido como herdeiro do trono brasileiro com o título de Príncipe Imperial a 6 de agosto de 1826.[8][15] A imperatriz consorte Leopoldina morreu a 11 de dezembro de 1826, poucos dias após dar à luz um menino natimorto,[16] quando Pedro tinha um ano de idade.[14] Pedro não guardou recordações de sua mãe, a não ser pelo que depois lhe foi contado.[17][18] A influência e lembrança de seu pai também apagou-se com o tempo, e não guardou fortes imagens de Pedro I, mas apenas poucas e vagas lembranças.[19]
Dois anos e meio após a morte de Leopoldina, o imperador casou-se com Amélia de Leuchtenberg. O príncipe Pedro passou pouco tempo com sua madrasta; no entanto, criaram um relacionamento afetuoso[20][21][22] e mantiveram contato até a morte dela em 1873.[23] O imperador Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831, após um longo conflito com a facção liberal (que por sua vez iria mais tarde dividir-se nos dois partidos dominantes na monarquia, o Partido Conservador e o Partido Liberal) dominante no parlamento. Ele e D.Amélia partiram imediatamente para a Europa, onde o agora novamente príncipe Pedro iria lutar para restaurar sua filha Maria II, cujo trono em Portugal fora usurpado por seu irmão Miguel I.[24][25] Deixado para trás, o príncipe imperial. Pedro tornou-se pelas leis sucessórias, imediatamente "Dom Pedro II. Por graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".[5] Seguindo assim a velha tradição portuguesa de "Rei morto, Rei posto."
Ao deixar o país, o imperador Pedro I selecionou três pessoas para cuidarem de seu filho e das filhas remanescentes. A primeira foi José Bonifácio de Andrada, seu amigo e líder influente da independência brasileira, nomeado tutor.[26][27] A segunda foi Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (depois Condessa de Belmonte), que detinha o cargo de aia desde o nascimento de Pedro II.[28] Quando bebê, Pedro II a chamava de "dadama", pois não pronunciava corretamente a palavra "dama".[15] Considerava-a sua mãe de criação, e continuaria a chamá-la, por afeto, de "dadama" mesmo já adulto.[3][29] A terceira pessoa escolhida foi Rafael, um veterano negro da Guerra da Cisplatina.[28][30] Rafael era um empregado do paço em quem Pedro I tinha profunda confiança e a quem pediu que olhasse por seu filho — pedido que Rafael levaria a termo pelo resto de sua vida.[8][30]
José Bonifácio foi destituído de sua posição em dezembro de 1833 e substituído por outro tutor.[31][32][33] Pedro II passava os dias estudando,[34] com apenas duas horas livres para recreação.[35] Acordava às 06h30 da manhã e começava seus estudos às sete, continuando até as dez da noite, quando ia para cama.[36] Tomou-se grande cuidado em sua educação para formar valores e personalidade diferente da impulsividade e irresponsabilidade demonstradas por seu pai.[31][37] Sua paixão pela leitura lhe permitiu assimilar qualquer informação.[38] Pedro II não era um gênio,[39] mas inteligente[40] e com grande capacidade para acumular conhecimento facilmente.[41]
O imperador teve uma infância solitária e infeliz.[8][42] A perda súbita de seus pais o assombraria por toda a vida;[43] ele teve poucos amigos de sua idade[28][36][44] e o contato com suas irmãs era limitado.[31][34][44] O ambiente em que foi criado o tornou tímido e carente,[45][46] enxergando nos livros refúgio e fuga do mundo real.[47][48]
A elevação de Pedro II ao trono imperial em 1831 levou a um período de crises, o mais conturbado da história do Brasil.[49] Uma regência foi criada para governar em seu lugar até que atingisse a maioridade.[24] Disputas entre facções políticas resultaram em diversas rebeliões e levaram a uma situação instável, quase anárquica, sob os regentes.[50]
A possibilidade de diminuir a idade em que o jovem imperador seria considerado maior de idade, ao invés de esperar até que completasse 18 anos de idade em 2 de dezembro de 1843, era levada em consideração desde 1835.[51][52][53] A ideia era apoiada, de certa forma, pelos dois principais partidos políticos.[52][54] Acreditava-se que aqueles que o auxiliassem a tomar as rédeas do poder estariam em posição para manipular o jovem inexperiente.[55] Aqueles políticos que haviam surgido na década de 1830 haviam se tornado familiares aos perigos de governar. De acordo com o historiador Roderick J. Barman, "eles haviam perdido toda a fé em sua habilidade para governar o país por si só. Eles aceitaram Pedro II como uma figura de autoridade cuja presença era indispensável a sobrevivência do país".[56] O povo brasileiro também apoiava a diminuição da maioridade, e consideravam Pedro II "o símbolo vivo da união da pátria"; esta posição "deu a ele, aos olhos do público, uma autoridade maior do que a de qualquer regente".[57]
Aqueles que defendiam a imediata declaração de maioridade de Pedro II passaram uma moção requisitando ao imperador que assumisse poderes plenos.[58] Uma delegação foi enviada a São Cristóvão para perguntar se Pedro II aceitaria ou rejeitaria a declaração antecipada de sua maioridade.[58][59][60] Ele respondeu timidamente que "sim" quando perguntado se desejaria que a maioridade fosse diminuída, e "já" quando indagado se desejaria que viesse a ter efeito naquele momento ou preferiria esperar até o seu aniversário em dezembro.[61][62] No dia seguinte, em 23 de julho de 1840, a Assembleia Geral (o parlamento imperial brasileiro) declarou formalmente Pedro II maior aos 14 anos de idade.[63][64] Lá, à tarde, o jovem imperador prestou o juramento de ascensão.[65][66] Foi aclamado, coroado e consagrado em 18 de julho de 1841.[67][68]
O fim da regência facciosa estabilizou o governo. Com um legítimo monarca no trono, a autoridade foi revestida numa única e clara voz.[69] Pedro II percebia o seu papel como o de um árbitro, mantendo seus conceitos pessoais de lado para não afetarem o seu dever de desemaranhar disputas políticas partidárias.[69] O jovem monarca era dedicado, realizando inspeções diárias pessoais e visitas a repartições públicas. Seus súditos eram impressionados com a sua aparente autoconfiança,[69] apesar de que sua timidez e falta de desenvoltura eram vistas como defeitos. Seu jeito reservado de falar apenas uma ou duas palavras a cada vez tornavam conversações diretas extremamente difíceis.[70] Sua natureza taciturna era, possivelmente, manifestação de uma prevenção quanto a relações próximas que tinha origem nas experiências de abandono, intriga e traição que vivenciou na infância.[71]
Por trás das cenas, um grupo de servos palacianos de alto nível e notáveis políticos tornou-se conhecido como "Facção Áulica" (e também "Clube da Joana") por estabelecerem influência sobre o jovem imperador—e algum eram de fato próximos, como Mariana de Verna.[72] Pedro II foi usado com maestria pelos áulicos para eliminar seus inimigos (reais ou imaginários) através da remoção de seus rivais. Acesso à pessoa do monarca por políticos rivais e as informações que este recebia eram cuidadosamente controladas. Uma rodada contínua de negócios de governos, estudos, eventos e aparições pessoais, utilizadas como distrações, mantiveram o imperador ocupado, isolando-o efetivamente e impedindo-o de perceber a extensão do quanto estava sendo explorado.[73]
Preocupados com a taciturnidade e imaturidade do imperador, os áulicos acreditavam que um casamento poderia melhorar o seu comportamento e sua personalidade.[74] O governo do Reino das Duas Sicílias ofereceu a mão da princesa Teresa Cristina.[75][76][77] Um retrato foi enviado e este revelava uma jovem e bela mulher, o que levou Pedro II a aceitar a proposta.[78][79] Eles foram casados por procuração em Nápoles em 30 de maio de 1843,[80][81][82] data informada por estudiosos, apesar de haver registros de ter ocorrido em 20 de maio de 1842, em medalha comemorativa. A nova imperatriz consorte do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de setembro.[83][84] Ao vê-la pessoalmente o imperador aparentou estar claramente decepcionado.[85][86][87] A pintura que havia recebido era claramente uma idealização; a Teresa Cristina real era baixa, um pouco acima do peso, coxa e apesar de não ser feia, também não era bonita.[85][86][88] Ele fez pouco para esconder sua desilusão. Um observador afirmou que ele deu as costas a Teresa Cristina, outro disse que ele estava tão chocado que precisou sentar, e é possível que ambos tenham ocorrido.[85] Naquela noite Pedro II chorou e reclamou para Mariana de Verna, "Eles me enganaram, Dadama!".[85][87][89] Foram necessárias horas para convencê-lo de que o dever exigia que ele seguisse em frente com o matrimônio.[85][87][89] Uma celebração nupcial, com a ratificação dos votos tomados por procuração e o conferimento de uma benção nupcial, ocorreu no dia seguinte, 4 de setembro.[90][91][92]
Por volta de 1846 Pedro II já havia amadurecido fisicamente e mentalmente. Ele não era mais o jovem inseguro de 14 anos de idade que se permitia levar por boatos, sugestões de complôs secretos, e outras táticas manipuladoras.[93] Ele cresceu um homem, que com 1,93 m de altura,[94][95] olhos azuis e cabelos loiros,[60][85][94] era descrito como belo.[38][85][96] Com seu crescimento, suas fraquezas desapareceram e suas qualidades de caráter vieram à tona. Ele aprendeu não só a ser imparcial e dedicado, mas também cortês, paciente e sensato. À medida que ele começou a exercer por completo sua autoridade, suas novas habilidades sociais e dedicação ao governo contribuíram grandemente para a eficiência de sua imagem pública.[93] O historiador Roderick J. Barman o descreveu: "Ele mantinha suas emoções sob disciplina férrea. Ele nunca era rude e nunca perdia a cabeça. Ele era excepcionalmente discreto com as palavras e cauteloso na forma de agir".[97]
No fim de 1845 e no início de 1846 o imperador realizou uma viagem pelas províncias mais ao sul do Brasil, passando por São Paulo (do qual o atual Paraná então fazia parte), Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele ficou surpreso pela recepção entusiástica e calorosa que recebeu em todas as províncias.[98] Este sucesso o encorajou, pela primeira vez na vida, a agir de forma confiante por iniciativa e juízos próprios.[99] Mais importante, este período viu o fim da Facção Áulica. Pedro II eliminou com sucesso toda e qualquer influência que os áulicos detinham ao removê-los de seu círculo íntimo ao mesmo tempo em que evitava uma perturbação pública.[100]
Pedro II enfrentou três graves crises entre 1848 e 1852.[97] O primeiro teste veio como a confrontação ao tráfico ilegal de escravos provenientes do continente africano. Este havia sido legalmente extinto como parte de um tratado com a Grã-Bretanha.[101] O tráfico permaneceu inalterado, no entanto, e o parlamento britânico promulgou o Bill Aberdeen em 1845, autorizando navios de guerra britânicos abordarem navios de carga brasileiros e apreender os que estivessem envolvidos no tráfico. Enquanto o Brasil se encontrava preso a este problema, a Revolta Praieira eclodiu em 6 de novembro de 1848. Se tratou de um conflito entre facções políticas locais na província de Pernambuco, que foi suprimida em março de 1849. A lei Eusébio de Queirós foi promulgada em 4 de setembro de 1850, provendo ao governo brasileiro autoridade ampla para combater o tráfico ilegal de escravos. Com esta nova ferramenta, o Brasil passou a eliminar a importação de escravos. Por volta de 1852 esta primeira crise estava eliminada, com a Grã-Bretanha reconhecendo que o tráfico havia sido suprimido.[102]
A terceira crise envolveu um conflito com a Confederação Argentina relacionado a ascendência sobre os territórios ao redor do Rio da Prata e da livre navegação de seus afluentes.